Bancos

O primeiro grande estrago: o banco que obrigou o FGC a fazer um dos maiores resgates da história — até o rombo do Banco Master

18 nov 2025, 18:02 - atualizado em 18 nov 2025, 18:02
Bamerindus - Arquivo Bradesco
Do auge ao colapso: o caso Bamerindus marcou o FGC por décadas como um dos maiores resgates do FGC da história — até o Banco Master. Bamerindus - Arquivo Bradesco

Você podia até não ser cliente, mas certamente conhecia o jingle do extinto Banco Bamerindus. A instituição chegou a ser a segunda maior financeira privada do país em número de agências, mas ocupou por décadas o posto de maior resgate do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — até esta terça-feira (18), quando foi superado pelo Banco Master.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na época, o FGC desembolsou cerca de R$ 3,7 bilhões, valor que corresponderia a aproximadamente R$ 20 bilhões corrigidos. Foi o fim de uma crise que deixou os anos de glória cada vez mais distantes — mas que não apagou da memória popular o jingle grudento: “O tempo passa, o tempo voa; e a Poupança Bamerindus continua numa boa.

Do interior do Paraná para todo o Brasil

A história do Bamerindus começa em um período turbulento da economia mundial: a Grande Depressão. Em 1929, em meio à crise global e ao intervalo entre duas guerras, Avelino Antonio Vieira se uniu a amigos para fundar um novo negócio no interior do Paraná.

Foi assim que, em Tomazina — hoje com menos de 9 mil habitantes — nasceu o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná (BPA).

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

VEJA MAIS: O que os balanços do 3T25 revelam sobre o rumo da bolsa brasileira e quais ações podem surpreender nos próximos meses – confira as análises do BTG Pactual

Nos anos seguintes, o banco passou por várias incorporações:

  • 1944: o BPA foi incorporado ao Banco Comercial do Paraná, mesmo ano em que Avelino virou diretor comercial.
  • 1951: veio a incorporação do Banco Meridional da Produção, que tinha apenas quatro agências. A fusão levou à mudança de nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná S.A.

A marca Bamerindus só surgiria em 1971, quando o nome foi abreviado e consolidado.

As décadas de 1970 e 1980 marcaram o auge da instituição. Sob o comando de José Eduardo de Andrade Vieira, filho de Avelino, o banco cresceu rapidamente e alcançou o posto de segunda maior financeira privada do Brasil, com mais de mil agências espalhadas pelo país.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Além disso, o grupo expandiu sua atuação para seguros, previdência, leasing, cartões, consórcios e financiamentos imobiliários.

“O tempo passa, o tempo voa”: o marketing que marcou geração

O Bamerindus também investiu pesado em comunicação. A campanha da “Poupança Bamerindus” marcou os anos 1990. O jingle, cantado por Toni Lopes, virou parte da cultura pop brasileira.

A presença na TV era reforçada com ações de grande alcance, como o patrocínio das Olimpíadas do Faustão, um dos quadros mais assistidos do Domingão. No programa, Fausto Silva anunciava:

“Tá precisando de dinheiro? TC Bamerindus é o plano em que você investe todo mês um pouquinho. No final, recebe tudo o que investiu totalmente corrigido. Para o Bamerindus, você tem obrigação de ser feliz.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Além do marketing, a instituição também tinha forte influência política. Andrade Vieira foi senador pelo Paraná, ministro de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, e chegou a financiar a campanha presidencial de FHC.

Bamerindus - Reprodução
Bamerindus – Reprodução

Fato é que o tempo passa, o tempo voa, mas o Bamerindus não ficou numa boa.

A queda do Bamerindus e o maior resgate da história do FGC (até o Banco Master)

A partir do início dos anos 1990, o banco entrou em declínio. Em 1993, já enfrentando problemas graves, o Bamerindus entrou no cadastro de devedores da União com uma dívida superior a 7,5 bilhões de cruzeiros — cerca de R$ 2,5 milhões em valores atuais.

O cenário piorou em 1994, com a instabilidade econômica, a abertura de mercado e as mudanças do Plano Real. O banco acumulou prejuízos bilionários e viu seu patrimônio líquido ficar negativo. O grupo então buscou apoio do PROER, o programa criado para reestruturar instituições financeiras em crise.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em 1997, a situação explodiu: o Banco Central decretou intervenção após identificar um rombo que ameaçava correntistas e credores.

No ano seguinte, o Bamerindus foi dividido em duas partes:

  • A parte boa, com ativos rentáveis e clientes,
  • E a parte ruim, com dívidas e ativos problemáticos.

A parte boa foi vendida ao HSBC por R$ 1,2 bilhão, em abril de 1998. O grupo britânico assumiu agências, funcionários, produtos e serviços, mas não a marca — que foi extinta. O HSBC ainda prometeu investir R$ 1,5 bilhão nos cinco anos seguintes.

A parte ruim ficou sob responsabilidade do Banco Central e entrou em liquidação extrajudicial, um processo que se arrastou por 16 anos e terminou apenas em dezembro de 2014.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na intervenção, o rombo era de R$ 3,7 bilhões, cerca de R$ 20 bilhões em valores atuais — um dos maiores resgates de correntistas da história do FGC.

Até agora.

Bamerindus - Reprodução
Bamerindus – Reprodução

Rombo do Banco Master: o maior resgate da história do FGC

Com a liquidação extrajudicial decretada nesta terça-feira (18), o Banco Master assumiu o posto de maior resgate dos 30 anos do FGC.

Segundo dados de março do Banco Central, o Master tinha cerca de R$ 60 bilhões em depósitos cobertos, muito acima dos números do Bamerindus.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Mais cedo, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, durante a Operação Compliance Zero.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

WhatsAppTwitterLinkedinFacebookTelegram
Formado em Jornalismo pela PUC-SP, atua como repórter no Money Times e no Seu Dinheiro, onde também já trabalhou como analista de mídias sociais, com experiência em produção de conteúdo para diferentes plataformas digitais. Antes disso, foi repórter no site Monitor do Mercado.
otavio.rodrigues@seudinheiro.com
Linkedin
Formado em Jornalismo pela PUC-SP, atua como repórter no Money Times e no Seu Dinheiro, onde também já trabalhou como analista de mídias sociais, com experiência em produção de conteúdo para diferentes plataformas digitais. Antes disso, foi repórter no site Monitor do Mercado.
Linkedin

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies.

Fechar