Coluna
Coluna do João Baptista Peixoto Neto

Novas práticas para administração de FIDCs chegam no momento certo

05 jun 2025, 18:30 - atualizado em 05 jun 2025, 18:30
real brasil orçamento
O crescimento dos instrumentos lastreados em direitos creditórios também reflete a busca dos investidores (Imagem: iStock/Rmcarvalho)

À medida que um segmento de investimento amadurece e se expande, torna-se inevitável a adoção de práticas mais robustas para assegurar a integridade das operações.

É exatamente esse o cenário vivido pelos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) que, em abril deste ano, passaram a contar com um Guia Técnico de Melhores Práticas para a Metodologia de Provisão de Devedores Duvidosos (PDD) publicado pela ANBIMA..

Para contextualizar, a PDD é um instrumento contábil utilizado por empresas e instituições financeiras com o objetivo de provisionar perdas decorrentes de uma provável inadimplência.

Em termos práticos, trata-se de um lançamento contábil destinado a apontar as prováveis perdas pelo não pagamento de créditos a receber.

Embora seja um procedimento antigo e obrigatório, tanto para as instituições financeiras (Res.2682 do Bacen) como para fundos —, o recém-lançado guia da ANBIMA, voltado especificamente para FIDCs trouxe uma série de recomendações, baseadas nas melhores práticas de mercado, que visam fortalecer a gestão de riscos e o provisionamento nesses fundos.

Os principais tópicos abordados no guia foram os seguintes: necessidade de estabelecimento de critérios objetivos para a classificação de risco dos ativos, construção de réguas de atraso baseadas em dados históricos, reavaliação periódica da metodologia de PDD, o tratamento do chamado “efeito vagão” (que estende o provisionamento a outros créditos do mesmo devedor), além do monitoramento rigoroso de operações como recompras, substituições e renegociações, sempre considerando a existência de garantias.

Dada a complexidade e profundidade do conteúdo, não é possível detalhar aqui cada diretriz apresentada.

No entanto, é preciso destacar que este é um documento fundamental, especialmente em um momento de evidente expansão desse mercado.

De janeiro de 2024 a março de 2025, o número de investidores em FIDCs cresceu expressivos 234,41%, alcançando 168.757 investidores.

Trata-se, portanto, de um instrumento que surge no tempo certo, oferecendo diretrizes claras para elevar a transparência, aprimorar os processos de monitoramento e assegurar uma precificação mais justa e consistente — aspectos essenciais para proteger o investidor e sustentar a confiança no segmento.

O guia é especialmente relevante por reforçar a necessidade de constante reprecificação dos ativos, com base em eventos que possam alterar o seu valor ou a expectativa de recebimento.

Como o mercado é dinâmico por natureza, é imperativo que gestores atualizem suas carteiras com agilidade, refletindo as condições reais dos ativos e mantendo a acurácia das projeções.

É verdade que os melhores administradores e gestores de FIDCs já vinham adotando as práticas recomendadas.

Ainda assim, o guia estabelece um novo padrão de exigência, servindo como sinal claro de que os principais agentes do mercado estão atentos às transformações do setor e cientes da responsabilidade coletiva na proteção dos investidores — aqueles que, com seus recursos, impulsionam a economia e merecem um retorno cercado de solidez e segurança.

Não podemos perder de vista uma mudança estrutural que se desenha no horizonte: até 2039, os bancos devem representar apenas 32% das operações de crédito no Brasil, com os mercados de capitais assumindo 68% desse volume.

Nesse contexto, os FIDCs estarão no centro da cena. A evolução contínua das práticas de governança e gestão será decisiva para garantir sua relevância, competitividade e sustentabilidade.

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Fundador e Diretor Presidente da Ouro Preto Investimentos
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cursou mestrado em Direito Internacional na USP e é especialista em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA/FEA/USP. Nos anos de 2006 a 2019 esteve entre os primeiros colocados na categoria de estruturação de fundos de recebíveis no Brasil FIDC’s pelo ranking da empresa UQBAR, tendo sido responsável pela estruturação de mais de 300 (trezentos) fundos. Faz parte dos Comitês da Anbima de FII e FIDC.
joao.neto@moneytimes.com.br
Linkedin Site
Graduado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, cursou mestrado em Direito Internacional na USP e é especialista em produtos financeiros e gestão de riscos pela FIA/FEA/USP. Nos anos de 2006 a 2019 esteve entre os primeiros colocados na categoria de estruturação de fundos de recebíveis no Brasil FIDC’s pelo ranking da empresa UQBAR, tendo sido responsável pela estruturação de mais de 300 (trezentos) fundos. Faz parte dos Comitês da Anbima de FII e FIDC.
Linkedin Site
As melhores ideias de investimento

Receba gratuitamente as recomendações da equipe de análise do BTG Pactual — toda semana, com curadoria do Money Picks

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar