Commodities

O que sustenta os preços do milho no mercado internacional, segundo o Itaú BBA

25 fev 2025, 15:40 - atualizado em 25 fev 2025, 15:41
Milho preços
(iStock.com/SimonSkafar)

A oferta global restrita de milho sustenta os preços em Chicago (CBOT)No ciclo 2024/2025, a expectativa é de uma redução dos estoques globais, com menor produção dos Estados Unidos e um crescimento da demanda mundial, segundo o Itaú BBA.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Segundo o USDA, a safra americana em 2024/25 foi de 378 milhões de toneladas, contra uma produção de 390 milhões de toneladas em
2023/24, a maior da história, o que acaba sendo determinante para a redução de 1% da produção mundial do cereal.

Apesar da expectativa de crescimento da demanda abaixo da média dos últimos 5 anos (2% da média versus 1% para 2024/25), os estoques devem apresentar baixa importante, de cerca de 25 milhões de toneladas sobre a safra anterior, o que traz a relação estoque/consumo global para 24%, o menor nível desde a temporada 2013/2014.

Ainda no cenário internacional, a Argentina, terceiro maior exportador, tem sofrido com problemas climáticos em fase importante do desenvolvimento da cultura no campo.

Desde a virada do ano, as chuvas vêm acontecendo de forma irregular sobre as áreas produtoras do país, o que trará prejuízos para a
produção.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O USDA já ajustou para baixo, em 1 milhão de toneladas, a safra argentina em relação à expectativa inicial, passando de 51 para 50 milhões de toneladas. Entretanto, agentes do mercado e mesmo fontes do próprio país projetam uma safra menor, mais próxima de 45 milhões de toneladas.

Embarques dos EUA seguem elevados e trigo como substituto

Além dessas questões, as exportações americanas permanecem robustas, com o milho dos EUA mantendo-se como a opção mais barata no mercado internacional.

A projeção do USDA é de que as exportações americanas alcancem 62,2 milhões de toneladas na safra atual, maior volume desde 2021/2022.

Diante desse cenário, os fundos especulativos seguem com uma posição comprada elevada, ainda apostando na alta dos preços. Os fundos não formam o preço, mas acabam potencializando os movimentos tanto para cima quanto para baixo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“E por último, saindo do milho e indo para o trigo, a situação do balanço de oferta e demanda é parecida, com enxugamento dos estoques globais. Embora o trigo seja substituto do milho nas rações e a relação de preços entre os dois esteja mais favorável ao trigo, dada a alta recente mais forte do milho, no cenário do trigo há preocupações com o aperto da oferta global devido ao clima no Hemisfério Norte, o que pode elevar a cotação do cereal”, apontam os analistas.

Dada a correlação de preços entre os dois grãos, a valorização do trigo acaba, de certa forma, servindo como um suporte adicional para as cotações do milho.

E o milho no Brasil?

O cenário internacional tem repercussão no Brasil, onde os preços apresentaram valorização e se mantêm em patamares elevados. Além do contexto externo, a situação interna adiciona um prêmio de risco aos preços domésticos: o estoque de passagem combinado à produção da primeira safra mantém o balanço interno apertado no primeiro semestre, oferecendo pouca margem para uma redução na oferta da segunda safra.

Apesar da expectativa de uma safra nacional maior em 2024/25, o consumo crescente deve se traduzir em redução dos estoques internos de milho.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“Esperamos um consumo da ordem de 88 milhões de toneladas (+5% ante 2023/24), capitaneado pelo aumento do uso do cereal para a produção de etanol, que deve crescer 20% sobre a safra passada, para 21,1 milhões de toneladas. As exportações podem voltar a apresentar algum crescimento em relação ao ano anterior, o que resultaria em queda para o estoque doméstico de milho”.

Clima e plantio adicionam prêmio de risco

De acordo com o BBA, o desempenho da segunda safra do cereal será fundamental para o comportamento dos preços. “O plantio avançou bem nas últimas semanas. Consideramos como janela ideal de plantio para o milho 2ª safra em Mato Grosso o período entre janeiro e meados de fevereiro. Porém, o milho plantado até o final de fevereiro ainda estaria numa janela favorável, mas já com maior possibilidade de redução do potencial”.

Ainda tomando como referência Mato Grosso, responsável por quase 50% da oferta de milho 2ª safra, outro fator crucial fica para concentração desse plantio, com grande parte da área sendo plantada num intervalo de poucas semanas, o que aumenta a atenção para as previsões climáticas de abril e maio.

No Paraná, outro grande produtor de segunda safra, o plantio alcançou 56% da área projetada e a germinação tem sido favorecida pela boa umidade do solo e temperaturas elevadas. Para o estado, a expectativa é de crescimento da área de milho e redução para a área de trigo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Quanto ao clima, os modelos apontam para um processo de aquecimento do Pacífico, que deve caminhar de La Niña para a neutralidade nos próximos meses.

Em anos de clima neutro na transição entre o verão e o outono, as chuvas tendem a cortar mais cedo na faixa central do Brasil, fazendo com que, geralmente, as precipitações fiquem abaixo da média nos meses de abril e maio.

Outro reflexo dessa mudança do Pacífico é a possibilidade de entrada de massas de ar polar antecipadas, o que colocaria um ponto de atenção nas áreas de segunda safra do MS, SP e PR.

“Nesse momento, os mapas de projeção de chuva apresentam alguma divergência em relação às precipitações para abril: enquanto o modelo americano mostra um mês com desvio significativo para as chuvas, indicando volumes abaixo da média para a porção central do Brasil, o modelo europeu indica chuvas entre dentro a acima da média para a mesma região, o que gera ainda mais dúvidas sobre o desempenho das precipitações em um mês chave para as lavouras”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Com isso, os preços internos do milho seguem apresentando um prêmio de risco, com os valores alcançando o maior patamar em quase dois anos. Adicionalmente, podemos citar o aumento do preço do frete e a hesitação dos produtores em comercializar o grão.

A questão logística para o milho

A dificuldade de logística se apresenta com a colheita da safra recorde de soja, o que levou a uma condição de falta de caminhões e aumento substancial do preço do frete. Soma-se a isso uma comercialização em ritmo ainda lento, com os produtores aguardando preços ainda mais altos. Esse cenário intensifica a escassez nos consumidores, deixando estoques em níveis baixos e preços valorizados.

A curva do milho na B3 apresenta formato invertido, ou seja, preços futuros menores que os preços atuais. Isso porque a maior parte da safra de milho do Brasil, cerca de 75%-80%, entra no mercado no segundo semestre.

Sendo assim, o desempenho da segunda safra será fundamental para que a expectativa de preços internos menores no segundo semestre de 2025 se confirme.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Além disso, outro fator que pode jogar a favor da desvalorização dos preços é a sinalização de que os americanos devem plantar mais milho e menos soja na safra 2025/26, diante da relação de preços mais favorável para o cereal.

“No dia 31 de março, o USDA divulgará o relatório de intenção de plantio, que pode confirmar a expectativa. A possibilidade de alguma resolução do conflito no Mar Negro também atuaria como fator baixista para os preços. Contudo, no curto prazo, os preços do milho devem seguir sustentados devido à conjuntura internacional, baixa oferta doméstica, demanda interna firme para carnes e etanol e à hesitação dos produtores em comercializar o grão.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

No mercado há mais de 5 anos, o Money Times é referência em investimentos pessoais, educação financeira, gestão de carreiras e consumo no mercado brasileiro. No Money Times, investidores, analistas, gestores e entusiastas do ambiente econômico brasileiro usufruem de textos objetivos e de qualidade que vão ao centro da informação, análise e debate. Buscamos levantar e antecipar discussões importantes para o investidor e dar respostas às questões do momento. Isso faz toda a diferença.
equipe@moneytimes.com.br
No mercado há mais de 5 anos, o Money Times é referência em investimentos pessoais, educação financeira, gestão de carreiras e consumo no mercado brasileiro. No Money Times, investidores, analistas, gestores e entusiastas do ambiente econômico brasileiro usufruem de textos objetivos e de qualidade que vão ao centro da informação, análise e debate. Buscamos levantar e antecipar discussões importantes para o investidor e dar respostas às questões do momento. Isso faz toda a diferença.