Arena do Pavini

O gestor brasileiro que deu lucro de 300% para finlandeses com blueberry chileno

26 abr 2017, 18:40 - atualizado em 05 nov 2017, 14:05

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Por Ângelo Pavini, da Arena do Pavini

O blueberry, ou mirtilo, é uma amora azulada que faz muito sucesso nos Estados Unidos e na Europa. Pois uma gestora brasileira conseguiu ganhar quase 300% investindo em mirtilo chileno exportado para os Estados Unidos em um fundo internacional de ações voltado para a América Latina. E os cotistas são pequenos investidores finlandeses.

Flavio Adorno, sócio da Trópico investimentos, é o gestor que reuniu tantas nacionalidades em um único fundo, que acumula um rendimento de 25% ao ano em euros desde a criação. Ele conta que, há alguns anos, buscando oportunidades na América Latina, descobriu a Hortifrut, uma empresa chilena com 40 anos de vida, e que entrou no mercado acionário em 2012.

E logo percebeu as vantagens da companhia. A primeira, uma tecnologia genética própria, que permitia à Hortifrut investir em blueberry, morangos, framboesas e cerejas. Mas o melhor negócio era mesmo a frutinha azul.

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Mirtilo fresco para os EUA

A segunda vantagem eram as terras próprias para o plantio, que foram reforçadas com produtores associados, para criar uma boa base de árvores de mirtilo, que levam em média cinco anos para produzir. E a terceira vantagem é um sistema de distribuição internacional que permite vender o mirtilo fresco nos Estados Unidos e no resto do mundo, incluindo Europa.  “São várias barreiras de entrada para concorrentes: genética, produtores, distribuidores”, conta Adorno.

Mas a principal vantagem da empresa é a produção no Hemisfério Sul. Assim, enquanto as árvores de mirtilo estão em plena safra no Chile, é inverno nos Estados Unidos e na Europa, e os preços da frutinha sobem. “Pela Cordilheira dos Andes, o clima é único e cria vantagens para os produtores agrícolas”, diz o gestor.

Produção no Peru

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O fundo da Trópico investiu na Hortifrut em 2013, logo depois da abertura de capital, e, pouco depois, a empresa se fundiu com a Vitaberry, tornando-se líder no Hemisfério Sul, com clientes fortes nos Estados Unidos, como o Starbucks, e na Europa, como a rede varejista Tesco, no Reino Unido. E agora a empresa está investindo em plantações no Peru, que apresentam uma produtividade ainda mais alta. “As árvores produzem em dois anos, menos da metade do tempo que no Chile, e a produção é maior”, diz Adorno. Segundo ele, o mercado de blueberry cresce a um ritmo de 15% ao ano nos Estados Unidos. “E, com a entressafra, falta produto”, diz.

O fundo pagou 330 pesos chilenos pela ação da Hortifrut em 2013, valor que saltou para 600 pesos em 2014 e agora está em 1.300 pesos, um ganho de 293% em quatro anos.

Finlandeses

Os finlandeses chegaram por acaso à Trópico, explica Fernando Camargo, sócio-fundador da Orbe Investimentos, antigo nome da gestora. A Orbe tinha um braço no exterior com um fundo de América Latina que chamou a atenção de um banco finlandês, que pediu à gestora que montasse um fundo parecido para seus clientes. A carteira hoje reúne 1.400 investidores e um patrimônio de € 6 milhões. “São clientes de varejo, com um valor em torno de € 5 mil cada, mas que estão contentes com o retorno, ainda mais se comparado aos juros negativos da Europa”, diz.

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E o fundo da Finlândia ainda tem as ações. Além das blueberries, tem ainda ações de um banco no Peru, o BCP, que deve se beneficiar do processo de bancarização da população peruana. “O Peru vem crescendo a uma taxa de 7% ao ano”, diz. O fundo tem ainda boa parte dos recursos, 80%, aplicados em papéis brasileiros.

Orbe vira Trópico, mas mantém políticas e gestão

Quem conhece o mercado de gestão independente de recursos brasileiro sabe quem é a Orbe Investimentos. A gestora concentrada em fundos de ações com a chamada estratégia de valor foi uma das pioneiras na participação em pequenas empresas e na análise profunda dos números das companhias. Com as idas e vindas do mercado, a Orbe diversificou seus investimentos com uma empresa imobiliária, a TRF, que cresceu fortemente oferecendo desmobilização de ativos para empresas e construção sob medida de imóveis para grandes companhias.

O sucesso da TRF foi tanto que ela foi vendida e a Orbe voltou a se dedicar aos fundos de ações de valor no Brasil, ampliando sua atuação para a América Latina. A gestora ganhou muito dinheiro com ações no Peru, Chile, Colômbia, mas resolveu tirar o pé diante das mudanças politicas na região e a piora dos mercados emergentes.

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Sem fundos de pensão

Ao mesmo tempo, no Brasil, resolveu parar de trabalhar com fundos de pensão, diante das relações complicadas com instituições estatais. Com isso, o patrimônio sob gestão caiu e hoje a empresa administra pouco mais de R$ 100 milhões em uma carteira local e um pouco no exterior.

No meio desse caminho tortuoso, uma antiga pendência envolvendo o nome Orbe, mundo em latim, registrado por uma construtora que contestava o uso pela gestora há anos, acabou levando à troca da marca para Trópico Investimentos. Dos dois sócios fundadores, apenas um continuou, Fernando Camargo Luiz. Mas o espírito de encontrar oportunidades de ganho continua.

No Brasil, a Trópico está retomando seus negócios, agora sob a batuta de Camargo. O fundo da casa, o Trópico Value Fia, aplica hoje em ações da Profarma, que atua como distribuidora e está entrando no varejo. Outro papel é Unipar, fabricante de soda cáustica para o setor químico e farmacêutico, que entre outras coisas é usada para branquear o açúcar. E a holding Itaúsa, que tem o Itaú em seu portfolio.

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A gestora tem ainda um fundo de renda fixa de crédito, o SF2 Trópico, em parceria com o ex-tesoureiro do Banco Fator e gestor Sérgio Machado.  O objetivo é aproveitar a queda dos juros e a regularização da economia brasileira para investir em ações de empresas bem administradas e que vão se beneficiar da retomada do crescimento do país.

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pavini@moneytimes.com.br
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