O café deve dar uma trégua no seu bolso, segundo o Itaú BBA; entenda os motivos

O preço do café deve recuar para os consumidores nos próximos meses, na avaliação do Itaú BBA. Isso se dá pelo avanço da colheita e pelo aumento gradual da oferta, especialmente de café robusta (conilon).
No ano, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o café moído acumula uma alta de 42,9% e de 77,88% nos últimos 12 meses. O solúvel, por sua vez, avança 15,81% no ano e de 16,55% em 12 meses.
Segundo estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção brasileira na safra 2025/26 deve alcançar 40,9 milhões de sacas de café arábica e 24 milhões de sacas de robusta. Dessa maneira, a safra do arábica deve recuar 6,4%, enquanto a do robusta deve crescer 14,8%.
Após um ciclo marcado por forte alta nos custos da matéria-prima, que exigiu repasses significativos ao varejo, a indústria começa a vislumbrar um cenário mais favorável.
A boa safra de robusta tende a favorecer a recomposição dos blends, com maior participação desse tipo de grão — movimento limitado nos últimos dois anos, quando houve quebras de safra no Brasil e no Vietnã.
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Menor disputa por matéria-prima
Com a expectativa de maior disponibilidade global em 2025/26, a disputa pela matéria-prima entre exportadores, torrefações e a indústria de solúvel tende a se reduzir.
Ainda assim, o Itaú BBA chama atenção para possíveis efeitos da entrada em vigor da legislação europeia antidesmatamento (EUDR), que pode gerar antecipação de compras por parte dos importadores, como observado no ano anterior.
A recuperação da demanda interna, por sua vez, deve ocorrer de forma gradual. A alta acumulada nos preços nos últimos anos forçou parte dos consumidores a migrar para cafés de menor valor agregado, um comportamento que tende a persistir mesmo com a recente correção de preços.
Segundo o relatório Visão Agro, a volatilidade cambial segue como fator de alerta. Mesmo com recuo dos preços internacionais, uma eventual desvalorização do real pode reduzir ou anular os efeitos dessa queda para empresas com custos dolarizados, exposição ao mercado externo ou dívidas em moeda estrangeira.
Tarifas de Trump pressionam o café
Entre os fatores que vêm pressionando o cenário global está a imposição de tarifas pelos Estados Unidos, anunciadas pelo presidente Donald Trump em 9 de julho.
No entanto, segundo avaliação do Itaú BBA, substituir o Brasil no fornecimento de café não é uma tarefa simples, dada a baixa capacidade dos demais países produtores.
Mesmo que parte da demanda americana possa ser atendida por outras origens no curto prazo, o impacto seria inflacionário, o que tende a reduzir o consumo.
Os Estados Unidos são o maior consumidor mundial do grão, com cerca de 25 milhões de sacas ao ano, sendo a maior parte de café arábica. O Brasil lidera a produção global dessa variedade, com 42% de participação, seguido por Colômbia (13%) e Etiópia (12%). Os demais fornecedores têm presença significativamente menor no mercado.