O que são as “cidades-esponja”, conceito criado pelo arquiteto Kongjian Yu, morto em acidente aéreo
Cada vez mais fortes temporais têm afetado diversas cidades no Brasil. As enchentes no Rio Grande do Sul, que deixaram mais de 6,5 mil pessoas desabrigadas em 2024, é um exemplo disso. Foi pensando nisso que o arquiteto chinês Kongjian Yu desenvolveu o conceito das “cidades-esponja”.
A ideia surgiu após uma grande tragédia em Pequim, em 2012, quando chuvas intensas deixaram parte da capital chinesa submersa, causando a morte de quase 80 pessoas.
Desde então, a China tem investido em projetos para que as cidades consigam absorver o excesso de água da chuva, minimizando alagamentos.
Como funcionam as cidades-esponja
O modelo urbanístico proposto por Yu visa redimensionar as cidades para que a água da chuva seja absorvida de forma natural, evitando enchentes e promovendo qualidade ambiental.
VEJA TAMBÉM: Ações para comprar ou vender após decisões de juros no Brasil e nos EUA; confira o novo episódio do Money Picks no Youtube
Principais soluções adotadas:
- Parques alagáveis: áreas verdes que funcionam como reservatórios temporários de água. Durante as cheias, armazenam o excesso e, em períodos secos, viram espaços de lazer que promovem biodiversidade e bem-estar urbano.
- Telhados verdes: coberturas vegetadas de prédios que ajudam a reduzir a água que chega ao sistema de drenagem, melhoram a qualidade do ar e regulam a temperatura local.
- Calçamentos permeáveis: pisos que deixam a água infiltrar no solo, evitando acumulações nas ruas e facilitando a drenagem.
- Praças-piscina: espaços públicos que acumulam água em dias de chuva para evitar que ela cause alagamentos nas ruas, como a Praça Benthemplein em Roterdã.
- Bioswales (valetas verdes): canais vegetados que filtram e absorvem a água da chuva, controlando o escoamento e melhorando a qualidade da água; comuns em projetos urbanos nos EUA e na China.
- Rios renaturalizados: remoção das margens de concreto para permitir que os rios voltem a funcionar naturalmente, absorvendo e armazenando cheias e recuperando ecossistemas urbanos.
Aplicações globais do conceito
- China: parques como Yanweizhou (Jinhua) e Yongning (Taizhou) substituem muros de contenção por áreas verdes, reduzindo enchentes.
- Holanda: Roterdã criou praças-piscina com capacidade para armazenar milhões de litros de água em tempestades.
- Dinamarca: Copenhague adotou calçamentos permeáveis após enchentes devastadoras em 2011.
- Estados Unidos: Nova York construiu parques ao longo do East River para conter inundações.
- Tailândia: Bangkok conta com o parque Chulalongkorn, que inclui reservatórios subterrâneos temporários.
No Brasil, a aplicação do conceito ainda é embrionária, mas cidades como Curitiba lideram alguns (poucos) avanços.
Desde a década de 1970, Curitiba investe em espaços verdes como o Parque Barigui, com 140 hectares que ajudam a controlar o excesso de água da chuva. Outros parques da cidade, como São Lourenço, Bacacheri, Tingui e Atuba, também colaboram para a redução de enchentes, aproximando-se do modelo das cidades-esponja.
Acidente aéreo que matou Kongjian Yu
Na noite de terça-feira (23), um avião de pequeno porte caiu na zona rural de Aquidauana (MS), no Pantanal, matando quatro pessoas, entre elas Kongjian Yu, renomado arquiteto chinês. O acidente ocorreu próximo à Fazenda Barra Mansa, reconhecida locação da novela “Pantanal” e destino turístico.
As vítimas identificadas são:
- Marcelo Pereira de Barros, piloto e proprietário da aeronave
- Kongjian Yu, arquiteto e professor da Universidade de Pequim
- Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz, cineasta documentarista
- Rubens Crispim Jr., diretor e documentarista
Segundo amigos, Yu e Luiz Fernando estavam filmando um documentário sobre o conceito das cidades-esponja.
Kongjian Yu era conhecido por suas inovações na arquitetura moderna e sustentabilidade. Fundador do escritório Turenscape, foi consultor do governo chinês em projetos de manejo sustentável de águas pluviais e fluviais.