O que a falha da AWS revela sobre a dependência global da nuvem

A Amazon Web Services (AWS) reconheceu nesta segunda-feira (20) “taxas de erro significativas” em sua região US-EAST-1, nos Estados Unidos — onde estão localizados os data centers que sustentam bancos de dados e servidores de empresas no mundo todo.
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Esses sistemas, como o DynamoDB e o EC2, compõem a espinha dorsal de milhares de companhias que alugam da Amazon o poder computacional necessário para manter seus negócios operando.
Quando essa infraestrutura falha, o impacto é imediato e em cadeia: a Alexa deixa de responder, sistemas de check-in de companhias aéreas travam e plataformas financeiras enfrentam lentidão.
De acordo com a Reuters, instituições como Lloyds Bank, Bank of Scotland, Vodafone, BT Group e até o site tributário HMRC, do Reino Unido, relataram instabilidade durante o episódio.
A nuvem que sustenta (quase) tudo
A interrupção da AWS, que afetou milhões de usuários, escancara uma realidade incômoda: a economia digital global depende de poucos provedores altamente concentrados e vulneráveis.
Dados da Technology Magazine mostram que 76% das empresas globais executam aplicativos na AWS, e 48% dos desenvolvedores utilizam diretamente seus serviços. Além disso, mais de 90% das companhias da Fortune 100 dependem da infraestrutura da Amazon em algum nível.
Mesmo empresas que não hospedam seus sistemas diretamente na AWS provavelmente utilizam algum serviço essencial que depende dela. “Mesmo que o seu site não esteja na AWS, algo que você usa — do CRM ao processador de pagamentos — provavelmente está”, disse George Foley, consultor técnico da ESET Irlanda, à Technology Magazine.
O preço da inatividade
As falhas na nuvem não são apenas inconvenientes técnicas — elas custam caro.
Um estudo da Technology Magazine estima que interrupções globais na internet geram bilhões de dólares em perdas anuais, resultantes de queda de produtividade, interrupção de receitas e danos à reputação.
Já um levantamento da Splunk, de 2024, calcula que o custo anual de inatividade para as empresas da Global 2000, da Forbes, ultrapassa US$ 400 bilhões.
Empresas de médio porte, segundo o relatório, podem perder milhares de dólares por minuto fora do ar, enquanto grandes corporações podem acumular prejuízos de centenas de milhões.
Essas falhas configuram um risco sistêmico: bancos sem acesso a sistemas de pagamento, varejistas sem checkout on-line e companhias aéreas sem check-in.
Um padrão que se repete
A falha mais recente da AWS não é isolada. Em 2012, uma pane de 20 horas na véspera de Natal interrompeu parcialmente o streaming da Netflix; em 2021, outra falha derrubou serviços durante o período de compras de fim de ano; e, em 2024, um problema no AWS Lambda afetou empresas de mídia como o Boston Globe e a Associated Press.
Nem mesmo os concorrentes escapam. O Microsoft Azure já enfrentou falhas graves, como a interrupção de rede que derrubou Teams, Outlook e Microsoft 365 em 2023, além do famoso bug de “ano bissexto”, que paralisou certificados de segurança em 2012.
O risco da centralização
O episódio reforça um paradoxo da era digital: a busca por eficiência e escalabilidade levou a uma dependência excessiva de estruturas centralizadas. “O principal motivo é que todas essas grandes empresas dependem de apenas um serviço”, explica Nishanth Sastry, diretor de pesquisa da Universidade de Surrey.
“A concentração da infraestrutura cria pontos únicos de falha, e o impacto é global.”
Para Rafe Pilling, diretor de inteligência de ameaças da Sophos, “a AWS tem uma abrangência tão ampla e complexa que qualquer problema nela pode causar uma grande perturbação”.