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O corte da China no preço dos carros elétricos chegou ou chegará ao Brasil?

21 jun 2025, 9:00 - atualizado em 18 jun 2025, 15:28
carros elétricos china
(iStock.com/Rneaw)

No final de maio, a montadora chinesa BYD anunciou cortes de até 35% no preço dos carros elétricos, um movimento que derrubou as ações da empresa e de outras concorrentes como Geely, Xpeng e Nio.

O Seagull, compacto elétrico, foi rebaixado à faixa dos US$ 7.500, algo próximo de R$ 38 mil. O Seal O7 perdeu US$ 6.900 do valor de tabela.

Em texto recente, o CEO da Energy Group e vice-presidente de finanças da Câmara Italiana do Comércio de São Paulo (Italcam), Fabio Ongaro, disse que a indústria chinesa opera com o bem acima da capacidade que seu mercado doméstico consegue absorver, uma conta que não fecha, a não ser que a produção vaze para outros continentes, como já está acontecendo.

“A China tem uma política de produção industrial, o seu modo de se impor no mundo e de crescer o PIB, muito mais que subsidiar ou crescer o consumo interno. Por lá, há uma capacidade ociosa de 30% e um mercado interno que varia entre 25-30 milhões de veículos, portanto, sobram 20 milhões para vender fora do país”, disse, em entrevista ao Money Times.

Ele lembra que a estrutura econômica que funde o Estado com empresas, diferente do que fazem os países ocidentais, com muitos braços governativos e subsídios às empresas.

“Isso valeu também 15 – 10 atrás para o setor de edifícios, que depois se tornou aquela bolha que conhecemos. A BYD está na frente de outras empresas de carros elétricos porque foi uma das primeiras que investiu no motor elétrico e por ter nascido como uma empresa de baterias e não uma montadora. Eles estão buscando vender o resto dos seus produtos e o Brasil é um desses destinos. É uma clara operação de dumping”.

Os carros elétricos estão mais baratos no Brasil?

Em 2024, o Brasil vendeu 2,3 milhões de veículos leves, sendo que desse total, 2,8% foram elétricos. Apesar de parecer pequeno, esse volume cresceu 90% em dois anos.

Para Ongaro, se a tendência chinesa for aplicada aqui no Brasil, é razoável esperar que modelos como o BYD Dolphin, hoje custando R$ 149 mil, sejam oferecidos em breve por R$ 110 mil ou menos, e que o Seagull possa desembarcar abaixo dos R$ 90 mil.

“Já vemos um movimento desse, com o teto do Dolphin descendo para R$ 139 mil e outros veículos, tanto híbridos quanto elétricos, saindo de R$ 300 mil para algo em torno de R$ 245 – 240 mil, uma necessidade da BYD de limpar seus estoques, assim como a política de integração vertical da produção, para controlar suprimento e custo.”

A atenção para a economia da China

Para o segundo semestre de 2025, Ongaro enxerga uma curva descendente para os preços dos carros elétricos e alguns híbridos da China.

Fora isso, ele olha com atenção para os dados de economia da China. “Há algum tempo, comentei que devemos olhar para a dívida norte-americana. Nos próximos 6 ou 8 meses, temos que ver os números que a China deve divulgar, porque eles não são transparentes, e a bolha do que teve no mercado de imóveis, que quase derrubou o país há 2 anos, pode estar escondida no mercado industrial, inclusive no mundo automotivo”.

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Repórter
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.
pasquale.salvo@moneytimes.com.br
Formado em Jornalismo pela Universidade São Judas Tadeu. Atua como repórter no Money Times desde março de 2023. Antes disso, trabalhou por pouco mais de 3 anos no Canal Rural, onde atuou como editor do Rural Notícias, programa de TV diário dedicado à cobertura do agronegócio. Por lá, também participou da produção e reportagem do Projeto Soja Brasil e do Agro em Campo. Em 2024 e 2025, ficou entre os 100 jornalistas + Admirados da Imprensa do Agronegócio.