O que os números do Minha Casa Minha Vida revelam sobre o futuro da habitação
Agosto marcou um ponto de virada para o setor da construção civil. O programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), financiado com recursos do FGTS, atingiu o maior volume de contratações da história. Esse dado revela uma transformação estrutural no mercado imobiliário, especialmente no segmento de habitação popular.
O avanço é resultado de uma combinação de fatores que criaram um ambiente favorável ao crescimento. As políticas públicas foram aprimoradas, com aumento nos limites de renda, redução nas taxas de juros e ajustes importantes nas faixas de atendimento. Ao mesmo tempo, a confiança do consumidor cresceu e devolveu fôlego ao planejamento financeiro das famílias. A demanda reprimida, que durante anos esbarrou em barreiras de acesso, finalmente encontrou espaço para se manifestar. E o mercado reagiu.
Quem não lê o mercado, perde o timing
Do ponto de vista empreendedora, esse novo momento exigiu um redesenho do nosso portfólio. Deixamos de olhar para trás e passamos a projetar os empreendimentos com base no que o novo cenário permite. Isso significou repensar localização, padrão construtivo, faixa de preço e velocidade de execução.
- LEIA AGORA: Resultados do 3T25: Veja como os números das empresas listadas na bolsa brasileira impactam o seu bolso
O objetivo foi claro: entregar um produto que dialoga com o momento do país, sem comprometer nossa sustentabilidade financeira e nossa reputação.
Hoje, o foco das construtoras está em empreendimentos que combinam valor acessível, velocidade de venda e manutenção da margem. Essa equação, que parece simples, é um dos maiores desafios da construção civil em ciclos de expansão. E só é possível quando a operação está organizada, os dados são bem interpretados e as decisões são tomadas com agilidade.
MAP saiu de cena. E agora?
Enquanto o MCMV vive seu melhor momento, o financiamento habitacional voltado à classe média passa por uma transição significativa. O antigo modelo de financiamento MAP (Modelo de Aquisição Programada) deu lugar ao Poupança+, que chega com novas regras, novas possibilidades e um impacto direto sobre o comportamento do consumidor. A proposta traz maior flexibilidade, taxas potencialmente mais competitivas e abre espaço para novos perfis de compradores.
Mas toda mudança no crédito exige preparo. Para as construtoras que atuam nesse segmento, isso representa revisar produtos, ajustar processos internos, reavaliar a jornada de compra e adaptar as estratégias comerciais. A resposta precisa ser rápida, sem perder consistência. Quem conseguir assimilar o novo modelo com agilidade vai ganhar espaço e quem esperar demais pode perder relevância.
Do popular à classe média: como manter o pé firme nos dois terrenos
Atuar com força tanto no segmento popular quanto no de classe média exige equilíbrio. Afinal, as dinâmicas, o público, os prazos e os desafios são diferentes. Por isso, sempre enxerguei essa atuação dupla como um jogo com dois regulamentos. Você precisa saber onde pisa, entender as expectativas de cada tipo de comprador e estruturar a empresa para lidar com as frentes de forma simultânea.
Hoje meu time tem operado com dois grandes pilares para manter a competitividade em ambos os terrenos. O primeiro é a flexibilidade operacional, que inclui custos controlados, prazos bem definidos, estrutura e foco em produtividade. O segundo é o relacionamento com o cliente, em entender o comportamento de compra, oferecer um atendimento personalizado e se adaptar às necessidades de cada perfil.
A experiência de compra começa no primeiro contato, não na assinatura do contrato. E isso vale para todos os públicos.
- LEIA TAMBÉM: Tenha acesso às recomendações mais valorizadas do mercado sem pagar nada; veja como receber os relatórios semanais do BTG Pactual com o Money Times
2026 não é o futuro. Já começou.
As projeções para 2026 são otimistas, mas o trabalho para chegar até lá precisa começar agora. A continuidade da política habitacional, a manutenção do crédito subsidiado e a expansão das novas faixas do MCMV devem sustentar o ritmo de lançamentos no segmento popular. A demanda segue reprimida e a necessidade por moradia segue latente, se tornando um campo fértil para empresas comprometidas com entrega e agilidade.
Junto disso, o segmento de classe média deve voltar a crescer à medida que o Poupança+ se consolida. Se os bancos mantiverem o apetite por crédito imobiliário e o cenário macroeconômico colaborar, teremos um mercado ativo em duas pontas. Isso exige das construtoras visão de longo prazo e decisões baseadas em dados, não em intuição.
Olhando para esse panorama, reforço a ideia de que construir moradias vai além de erguer prédios. Envolve acesso, pertencimento e impacto social. O que está em jogo não é só o número de unidades lançadas, mas a transformação que essas unidades proporcionam.
Ou seja: cada projeto é um passo concreto na direção de um país mais justo, mais habitável e mais humano.