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AgroTimes

O crédito no agronegócio em 2026: Os números continuam sem mentir

10 dez 2025, 11:16 - atualizado em 10 dez 2025, 11:16
agronegócio crédito
No Boletim de Finanças Privadas do Agro, as operações de crédito privado no agronegócio cresceram de forma significativa. (iStock.com/sefa ozel)

Com o fim do ano se aproximando, as famílias já se preparam para as ceias e confraternizações de Natal e Ano Novo. Enquanto isso, as notícias sobre um cenário mais apertado para o crédito no agronegócio continuam surgindo.

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Tem sido amplamente noticiado — sem dó nem piedade — pela imprensa especializada e, por que não dizer, amplamente repercutido nas redes sociais de profissionais e de empresas de reestruturação de dívidas, desde um suposto aumento dos pedidos de recuperações judiciais no setor até um alegado aperto no crédito em razão de defaults em carteiras de grandes bancos, além da não contratação de parcelas significativas do crédito rural disponibilizado pelo Plano Safra 2025/2026.

Os números do Boletim de Finanças do agronegócio não deixam dúvidas

Acontece que, apesar dessas notícias um tanto enviesadas — muitas vezes patrocinadas por quem tem interesse comercial na venda de “pacotes” de reestruturação de dívidas —, quando analisamos os números oficiais, a realidade surpreende positivamente.

No Boletim de Finanças Privadas do Agro de novembro de 2025, última versão divulgada pelo Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), observa-se que as operações de crédito privado no agronegócio cresceram de forma significativa.

O estoque de títulos privados do agronegócio, como CPR, LCA, CDCA, CRA e captações de Fiagro, saltou de cerca de R$ 1,2 trilhão, em agosto, para aproximadamente R$ 1,4 trilhão no fechamento de outubro de 2025.

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Esse aumento de quase 17% em poucos meses ocorreu mesmo com fatores adversos, como o tarifaço de Trump — ainda vigente até recentemente para muitos produtos agropecuários —, a taxa Selic a 15% e um mercado de crédito cada vez mais desafiador, alimentado por uma enxurrada de notícias negativas.

Números do Serasa e do crédito rural ajudam a compreender o cenário

Esse desempenho positivo ocorre mesmo em um ambiente no qual a Serasa Experian indica, em seu quinto boletim, que as recuperações judiciais no setor agropecuário já representam 73% do total de pedidos de 2024, além de um aumento de 8,1% na inadimplência da população do campo.

No crédito rural, as notícias mostram que a contratação das operações — e, portanto, o volume efetivo de financiamento repassado aos produtores — caiu 16% no primeiro semestre de 2025, segundo a mesma fonte.

Em outras palavras: há aumento do risco, diminuição do endividamento oficial e, ainda assim, uma elevação superior a R$ 200 bilhões nas operações privadas do agro.

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Alguns balanços de grandes bancos também registram perdas por inadimplência, mas aparentemente concentradas em regiões e culturas específicas. Isso é reforçado pelo estudo da Serasa e por entrevistas recentes de executivos do Banco do Brasil, que descartam um cenário de crise setorial, apesar dos esforços de alguns para propagá-lo.

Produção agropecuária, preços, taxas e outros indicadores

A redução na tomada de recursos oficiais pode refletir um “pé no freio” em linhas de custeio e investimento por parte dos produtores rurais, além do peso das taxas de juros elevadas. Isso, em tese, sugere menor endividamento e uma busca mais seletiva por crédito — majoritariamente privado, como aponta o Boletim de Finanças do Agro do Mapa.

Quanto aos preços, levantamentos recentes da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) indicam recuperação do VPB (Valor da Produção Bruta) da ordem de 12%, além de expectativa de aumento da produção de grãos e de outros indicadores que apontam para maior renda no campo em 2026.

É claro que um câmbio menos apreciado reduz parte do impacto positivo dessa recuperação, e as taxas de juros ainda elevadas não favorecem uma recomposição mais robusta das margens do produtor, que, como sabemos, toma anualmente cerca de R$ 1 trilhão em crédito para viabilizar as safras recordes.

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Ano eleitoral vem aí, mas cenário para a safra 2026/2027 pode melhorar

Ano eleitoral costuma trazer volatilidade. Câmbio, preços, taxas futuras de juros e o humor dos mercados oscilam ao sabor das pesquisas.

Ainda assim, o mercado físico, a recuperação de preços e os números dos financiamentos concedidos permitem antever um movimento de melhora para 2026/2027, especialmente porque a maior parte das recuperações judiciais de elos relevantes da cadeia — como revendas — já foi resolvida.

Os pedidos de recuperação judicial de produtores rurais seguem relativamente baixos e localizados, considerando um universo tão amplo quanto o de aproximadamente 5 milhões de propriedades, segundo o último Censo Agropecuário do IBGE.

Naturalmente, uma recuperação mais robusta de margens depende de clima favorável, regulação equilibrada e mercados menos fechados — a exemplo do tarifaço recentemente derrubado para produtos relevantes de nossa pauta exportadora.

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Adicionalmente, barreiras não tarifárias, como o Green Deal europeu (cuja vigência foi adiada por mais um ano), somadas às eleições gerais no Brasil, mantêm o ambiente turbulento. Ainda assim, os números do mercado e do crédito no agronegócio — uma das molas mestras da produção brasileira — permitem enxergar um viés de melhora para a safra 2026/2027, criando condições para uma recuperação das margens do produtor e dos negócios no campo.

Que venha o novo ano, caro leitor, com muita saúde, paz e prosperidade para todos. Esses são os votos deste colunista.

 

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Advogado especializado em Direito do Agronegócio
André Passos é advogado especializado em Direito do Agronegócio, Direito Tributário, Direito Societário, Contencioso Cível, Operações Estruturadas e Negócios. É sócio-fundador do Passos e Sticca Advogados Associados (PSAA), com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo Ibmec e bacharel em direito pela UERJ. É também professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e conselheiro fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
André Passos é advogado especializado em Direito do Agronegócio, Direito Tributário, Direito Societário, Contencioso Cível, Operações Estruturadas e Negócios. É sócio-fundador do Passos e Sticca Advogados Associados (PSAA), com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo Ibmec e bacharel em direito pela UERJ. É também professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e conselheiro fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
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