O primeiro grande estrago: o banco que obrigou o FGC a fazer um dos maiores resgates da história — até o rombo do Banco Master
Você podia até não ser cliente, mas certamente conhecia o jingle do extinto Banco Bamerindus. A instituição chegou a ser a segunda maior financeira privada do país em número de agências, mas ocupou por décadas o posto de maior resgate do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — até esta terça-feira (18), quando foi superado pelo Banco Master.
Na época, o FGC desembolsou cerca de R$ 3,7 bilhões, valor que corresponderia a aproximadamente R$ 20 bilhões corrigidos. Foi o fim de uma crise que deixou os anos de glória cada vez mais distantes — mas que não apagou da memória popular o jingle grudento: “O tempo passa, o tempo voa; e a Poupança Bamerindus continua numa boa.”
Do interior do Paraná para todo o Brasil
A história do Bamerindus começa em um período turbulento da economia mundial: a Grande Depressão. Em 1929, em meio à crise global e ao intervalo entre duas guerras, Avelino Antonio Vieira se uniu a amigos para fundar um novo negócio no interior do Paraná.
Foi assim que, em Tomazina — hoje com menos de 9 mil habitantes — nasceu o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná (BPA).
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Nos anos seguintes, o banco passou por várias incorporações:
- 1944: o BPA foi incorporado ao Banco Comercial do Paraná, mesmo ano em que Avelino virou diretor comercial.
- 1951: veio a incorporação do Banco Meridional da Produção, que tinha apenas quatro agências. A fusão levou à mudança de nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná S.A.
A marca Bamerindus só surgiria em 1971, quando o nome foi abreviado e consolidado.
As décadas de 1970 e 1980 marcaram o auge da instituição. Sob o comando de José Eduardo de Andrade Vieira, filho de Avelino, o banco cresceu rapidamente e alcançou o posto de segunda maior financeira privada do Brasil, com mais de mil agências espalhadas pelo país.
Além disso, o grupo expandiu sua atuação para seguros, previdência, leasing, cartões, consórcios e financiamentos imobiliários.
“O tempo passa, o tempo voa”: o marketing que marcou geração
O Bamerindus também investiu pesado em comunicação. A campanha da “Poupança Bamerindus” marcou os anos 1990. O jingle, cantado por Toni Lopes, virou parte da cultura pop brasileira.
A presença na TV era reforçada com ações de grande alcance, como o patrocínio das Olimpíadas do Faustão, um dos quadros mais assistidos do Domingão. No programa, Fausto Silva anunciava:
“Tá precisando de dinheiro? TC Bamerindus é o plano em que você investe todo mês um pouquinho. No final, recebe tudo o que investiu totalmente corrigido. Para o Bamerindus, você tem obrigação de ser feliz.”
Além do marketing, a instituição também tinha forte influência política. Andrade Vieira foi senador pelo Paraná, ministro de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, e chegou a financiar a campanha presidencial de FHC.

Fato é que o tempo passa, o tempo voa, mas o Bamerindus não ficou numa boa.
A queda do Bamerindus e o maior resgate da história do FGC (até o Banco Master)
A partir do início dos anos 1990, o banco entrou em declínio. Em 1993, já enfrentando problemas graves, o Bamerindus entrou no cadastro de devedores da União com uma dívida superior a 7,5 bilhões de cruzeiros — cerca de R$ 2,5 milhões em valores atuais.
O cenário piorou em 1994, com a instabilidade econômica, a abertura de mercado e as mudanças do Plano Real. O banco acumulou prejuízos bilionários e viu seu patrimônio líquido ficar negativo. O grupo então buscou apoio do PROER, o programa criado para reestruturar instituições financeiras em crise.
Em 1997, a situação explodiu: o Banco Central decretou intervenção após identificar um rombo que ameaçava correntistas e credores.
No ano seguinte, o Bamerindus foi dividido em duas partes:
- A parte boa, com ativos rentáveis e clientes,
- E a parte ruim, com dívidas e ativos problemáticos.
A parte boa foi vendida ao HSBC por R$ 1,2 bilhão, em abril de 1998. O grupo britânico assumiu agências, funcionários, produtos e serviços, mas não a marca — que foi extinta. O HSBC ainda prometeu investir R$ 1,5 bilhão nos cinco anos seguintes.
A parte ruim ficou sob responsabilidade do Banco Central e entrou em liquidação extrajudicial, um processo que se arrastou por 16 anos e terminou apenas em dezembro de 2014.
Na intervenção, o rombo era de R$ 3,7 bilhões, cerca de R$ 20 bilhões em valores atuais — um dos maiores resgates de correntistas da história do FGC.
Até agora.

Rombo do Banco Master: o maior resgate da história do FGC
Com a liquidação extrajudicial decretada nesta terça-feira (18), o Banco Master assumiu o posto de maior resgate dos 30 anos do FGC.
Segundo dados de março do Banco Central, o Master tinha cerca de R$ 60 bilhões em depósitos cobertos, muito acima dos números do Bamerindus.
Mais cedo, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, durante a Operação Compliance Zero.