Comprar ou vender?

O gatilho da Selic foi dado: Quais ações comprar (e vender) com juros a 13,25%?

02 ago 2023, 18:52 - atualizado em 02 ago 2023, 22:29
Banco Central
De acordo com analistas que conversaram com o Money Times, setores que mais vão se beneficiar com o corte são os ligados à economia doméstica (Imagem: REUTERS/Adriano Machado)

Após um ano com a taxa básica de juros em 13,75%, o Brasil passa a contar com uma Selic menor. Já aguardada pelo mercado, a dúvida que pairava entre investidores e economistas era o real tamanho do corte, 0,25% ou 0,5%, sendo que o Banco Central optou pelo segundo.

A expectativa agora é que a bolsa e, especialmente, ações esquecidas voltem a tomar fôlego. Desde o pico da pandemia, quando a Selic chegou ao piso de 2%, diversas empresas foram dizimadas, com destaque para papéis de varejo e techs.

Economistas ouvidos pelo Boletim Focus esperam que a Selic encerre o ano em 12%, o que abriria espaço para a bolsa subir, pelo menos, 10 mil pontos. Inúmeras casas, entre a elas a XP, prevê que o índice termine o ano em 133 mil pontos.

De acordo com analistas que conversaram com o Money Times, setores que mais vão se beneficiar com o corte são os ligados à economia doméstica. Já papéis de commodities, que possuem forte influência com fatores externos, podem ficar pelo caminho.

“Obviamente, essas são ideias gerais e não devemos levar ao pé da letra, sendo necessário sempre realizar o stock picking (estratégia de investimentos que estuda o mercado para comprar ações por um preço menor )”, discorre Eduardo Rahal, analista-chefe da Levante Corp.

Luís Moran, head da EQI Research, coloca que a alta da Selic aumenta a atratividade das histórias de crescimento, alavancadas ao consumo interno, enquanto as histórias mais defensivas, de receita mais estável, exportadoras e as pagadoras de dividendos perdem relativamente interesse.

Para o investidor, aconselha Lucas Lima, analista da VG Research, a melhor alternativa seria uma cesta de ativos para o mercado local que mescle ações de crescimento e valor.

Queda da Selic: É hora do varejo

Lima, da VG, lembra que a taxa de juros estimula o consumo e faz com que a economia ganhe uma sobrevida.

“Além disso, diversas varejistas na bolsa estão com uma relação dívida líquida/Ebitda bastante elevada, fazendo com que uma taxa de juros alta impacte fortemente a linha de despesas financeiras e leve a companhia para o prejuízo”, calcula.

Entre as empresas que podem lucrar com o movimento, Lima cita Burger King (ZAMP3), Iguatemi (IGTI11) e Lojas Renner (LREN3).

Mas nem todas….

Para as duas principais varejistas da bolsa, Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), o buraco pode ser mais embaixo.

Isso porque não é só a caneta de Roberto Campos Neto que espanta parte de investidores para as ações. Fatores como a concorrência cada vez mais agressiva do varejo também são pontos de atenção para os papéis.

“Apesar do setor varejista ser bastante beneficiado com a queda na taxa de juros, acreditamos que as ações do setor de e-commerce no Brasil ainda possuem diversos desafios no curto prazo que devem impedir uma maior valorização das companhias”, discorre Lima, da VG.

Ele diz ainda que o segmento de bens duráveis é bastante difícil de operar, são produtos sem diferenciação e com o aumento recente da competição no setor, a lucratividade das empresas fica comprometida.

Nos três primeiros meses do ano, o Magazine Luiza reportou o seu pior prejuízo da história, a R$ 391,2 milhões.

“O nível de endividamento das famílias e o índice de inadimplência permanecem elevados. Acredito que os resultados dessas empresas devem melhorar apenas ao longo do ano de 2024”, completa.

Já Rahal, da Levante, argumenta que a situação para os papéis das varejistas é bastante binária. Ele lembra que setor de consumo e varejo, por exemplo, sobe cerca de 13,50% no ano, mas com uma alta bastante desigual. Magazine Luiza disparou 18,50%, superando os pares, enquanto os papéis de Via caem quase 10%.

“Entendemos que para este setor, somente um início do ciclo de corte ainda há pouco representativo para sustentar uma retomada mais abrupta”, observa.

Isto porque, segundo ele, as companhias operam em um setor já de margens comprimidas, com novos entrantes concorrentes chegando, e” que ainda que tenhamos uma queda nos juros nos próximos meses, considerando o custo da dívida e a alavancagem, não acreditamos ser suficiente para impulsionar as ações”.

“Agora é claro, olhando um prazo maior, com um ciclo mais amplo de cortes e melhora do cenário local, é possível que isso se reverta”, completa.

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Construtoras também têm espaço

Os analistas também estão de olho nas construtoras, já que o setor de construção civil guarda relação com a curva de juros de longo prazo. Quanto menos juros, mais barato fica para o brasileiro contrair crédito e pagar as prestações da tão sonhada casa própria.

“Então, no cenário atual com expectativa de menor juros nos próximos anos, as ações do setor de construção civil tendem a se valorizar, principalmente as do segmento de média e alta renda que possuem uma maior sensibilidade”, observa Lima, da VG.

Atualmente, diz, existem oportunidades em construtoras de qualidade e que negociam bem abaixo da sua média histórica quando olhamos para o preço/valor patrimonial. “Entre alguns dos principais nomes podemos citar a Cyrela (CYRE3), Eztec (EZTC3) e a Mitre (MTRE3)”, completa.

Pequenas e notáveis

E se estamos falando sobre ações esquecidas pelo mercado, é impossível não citar as small caps. Só a expectativa de afrouxamento da taxa de juros foi capaz de alçar o Índice Small Caps (SMLL) a uma alta acumulada de 15,37% em 2023, contra 14,70% do Ibovespa (IBOV) no mesmo período.

Agora, a expectativa de especialistas da área de research e estratégia de ações da Santander Corretora é que uma nova “pernada” de valorização seja desbloqueada a partir da decisão do Copom.

“Sem dúvidas as small caps estão entre as mais beneficiadas no cenário de queda da taxa de juros, porque geralmente são empresas com estrutura de capital apertada e que necessitam de recursos para financiar o crescimento”, destaca Lima da VG.

O head da EQI Research lembra ainda que existem excelentes companhias, que têm conseguido executar seus planos de negócios, crescer e gerar caixa, mas que, pela baixa liquidez, não veem esse valor criado expresso nos preços das ações.

“Acreditamos que é hora de ser bastante seletivos e investir tempo buscando justamente essas histórias de investimento”, completa.

Quais ações vender?

Diminuir a exposição em empresa de minério de ferro e commodities talvez valha a pena neste momento, afirmam analistas.

Luís Moran, head da EQI Research, explica que exportadoras de commodities enfrentam uma situação complexa, com mercados desenvolvidos crescendo menos, enquanto sobem juros e combatem a inflação e a China possui dificuldades para retomar um ritmo de crescimento parecido com aquela pré-pandemia.

Já Rahal, analista chefe da Levante Corp, vai por outro lado ao dizer que ao invés de vender ou diminuir, talvez faça mais sentido o investidor ampliar seus aportes onde enxerga mais assimetria, como por exemplo o caso das Small Caps citado acima.

“Assim, no rebalanceamento de seu portfólio, ele irá aumentando gradativamente sua exposição em mercado doméstico, com maior potencial de upside, ao passo que outras posições que talvez fossem mais vencedoras em outros momentos e que representavam uma parcela maior da carteira, vão perdendo espaço e possuindo menor participação no todo”, completa.

Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os 50 jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022 e 2023. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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