Comprar ou vender?

O que afastará o investidor estrangeiro (e manterá o dólar caro) por muito tempo

13 maio 2020, 12:22 - atualizado em 13 maio 2020, 12:54
Dólar
Nos tempos do corona: pandemia é o fator principal, mas há outros que ajudam a manter o dólar alto, e os investidores estrangeiros longe, segundo o BofA (Imagem: REUTERS/Dado Ruvic)

Para desgosto de uma parte dos brasileiros, que ansiava pela queda do dólar para voltar à Disney, a moeda americana não dá sinais de que recuará tão cedo. Há bons motivos para isso, segundo um relatório do Bank of America (BofA) obtido pelo Money Times.

E eles passam por quatro razões que afugentam os investidores estrangeiros do Brasil.

O BofA concentra sua atenção numa operação muito apreciada por investidores globais: as arbitragens de juros e moedas entre países. Em bom português, trata-se de pegar dinheiro emprestado em países com juros baixos, e aplicá-lo em países com juros altos.

Desde que a taxa de câmbio não mude, a operação é lucrativa, pois o dinheiro rende mais juros do que os cobrados pelo empréstimo.

Geralmente, os juros elevados são encontrados em países emergentes, que precisam mantê-los assim por uma série de motivos, que vão de inflação alta a grandes déficits nas contas públicas.

Na outra ponta, estão os países desenvolvidos, que tendem a apresentar juros mais baixos pelas razões contrárias: inflação sob controle e contas públicas em ordem.

Assim, no mercado de arbitragem de taxas e câmbio, o principal fluxo do dinheiro é de países desenvolvidos, onde os investidores pegam empréstimos a juros baixos, para os emergentes, onde esses recursos são alocados, em moeda local, em aplicações com juros altos.

Maio, mês das… vendas

Desde a crise econômica mundial, em 2008, o BofA assinala uma tendência do mercado de liquidar operações de arbitragem no mês de maio.

Há algumas hipóteses, propostas pelo banco americano, sobre por que isso ocorre de modo tão marcante, a ponto de as operações liquidadas neste mês tradicionalmente apresentarem rentabilidade negativa média de 2,5%.

Mas, o mais importante é o que o BofA notou neste ano, e o que pode influenciar, na prática, a taxa de câmbio do Brasil e de outros emergentes nos próximos meses – ou, talvez, anos. A pandemia de coronavírus levou os investidores a resgatarem suas aplicações mais cedo nos emergentes.

Em vez de esperarem por maio, como fizeram nos últimos 12 anos, os investidores começaram a repatriar seu dinheiro em março e abril, o que pressionou o câmbio e fez com que o real e outras moedas de países emergentes perdessem bastante valor nesse período.

Agora, porém, quatro fatores deverão manter os estrangeiros afastados por um bom tempo, e, por tabela, o dólar caro, segundo o relatório do BofA.

1. O câmbio dos emergentes não dá sinais de valorização

O BofA está “vendedor” (bearish) em moedas de emergentes, por considerar que, embora as taxas de câmbio pareçam atraentes, após a forte desvalorização de março e abril, derrubando o valor dos ativos, e a demora dos investidores em recobrarem seu apetite ao risco, é melhor esperar por menos incerteza.

Banco Central
Sem charme: taxa de juros pequena desanima investidores, mas Banco Central tenta reanimar a economia (Imagem: REUTERS/Ueslei Marcelino)

Mas o BofA frisa que não espera que as moedas emergentes, necessariamente, ultrapassem o atual patamar. Tampouco, há sinais de que possam se valorizar rapidamente em relação às moedas mais fortes.

Para os investidores globais, uma taxa de câmbio estável (seja alta, ou baixa) é mais importante, do que o valor em si. Esse seria um fator desprezível, portanto, se não viesse atrelado ao próximo.

2. A política monetária dos emergentes perdeu o charme

Com o câmbio estável (mesmo alto), os investidores ainda poderiam lucrar, ao arbitrar taxas de juros, isto é, pegar dinheiro a juros baixos, em países desenvolvidos, convertê-lo para a moeda de países emergentes e aplicar naqueles com as maiores taxas de juros.

Desde que a moeda emergente não se desvalorize muito, quando o investidor quiser retirar o dinheiro do país, tudo bem. Ele ainda ganhará com a diferença dos juros.

Mas o problema, segundo o BofA, é que os emergentes também estão jogando a taxa de juros no chão, a fim de evitar que o coronavírus arraste todos para uma crise econômica ainda mais forte.

Mesmo em patamares historicamente baixos, os Bancos Centrais ainda podem promover novos cortes, como se espera no Brasil.

A cada novo corte, mais uma leva de investidores encerrará suas aplicações no país e repatriará seu dinheiro para sua terra-natal, pressionando o câmbio e ameaçando a rentabilidade de quem ainda está no Brasil.

O BofA adverte que os bancos centrais de emergentes continuarão intervindo no câmbio, mas apenas para garantir liquidez e controlar a volatilidade, mas não defenderão nenhum patamar de preço.

3. Fundamentos da economia são frágeis

Novamente, o que mais afugenta os investidores é a imprevisibilidade. Quanto mais incerto, maior é o risco e, portanto, menos dispostos eles ficam para aplicar seu dinheiro. Os fundamentos econômicos dos emergentes se deterioraram rapidamente com a Covid-19.

O BofA espera uma marcante deterioração nas contas públicas e fortes contrações desses países. Tudo isso acarretará uma intensa volatilidade na taxa de câmbio, o que manterá os investidores globais afastados.

4. Ninguém sabe o destino da pandemia

Por último, o fim da pandemia de coronavírus é imprevisível, pelo menos, por ora. Enquanto países como a China e os europeus ensaiam reabrir suas economias, após medidas de quarentena, outros, como os EUA e o Brasil, parecem ainda caminhar para o pico de contágios.

O aprofundamento da crise de saúde, nos países emergentes, pode pressionar sua taxa de câmbio, aumentando ainda mais o risco dos investidores globais, se quiserem sair daqui com algum lucro no bolso.

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Diretor de Redação do Money Times
Ingressou no Money Times em 2019, tendo atuado como repórter e editor. Formado em Jornalismo pela ECA/USP em 2000, é mestre em Ciência Política pela FLCH/USP e possui MBA em Derivativos e Informações Econômicas pela FIA/BM&F Bovespa. Iniciou na grande imprensa em 2000, como repórter no InvestNews da Gazeta Mercantil. Desde então, escreveu sobre economia, política, negócios e finanças para a Agência Estado, Exame.com, IstoÉ Dinheiro e O Financista, entre outros.
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