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O olho (e a garra) do tigre – perspectivas da soma Itaú + XP

10 maio 2017, 13:17 - atualizado em 05 nov 2017, 14:04

Creed

João Gabriel Chebante é CEO e fundador da Chebante Brand Strategy e presta consultoria para diferentes segmentos do mercado financeiro.

Estou muito feliz com os textos produzidos sobre marketing e estratégia para o mercado financeiro e suas repercussões. Não sei é exatamente o conteúdo ou as analogias com as aventuras de Sylvester Stallone como Rocky Balboa, mas o recall é bem legal.

Eu esperava continuar a saga mais tarde, ao falar de outros movimentos de mercado. Mas o mercado financeiro foi pego de surpresa com o avanço do Itaú sobre a XP Investimentos, às vésperas do turno final do seu IPO.  Ainda que não seja a analogia correta (vamos deixar esta parte do storytelling para outro artigo) trata-se do próprio olhar e patada do tigre sobre sua presa – no melhor estilo da banda “Survivor”, que dá o tom para a terceira parte da saga do nosso herói favorito (a grande maioria acha que a trilha está em todos os filmes, mas “Eye of the tiger” foi feita para o terceiro filme).

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Balboa, Apollo e a revanche pelo seu apetite para investir

 

            Ainda que a XP soltou mais cedo um comunicado avisando que trata-se de um movimento minoritário, enquanto Itaú se ateve em dizer que está negociando, tal movimento traz alguns insights sobre o mercado como um todo, que servem para reflexão de todos os stakeholders envolvidos. Vamos aos pontos:

  • Para o Itaú: uma aquisição inteligente e assertiva, se pensarmos que o negócio de assessoria de investimento ao público em massa sempre foi incipiente e estamos falando da “startup” mais madura do mercado. Vejo como um cenário mais provável uma potencial “junção de forças”: a XP seria responsável pela gestão da plataforma 360 de investimentos, do Personnalité, bem como a expansão das suas atividades tanto dentro dos Agentes Autônomos como (e principalmente) no novo canal de atuação: as agências do maior banco privado do país…
  • Para a XP: uma saída ou diluição do negócio para seus principais acionistas extremamente honrosa. Trata-se de uma das histórias mais espetaculares do mercado financeiro brasileiro dos últimos 50 anos. Nesta negociação e como o release ao mercado diz, sair do negócio ou perder o controle é ruim a todos. O formato que mais pondero é o mesmo do movimento com a Porto Seguro: com 30% de participação, a empresa da família Garfinkel ficou responsável por toda a divisão de seguros do banco, gerando novos produtos e oportunidades tanto para a rede de agências quanto para seus corretores. Se pensarmos que 85% do volume de investimentos dos brasileiros ainda está dentro das instituições bancárias tradicionais, esta junção de formas valida o negócio, aumenta a valoração da empresa e torna o IPO ainda mais interessante.
  • Para os parceiros da XP: uma zona nebulosa, pelo menos à primeira medida – como vai ser uma potencial “concorrência” com as agências bancárias e seus gerentes? Ao mesmo tempo pode ser algo interessante: os agentes autônomos podem ficar com a melhor parte deste segmento, que são os investidores de grande porte, que precisam de um atendimento além do que um gerente é capaz de oferecer. Ou buscar uma solução de nicho, como excelência em alguma família de produtos, como renda fixa, variável ou operação em bolsa, por exemplo. Talvez em praças longe dos grandes centros, aonde a educação para investimentos é mais parca, o desafio de se diferenciar da percepção de solidez e segurança do banco seja mais desafiadora a partir de agora, mesmo se tratando da mesma estrutura de gestão do patrimônio.
  • Para o mercado: Ainda que a primeira medida possa parecer ruim, pois temos a perda da independência completa do principal player do mercado, há um aspecto muito interessante para levarmos em consideração: o segmento de assessoria de investimentos está validado e força os demais concorrentes a oferecerem melhores condições aos agentes autônomos, produtos e serviços aos investidores e até oportunidades de negócios para os novos entrantes. O segmento ficará mais competitivo, profissional e desafiador a todos, e o público ganha a médio prazo – ainda que exista um risco potencial de concentração lá na frente. Ou vocês acham realmente que Bradesco, Santander e outros ficarão apenas assistindo?

            Ainda veremos movimentos nas próximas horas ou dias sobre esta movimentação envolvendo tanto um gigante protagonista e seu olhar felino sobre a liderança de mercado, quanto o audaz desafiante que surpreende a todos com sua agilidade e variedade de golpes (produtos?). Seria a XP o filho de Apolo Creed, que depois de algum destaque e falta de orientação para se tornar campeão mundial é “adotado” por um velho e moroso Rocky Balboa no incrível reboot da serie, Creed – Nascido para lutar?

            Apenas para recordação, aos 70 anos Sylvester Stallone ganhou o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante neste filme, sua melhor atuação desde… Rocky I.