O que esperar da MBRF (MBRF3): diversificação é ponto positivo, mas alavancagem pós-fusão gera cautela

As ações da MBRF (MBRF3), companhia resultante da fusão entre Marfrig e BRF, estrearam na B3 nesta terça-feira (23). Por enquanto, as expectativas do mercado estão divididas: se de um lado a maior diversificação é vista como positiva, de outro, o nível de alavancagem mantém alguns analistas cautelosos.
Em relatório, o Itaú BBA, liderado por Gustavo Troyano, destacou que a estreia marca uma “nova fase” para a companhia. Embora o banco não tenha apresentado recomendação formal de compra ou venda neste relatório, a visão é construtiva.
“A MBRF nasce com pegada complementar em geografias, marcas e canais, transformando a diversificação em vantagem competitiva, não apenas subproduto da escala”, diz o time. “A presença em frangos e em bovinos deve reduzir volatilidade e melhorar a geração de caixa no longo prazo”.
Diversificação e sinergias
Essa diversificação também é destacada pelos analistas do Santander. Para eles, ela deve ajudar a amortecer crises setoriais: se o frango sofre com excesso de oferta e margens apertadas, o boi pode compensar; se a carne bovina entra em ciclo de baixa nos EUA, o frango pode sustentar o caixa.
Para o BBA, a forte presença em frangos no Brasil e em bovinos nos Estados Unidos, somada a marcas consolidadas, também sustenta a qualidade dos ativos da nova empresa. Os dois países onde ela tem suas maiores plantas são conhecidos pelas suas produtividades nos dois setores.
Também do lado positivo, os analistas projetam que a companhia encontrará sinergias já no curto prazo, reduzindo custos ao integrar as operações. A administração estima R$ 485 milhões anuais em ganhos de vendas cruzadas e cadeia de suprimentos, além de até R$ 320 milhões em eficiências de SG&A (despesas gerais e administrativas).
“Sinergias iniciais em vendas cruzadas, logística e SG&A devem reforçar essa resiliência e fortalecer a tese de investimento. Elas serão relevantes, mas os investidores provavelmente esperarão até elas serem demonstradas claramente”, diz o BBA.
Outro ponto positivo mencionado pelos times é que o fim da disputa societária da fusão deve trazer mais clareza sobre governança. Além disso, com maior porte e presença internacional, a MBRF poderá, no médio prazo, buscar acesso a mercados de capitais globais.
O lado negativo: alavancagem pesa para MBRF
Entre os fatores que geram cautela, os analistas destacam a alavancagem da nova companhia. Nas contas do Itaú BBA, a MBRF nasce com um relação entre Dívida Líquida e Ebitda (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização), na sigla em inglês) acima de 3x. O Santander também vê esse ponto como central.
Além da alavancagem, o Itaú ressalta que o valuation inicial da MBRF parece elevado, com múltiplos entre 5,7x e 6,5x EV/Ebitda. Para efeito de comparação, a JBS (JBSS3), que o banco considera mais bem posicionada, negocia perto de 5,8x, mas com menor dívida relativa e geração de caixa mais robusta.
Outro ponto de atenção, por fim, é o ciclo de bovinos nos Estados Unidos. Atualmente, a oferta de gadono país está reduzida, o que pressiona custos e margens.
“No segmento de carne bovina dos EUA, a administração indicou que 2026 pode trazer estabilidade de margens na comparação anual, cenário que ainda não vemos refletido nas expectativas do mercado”, afirma o Itaú BBA, classificando essa incerteza como o principal risco de curto prazo.
“A nova estrutura promete ganhos estratégicos, como maior resiliência aos ciclos de proteína e sinergias operacionais relevantes, embora o cenário setorial siga desafiador, com margens pressionadas no segmento de carne bovina nos EUA”, corrobora o BBI.
O Itaú BBA tem uma visão construtiva, apesar de não ter recomendação formal no relatório de estreia, citando uma melhora do ciclo nos EUA. (o que impulsionaria o Ebita e diminuiria a alavancagem). O Santader vai no mesmo caminho, ao ainda revisitar a tese. O Bradesco BBI, por sua vez, está neutro, com preço-alvo em R$ 24.