Coluna do Vicente Guimarães

O aumento da taxa de juros nos EUA e o fim das distorções

09 nov 2022, 17:35 - atualizado em 09 nov 2022, 17:36
dólar
“Uma hora a festa acaba. E o dono da casa terá que limpar a piscina, recolher as latinhas e copos usados”, escreve o colunista

O aumento da taxa de juros é uma ação utilizada para controlar ciclos inflacionários. Desde 2020 a inflação nos EUA vinha incomodando economistas e especialistas de mercado.

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Em 2022 a inflação atingiu níveis considerados insustentáveis e perigosos pelas autoridades monetárias americanas do FED (o Banco Central Americano e atingiu o maior nível dos últimos 40 anos.

Desde então, o Federal Reserve se mostra realmente comprometido em reduzir a inflação. Economistas do FED continuam insistindo que irão manter o ritmo de aumento para controlar a inflação, independente dos impactos na economia e no mercado de capitais.

Com isso, a taxa de juros tem aumentado consistentemente nos últimos meses nos EUA. Em novembro o FED elevou a taxa de juros dos EUA pela quarta vez consecutiva.

Os juros norte-americanos encontram-se em um intervalo de 3,75% a 4% ao ano. Após esses aumentos, a taxa de juros atingiu seu maior nível desde janeiro de 2008 (ano que em ocorreu a crise do Subprime).

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Especialistas ainda esperam mais aumentos, estimando a taxa de juros de 5% a 6% no final de 2023.
Movimentos semelhantes, de aumento dos juros, ocorreram em 1999-2000 criando as bases para a “Crise da Internet” e em 2007-2008 culminando com a “Crise do Subprime”.

Essas foram as crises mais recentes geradas pelo aumento dos juros. Mas o leitor mais curioso poderá constatar que o movimento de reversão e aumento dos juros foi um estopim para muitas crises anteriores nos EUA.

Para entender a relação entre crises e juros é importante entender como a taxa de juros afeta a demanda e a oferta em uma economia. E as distorções na demanda e oferta é que geram inflação e crises.

Do lado da oferta vamos destacar o consumo das famílias. As pessoas têm uma renda determinada (gerada por seu trabalho).

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Em um mundo hipotético onde não existisse o crédito, as pessoas, portanto, consumiriam apenas a sua renda. O crédito possibilita que as pessoas “antecipem” o consumo de um bem ou serviço e que gastem mais do que a renda que ganham. Mas isso obviamente tem um “custo”. O custo dessa antecipação é a taxa de juros.
Se a taxa de juros for muito alta, não existe um incentivo para antecipar o consumo.

O custo seria muito alto. Tecnicamente falando a taxa de juros alta reduz “a propensão ao consumo”. Com juros altos, pode-se até esperar que as pessoas não gastem toda sua renda. Muitos vão consumir menos e investir o dinheiro aproveitando as altas taxas de juros.

Se a taxa for baixa, as pessoas vão se sentir mais motivadas a consumir. Afinal, por que esperar 10 anos para comprar um carro, se eu posso antecipar essa compra com um custo muito baixo? Quando menor a taxa de juros maior a propensão ao consumo.

Obviamente existe uma taxa de juros que equilibra oferta e demanda de crédito, em termos técnicos, é uma taxa ótima de juros que equilibra oferta e demanda de dinheiro.

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E se tivermos uma taxa de juros real negativa? Isso ocorre quando a taxa de juros é menor do que a inflação. Imagine que a Taxa de Juros é de 4% e a inflação é de 8%. A taxa de juros real é de -4%.

Obviamente que uma taxa de juros negativa é uma aberração monetária. Isso só ocorre com a interferência ativa do Estado através do Banco Central. Esse cenário foi o que vimos durante quase duas décadas nos EUA.

A taxa de juros negativa cria várias distorções na economia. Uma das mais bizarras é a seguinte: antecipar o consumo se torna mais vantajoso do que não antecipar. Ou seja, se eu financio uma casa por 100 mil, vou pagar menos em termos reais (porque a taxa de juros é negativa).

Assim, o financiamento de 100 mil vai me custar 90 mil em termos reais. É como se você tivesse uma máquina de dinheiro em casa. Isso leva a uma explosão de demanda! Em qualquer país normal isso geraria um processo hiperinflacionário rapidamente.

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Mas a economia dos EUA funciona de forma diferente.

Acontece que a economia americana é tão grande, moderna e diversificada que esse excesso de demanda é mais facilmente absorvido por uma “explosão de oferta”.

As taxas de juros negativas da economia também incentivam o crescimento das empresas. As empresas investem mais, expandem suas operações, criam produtos, abrem novas fábricas, contratam mais empregados etc.

Pior ainda: o excesso de oferta de dinheiro com juros negativo gera fenômenos ainda mais bizarros como as “empresas zumbis”.

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São empresas que não geram lucro. E pior ainda, elas não se preocupam com isso… O foco não é gerar lucro, é “crescer”.

Geralmente são empresas ligadas à tecnologia, aplicativos, fintechs e que tem como principal estratégia o aumento do número de usuários, seguidores, consumidores. Os prejuízos “fazem parte do show” e são “bancados” por capital à juros negativos ou pela venda de ações em IPO´s na Bolsa de Valores.

Muitas destas empresas valem dezenas de bilhões de dólares, mas nunca deram lucro. Dentre elas podemos citar Snap (US$ 94,3 bilhões), Airbnb (US$ 93 bilhões), Spotify (US$ 45,9 bilhões), Pinterest (US$ 44,2 bilhões) e Nubank (US$ 30 bilhões).

Entretanto, uma hora a festa acaba. E o dono da casa terá que limpar a piscina, recolher as latinhas e copos usados, limpar as manchas no tapete e sofá e limpar os banheiros… É mais ou menos isso que está acontecendo nos EUA. O FED está gritando “a festa acabou” e já desligou a música.

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Mas os convidados ainda estão dentro de casa, muito embriagados pela farra do dinheiro fácil.

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CEO da VG Research
Vicente Guimarães é Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 20 anos de experiência no mercado corporativo e financeiro. Em 2018, lançou seu canal no YouTube que atualmente possui mais de 220 mil inscritos. O sucesso do seu conteúdo inspirou a criação da VG Research, casa de análise que já orientou mais de 20 mil clientes.
vicente.guimaraes@moneytimes.com.br
Vicente Guimarães é Doutor em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 20 anos de experiência no mercado corporativo e financeiro. Em 2018, lançou seu canal no YouTube que atualmente possui mais de 220 mil inscritos. O sucesso do seu conteúdo inspirou a criação da VG Research, casa de análise que já orientou mais de 20 mil clientes.