Brasil

O que João Doria, Arthur do Val e Daniel da Silveira têm em comum?

29 maio 2022, 17:00 - atualizado em 27 maio 2022, 21:06
João Dória
Doria não conseguiu apoio dentro do próprio PSDB para concorrer à presidência (Imagem: Shutterstock/Vitor Vasconcellos)

João Doria (PSDB), em 2016, e Arthur do Val (União Brasil) e Daniel Silveira (PTB) em 2018, entraram na vida política, cada um à sua maneira, prometendo mudanças e com um variações de um mesmo discurso antissistema.

Agora, após uma sucessão de tombos na vida pública ocorridos durante as últimas semanas, o grupo acumula uma frustrada corrida presidencial, uma cassação de mandato e uma condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), com cada um dos nomes enfrentando seu próprio futuro incerto.

Para cientistas políticos ouvidos pelo Money Times, apesar de trajetórias e quedas diferentes, todos os três tinham a mesma “pedra no sapato”.

Quedas em série

Ao final de abril, o ex-deputado federal Daniel da Silveira  foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal pelos crimes de coação e atentado ao Estado Democrático de Direito, ao proferir discursos de incentivo à violência e ameaçar ministros da corte no início do ano passado.

Salvo da prisão pelo perdão presidencial– ou indulto da graça — concedido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) um dia depois da decisão do STF, Silveira escapou apenas momentaneamente de perder seus mandatos e direitos políticos.

À espera de decisão da Câmara dos Deputados sobre sua situação eleitoral, Silveira já não se encontra em posição de proteção do presidente, que disse em entrevista nesta quinta-feira (26) que mal conhece Silveira, colocando inclusive em dúvida o fato de ele ser chamado pela imprensa de “bolsonarista”.

Na véspera (25), o procurador geral da República Augusto Aras afirmou ser favorável à inelegibilidade o deputado, apesar de considerar ser constitucional o indulto concedido pelo presidente

Já ex-deputado estadual Arthur do Val  não contou com graça nenhuma ao ser unanimemente cassado pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no dia 17 de maio, resultado do vazamento de áudios no início de março em que falava que mulheres ucranianas eram “fáceis, porque são pobres”.

Com a cassação, veio também a inelegibilidade pelos próximos oito anos.

E mais recentemente, na segunda-feira (23), uma racha no ninho dos tucanos ganhou ainda mais contornos com a saída do então candidato à presidência João Doria da corrida eleitoral. Mesmo vencedor das prévias do partido, Doria não conseguiu apoio político o suficiente dentro de sua própria legenda para se manter como o candidato da chamada “terceira via”.

O ex-governador tinha pequena, mas visível vantagem nas pesquisas sobre nomes como André Janones e sua possível substituta na escolha dos partidos que rejeitam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, Simone Tebet. Mas, em seu pronunciamento, Doria afirmou entender não ser a escolha da cúpula do PSDB e que “deixa a disputa com o coração ferido, mas com a alma leve”.

Para especialistas ouvidos pelo Money Times, algo em comum une os três casos de pessoas que, em suas devidas proporções, chegaram prometendo muito e acabaram conseguindo pouco na política brasileira.

Apoio faz falta

O cientista político e professor da  professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP) Paulo Ramirez vê a ascensão e queda das três figuras, mesmo que com aspectos diferentes umas das outras, como partes fundantes de um mesmo fenômeno — o fraco traquejo na vida política.

“A política é feita de partilha. E quando esses indivíduos chegam na política, eles se desgastam, pois não conseguem sustentação partidária. Acabam tendo essas bandeiras que os próprios partidos não levam adiante, pois têm tradição de buscar diálogos e consensos”, afirmou.

Marco Antônio Teixeira, professor de ciência política da FGV, ressalta que é importante diferenciar os caminhos pelos quais Doria e os outros dois políticos foram lançados.

Enquanto Doria seguiu a linha “tradicional”, tendo se aliado a figuras como Geraldo Alckmin e disputado prévias em seu partido, Silveira e Do Val são crias “da mídia” e das redes sociais. Isso, inclusive, foi fator determinante para os deputados federal e estadual protagonizarem episódios mais dramáticos que o tucano, como a condenação pelo STF para Silveira e a concretização da cassação de Do Val.

“O Doria, da mesma forma que começou meteoricamente carreira e almejou meteoricamente a presidência da república, sucumbiu, pois foi colecionando inimigos. Não fez aliança, não foi costurando, foi expelindo adversários e tratando mesmo pessoas do partido dele como inimigas. O caminho foi inevitável”, disse, explicando o isolamento do tucano dentro do jogo político.

“Já o Silveira e Do Val trouxeram para a política a impressão de que tudo poderia ser feito, e que a política era um campo aberto. Estavam tão acostumados com a mídia, lugar de onde vieram, que perderam o limite da civilidade, do respeito da compaixão. E aí, a corda quebrou”, explicou.

“Nos três casos, faltou fazer política, e principalmente a noção de que a política é um processo civilizatório, um processo de soma, e não de divisão”, disse.

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