O Brasil ‘melou’ mesmo o balanço da Netflix? Entenda por que streaming culpou país por resultado fraco

A Netflix (B3: NFLX34 | Nasdaq: NFLX) publicou seu balanço referente ao terceiro trimestre deste ano (3T25) e os números decepcionaram os investidores. A linha mais preocupante do resultado foi o lucro por ação (LPA), que ficou 15,9% abaixo das expectativas do mercado.
Isso porque o lucro líquido foi de US$ 2,547 bilhões, um crescimento de 8,7% em relação ao mesmo período de 2024, mas abaixo dos US$ 3 bilhões esperados pelo consenso do mercado.
Com isso, o LPA foi de US$ 5,87, contra as projeções de US$6,98. E a Netflix culpou o Brasil por esse impacto, afirmando que se trata de um encargo fiscal não recorrente de US$ 1,09 por ação.
Mas afinal, é culpa do Brasil?
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Netflix e o Brasil: Impacto fiscal do CIDE
Quem explica é Enzo Pacheco, analista de tecnologia da Empiricus. “Os executivos deixaram bem claro que o principal culpado na piora dos seus resultados foram os encargos fiscais cobrados pelo Fisco do Brasil, que totalizaram US$ 619 milhões no trimestre”, explica.
Acontece que, em agosto deste ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) reinterpretou o alcance da CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).
A Corte entendeu que o tributo se aplica também a pagamentos de serviços ao exterior mesmo quando não há transferência de tecnologia.
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“Na prática, isso criou uma incidência de 10% sobre remessas feitas por empresas brasileiras a suas matrizes ou prestadoras estrangeiras, gerando um custo direto sobre a operação internacional”, diz Pacheco.
No caso específico da Netflix, a subsidiária brasileira paga à matriz americana pelos serviços de tecnologia e de conteúdo que permitem oferecer assinaturas no país. Até então, uma decisão judicial de 2022 isentava a empresa dessa cobrança.
A mudança de entendimento do STF reverteu o cenário e obrigou a companhia a reconhecer retroativamente o passivo referente ao período de 2022 a 2025, o que explica o montante.
Atenção ao “não recorrente”
A empresa esclareceu que esse pagamento único impactou o lucro por ação em cerca de US$ 1,09. Ou seja, desconsiderando esse valor do resultado final, a Netflix teria, na verdade, superado as expectativas de lucro.
“Excluindo o ‘ruído’ fiscal, a tese de investimento da Netflix permanece sólida, impulsionada por uma execução estratégica eficaz”, diz o analista. “As medidas de monetização, incluindo a repressão ao compartilhamento de senhas e os ajustes de preço, continuam a converter não pagantes em receita e a aumentar o valor médio por usuário”.
Entretanto, Pacheco entende que a forte queda no papel após o resultado parece indicar um ativo caro no valuation atual (“quase 40 vezes seus lucros projetados para 2026”, pondera ele).
Atualmente, a Empiricus não tem recomendação de compra para o papel, mas uma desvalorização significativa “pode abrir um ponto de entrada interessante para as nossas séries internacionais”, conclui.