Opinião

O ouro vai se beneficiar dos cortes de juros para combater o coronavírus?

03 mar 2020, 13:55 - atualizado em 03 mar 2020, 13:57
Ouro
Segundo o colunista Barani Krishnan as operações de risco também podem se beneficiar, atraindo recursos que poderiam ser direcionados ao metal (Imagem: Pixabay)

Geralmente, notícias de que bancos centrais estão sincronizando cortes de juros são excelentes para quem está comprado em ouro. Mas, na era do coronavírus, operações de risco também podem se beneficiar, atraindo recursos que poderiam ser direcionados ao metal amarelo, mas acabam sendo alocados em ações, por exemplo.

Há uma semana, eu perguntei o que seria necessário para o ouro alcançar US$ 1.700. Como o Federal Reserve, o Banco da Inglaterra e o Banco do Japão se mostram inclinados a coordenar uma ação contra o coronavírus, pode ser que já tenhamos a resposta.

No entanto, a movimentação nos futuros do ouro e no lingote nos últimos três pregões pode não trazer muita segurança para quem espera lucrar com o porto seguro.

Ouro Futuro Semanal

Os futuros do ouro com entrega em abril na COMEX de Nova York despencaram 3,5% na sexta-feira, já que a exigência de margens maiores fez com que muitos comprados encerrassem suas posições.

A venda realizada por hedge funds para cobrir perdas em outros ativos também prejudicou a alta do ouro, que havia atingido as máximas de sete anos um pouco abaixo de US$ 1.7000 antes disso.

Apetite para o risco beneficia todos os ativos, inclusive o ouro

Com a chegada da nova semana, o metal amarelo apresentou um repique na segunda-feira, subindo 1,8%, graças à volta do apetite para o risco nos mercados, que acabou beneficiando todos os ativos, inclusive o ouro.

No pregão desta terça-feira, no entanto, o avanço estava bastante modesto. Os futuros subiam apenas 0,1% na metade da tarde em Cingapura, com o lingote se saindo um pouco melhor, valorizando-se 0,4%.

“Após as fortes quedas da semana passada, pode ser que os comprados em ouro voltem a ser castigados nesta semana”, explica Fawad Razaqzada, fundador da assessoria de risco em commodities Tradingcandles.com.

“Embora ainda tenha uma visão altista para o ouro no longo prazo, acredito que os preços possam passar por uma correção antes de voltar a subir”, concluiu Razaqzada.

Ouro Spot Semanal

Uma razão para os ganhos anêmicos – e até mesmo perdas – no ouro seria a volta da propensão a operações de risco novamente, principalmente nas ações americanas, que sofreram uma desvalorização de 16% na semana passada, a pior desde a crise financeira.

Comprovando essa teoria, Wall Street voltou com tudo na segunda-feira, fechando com uma alta de 5%, graças à intervenção planejada pelos bancos centrais mundiais para combater o coronavírus.

Os futuros dos fundos do Fed estão precificando uma chance de 100% de que o Federal Reserve cortará os juros em 50 pontos-base em sua reunião de 18 de março, como mostra a Ferramenta de Monitoramento da Taxa de Juros do Fed, do Investing.com.

Wall Street
Wall Street voltou com tudo na segunda-feira, fechando com uma alta de 5%, graças à intervenção planejada pelos bancos centrais mundiais para combater o coronavírus (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid)

O Banco do Japão e o Banco da Inglaterra ainda não indicaram o que vão fazer. Enquanto isso, os ministros de finanças do G7 devem realizar uma teleconferência nesta semana, a fim de coordenar uma resposta à disseminação viral.

As ações ainda podem ofuscar o ouro

Teoricamente, taxas de juros menores são boas para o ouro, pois podem ajudar o metal amarelo a atrair investidores que buscam rendimentos além do dólar.

Mas, com tantos investidores ainda ansiosos por um retorno das máximas históricas vistas em Wall Street nos últimos meses, a competição pelos fluxos dos fundos pode ser acirrada, a menos que haja uma piora significativa na crise do coronavírus, castigando as ações novamente.

“A liquidação da semana passada ajudou a criar um candle de engolfo baixista no gráfico semanal, sugerindo que os ursos agora estão no controle da ação dos preços” no ouro, declarou Razaqzada.

O analista disse ainda:

“Se eu estiver lendo corretamente o contexto, os comprados em ouro formam o grupo de investidores que caíram em uma armadilha. Se esse for o caso, seus stops estão abaixo da mínima da semana passada, a US$ 1.563. Acredito que o ouro deva testar essa região no curto prazo.”

Desde esse fundo a US$ 1.563, o ouro superou os US $1.600 na segunda-feira, antes de fechar abaixo desse patamar, mas em alta. Uma ação similar estava ocorrendo no pregão asiático desta terça-feira, antes da sessão de Nova York.

Do ponto de vista técnico, o Investing.com tem recomendação “Neutra” para o ouro, projetando o suporte mais forte a US$ 1.540,90, contra uma resistência significativa em US$ 1.648,30.

Apesar dessa perspectiva de certa forma dúbia no curto prazo, alguns investidores não receiam defender o ouro, que já se valorizou 5% no ano.

“Os fundamentos do ouro continuam extremamente fortes e quaisquer correções de curto prazo não são significativas no contexto mais amplo”, declarou Gavin Wendt, analista sênior de recursos da MineLife Pty, na Austrália, que foi citado em uma reportagem da Bloomberg na segunda-feira.

Na lógica de Wendt, o recuo do ouro na semana passada “não chegou nem perto da derrapada de mais de 10% no mercado de ações, portanto podemos dizer que o ouro passou no seu desafio de porto seguro”.

George Gero, que supervisiona a carteira de metais preciosos da RBC Wealth Management em Nova York, compartilha da visão de que o ouro irá subir, mas a volatilidade é a ordem do dia por enquanto.

“Muitos estão tratando o ouro como se fosse um veículo de trading, olhando para as ações”, declarou Gero.

“Mas muitos investidores do metal precioso continuam querendo adicionar posições em preços menores com foco no longo prazo”.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.