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O ‘berço’ da SLC Agrícola (SLCE3), o algodão do Brasil e os efeitos do tarifaço de Trump

17 jul 2025, 12:15 - atualizado em 17 jul 2025, 15:28
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Com foco em algodão, a Fazenda Pamplona impulsiona resultados da SLC Agrícola e mostra força da produção sustentável no Brasil. (Foto: Abrapa)

A história da SLC Agricola (SLCE3) se confunde com a Fazenda Pamplona, primeira propriedade da companhia adquirida no Cerrado brasileiro, em 1980. 

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Segundo Renan Rolim, gerente da fazenda, a propriedade — focada na produção de algodão, milho, soja e trigo — se diferencia justamente pela sua localização: ela está numa região diferenciada em termos de altitude, sendo a única região com 1.000 metros de altitude no Planalto Central, o que proporciona noites mais frias — condição ideal para culturas como algodão, milho e soja.

“Além da altitude, o solo mais argiloso e o clima mais estável são outros diferenciais. Fora isso, temos irrigação e um sistema de rotação diversificado, que dá mais resiliência ao solo”, disse, ao Money Times, durante a Cotton Trip 2025

Outro destaque da Pamplona é a área de pesquisa com 180 hectares — a maior área destinada a isso dentre todas as demais unidades da companhia. 

“Não diria que essa é a principal fazenda do grupo, mas está entre as mais relevantes, junto de outras fazendas importante do grupo, citando algumas como exemplo, como é o caso da Paiaguás, Planeste, Paysandu, Palmares e Planorte. A Pamplona é o berço de aprendizagem do negócio agrícola, gerando grande conhecimento e know-how para as demais unidades, destaca Rolim

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Renan Rolim, gerente da Fazenda Pamplona (Foto: Divulgação/SLC Agrícola)

O algodão para SLC Agrícola e os desafios de 24/25

Embora ocupe apenas 24% da área plantada na safra 2024/2025, o algodão respondeu por 57% da receita e 60% do Ebitda ajustado da SLC em 2024.

Na primeira safra do ciclo 24/25, a Fazenda Pamplona destinou 12.035 hectares à soja e 7.832 hectares ao algodão, totalizando 19.868 hectares. Já na segunda safra, dos 10.357 hectares cultivados, a distribuição foi:

  • 2.533 hectares com milho
  • 728 hectares com milho semente
  • 4.431 hectares com trigo 
  • 2.665 hectares com outras culturas

Somando os dois períodos, foram cultivados 27.701 hectares na fazenda. De acordo com Rolim, o principal desafio do ciclo foi um veranico — período prolongado de estiagem — que durou 42 dias, entre o fim de fevereiro e meados de março.

“Foi desafiador, mas mostrou o quão resiliente são as nossas lavouras. Se isso acontecesse há 20 anos, o impacto teria sido muito pior. Práticas como agricultura regenerativa, manejo adequado do solo, uso de plantas de cobertura e plantio direto são fundamentais para manter a sanidade da cultura, mesmo em condições adversas”.

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Para a safra 2025/2026, as perspectivas climáticas são positivas, com previsão de neutralidade (sem El Niño ou La Niña). “Neste novo ciclo, a empresa deve aumentar sua área plantada, muito em função da aquisição da Sierentz e a mudança no portfólio de culturas, ampliando a irrigação, o que permite uma safrinha maior e irrigada”. 

A produção e a importância do algodão no Brasil

Mesmo ocupando apenas 0,2% do território nacional, o Brasil se destaca como o principal produtor e exportador global de algodão responsável (sustentável). Considerando todo o algodão, o país é o maior exportador global e o terceiro maior produtor. Na cadeia têxtil, está na sétima posição mundial como fornecedor.

A maior parte (54%) da produção brasileira é destinada à indústria de alimentos e ração, por conta do caroço, rico em nutrientes. O ciclo da cultura é um dos mais longos, durando em torno de 190 dias — com plantio em novembro e colhida entre junho e agosto.

O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Marcio Portocarrero, destaca que o Mato Grosso concentra mais de 70% da produção nacional, com 87% da safra cultivada no sistema de safrinha.

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(Foto: Abrapa/Divulgação)

Entre os desafios do setor no Brasil, estão o controle de pragas — intensificadas pelo clima tropical — e a manutenção da qualidade da pluma. Os principais concorrentes globais do Brasil são EUA, Austrália, Afeganistão e Paquistão.

Portocarrero chama atenção para a competição com o algodão sintético, produzido pela indústria petroquímica.

“A demanda global de algodão vegetal está estagnada em 26 milhões de toneladas há 12 anos. É fácil para a indústria têxtil migrar para o poliéster se não tiver consciência de sustentabilidade: enquanto uma roupa de poliéster demora 300 anos para se decompor, uma roupa de algodão leva poucos alguns meses ou anos”.

Ele destaca ainda que a cadeia do algodão é a segunda maior geradora de empregos na indústria de transformação no Brasil, com 1,34 milhão de empregos formais e 8 milhões no total, considerando efeitos indiretos e de renda — dos quais 60% são ocupados por mulheres.

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Apesar da elevada rentabilidade (R$ 22 mil/hectare, ante R$ 4 mil/hectare da soja), a cultura exige grande investimento.

“Uma colheitadeira custa cerca de US$ 1,4 milhão, e uma algodoeira, R$ 30 milhões. É preciso começar com 50 a 100 hectares e crescer com conhecimento técnico”, completa.

Os efeitos das tarifas de Donald Trump

Embora o Brasil não exporte algodão in natura para os Estados Unidos, as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump geram preocupação.

“A indústria têxtil brasileira consome boa parte do algodão produzido aqui e exporta produtos como cama, mesa e jeans para os EUA. Se essa demanda cair, pode haver reflexos na compra interna de algodão”, afirma Portocarrero.

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Segundo ele, a indústria têxtil brasileira exporta 4% da sua produção para os EUA. “Pode parecer pouco, mas qualquer baque compromete uma cadeia estruturada que busca crescer no exterior.” Por isso, o setor já atua na diversificação dos mercados compradores, como Bangladesh, China, Vietnã e Turquia.

O movimento Sou de Algodão

Criado em 2016 pela Abrapa, o movimento Sou de Algodão busca estimular o consumo consciente e valorizar a sustentabilidade do algodão brasileiro, com foco em rastreabilidade e responsabilidade social.

A iniciativa conecta a cadeia produtiva ao consumidor final, com o apoio de grandes marcas como Renner, C&A, Dudalina, Calvin Klein e Aramis. O movimento também marca presença no São Paulo Fashion Week (SPFW) e conta com mais de 80 estilistas parceiros.

(Foto: Abrapa/Divulgação)

Segundo Silmara Ferraresi, diretora de relações institucionais da Abrapa, as fibras sintéticas dominam 64% do mercado têxtil global, enquanto o algodão representa 22%. Entre as fibras vegetais, o algodão responde por 79%. O Brasil abriga a maior cadeia têxtil completa do Ocidente — do campo ao varejo.

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*O jornalista visitou a Fazenda Pamplona a convite da Abrapa

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Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.