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O show do agro não pode parar: A resiliência do setor e os fatores estruturais positivos na Agrishow

07 maio 2025, 11:28 - atualizado em 07 maio 2025, 14:52
Agrishow agronegócio
(Foto: Divulgação)

Não deixo de me surpreender com a força, a pujança e a competência do agronegócio brasileiro, a cada ano que passa.

A capacidade de trabalho, o empreendedorismo e a resiliência do produtor rural brasileiro, só aumentam, mesmo que algumas dificuldades apareçam no horizonte e os cenários econômicos nacional e global insistam em não colaborar.

Pior para a conjuntura adversa, porque como se diz por aí: “O agro não para”.

A Agrishow é sempre um “show” à parte

Foi com essa certeza em mente que este colunista se dirigiu à Agrishow nos dias 28 de abril e 02 de maio da semana passada – como faz todos os anos – para testemunhar o que estava ocorrendo por lá.

E para variar, pode-se ver o cardápio de atrações, com muita tecnologia dentro e fora da porteira e participação maciça do público.

A animação era grande e muitos produtores, empresários, financiadores, agroindústrias e indústrias de máquinas, equipamentos e implementos investem tempo e recursos financeiros vultosos para disputar a atenção do cliente, mesmo que o “fantasma” dos custos altos dos financiamentos com a Selic a 14,25% e a escassez de algumas fontes de crédito pelo aumento do risco de crédito no setor, ainda insistissem em tentar atrapalhar o espetáculo do agronegócio brasileiro.

Os números oficiais da Agrishow impressionam

É que segundo release divulgado pela própria organização do evento na semana passada a 30ª edição da feira internacional alcançou novo recorde em intenção de negócios, com cerca de 7% de crescimento em relação à edição anterior, de 2024, girando em torno de R$ 14,6 bilhões.

Além disso, o número de visitantes representou novo recorde com cerca de 197 mil visitantes na feira, ainda segundo a organização do evento.

Ademais, o presidente do evento manifestou que a concretização dos negócios nos volumes intentados, claro, vão depender do Plano Safra que está por vir e de uma solução de gestão pública mais adequada de parte dos fatores conjunturais que estão levando à escassez e à diminuição do crédito ao setor.

Desafios existem para serem superados

Confesso, porém, que andava com um certo ceticismo por conta do “tarifaço” de Donald Trump, objeto de nossa última coluna. Também, confesso que a proximidade com a data de 30 de abril, data de vencimento da maioria das CPR (Cédula do Produtor Rural) de soja dessa última safra me causava calafrios, dados os últimos relatos e dados de recuperações judiciais do produtor rural requeridas por alguns produtores endividados nos últimos meses.

A maioria delas, diga-se, bem da verdade, insufladas por quem nada tem a ver com o agronegócio e o dia a dia do produtor no campo, mas que só aumentava as incertezas para a oferta de crédito ao agro e o meu ceticismo em relação ao plantio da próxima safra.

Podemos dizer que alguns desses temores, como o do vencimento das CPR de soja no dia 30/04 sem a contrapartida da boa liquidação das dívidas de alguns produtores se concretizaram – o telefone deste colunista não parou de tocar nesse dia com alguns defaults de contratos e títulos de crédito – , como também o próprio crédito andava escasso até nos stands dos financiadores presentes à Agrishow, mas no final das contas a colheita de quase 100% da safra recorde representava um alívio para a maioria dos presentes.

O Plano Safra 25/26 será também um capítulo à parte, mas as notícias recentes do aumento de dotação orçamentária para o seguro rural, já trazem um novo alento para as expectativas em torno da equalização orçamentária dos juros pleiteada pelas associações e organizações de produtores, por conta do desarranjo das contas públicas que inferem aumento desmedido da taxa Selic e ajudam a encarecer o “mix” do crédito ao setor.

Fatores estruturais positivos ainda sustentam as expectativas para o setor

A colheita da nova safra recorde com cerca de 325 milhões de toneladas, conforme as últimas previsões da Conab, além da recuperação dos preços de alguns dos principais produtos agropecuários, como o café, por exemplo, ao longo do período, ajudaram bastante na alteração dos humores em geral.

Adicionalmente, como temos falado daqui dessa coluna, precisamos levar em conta alguns fatores estruturais e até conjunturais positivos, tais como:

  • Aumento de recursos privados/formas de financiamento para o agro: o Plano Safra 24/25 e os próprios números do mercado, com cerca de R$ 1.2 trilhão em títulos do agronegócio, no último informativo do Mapa, além do aumento da disponibilidade de recursos via Fiagro e demais títulos do agronegócio, traduzem uma maior oferta de recursos privados ao produtor rural e ao gestor de negócios na Cadeia Ampla do Agronegócio, mesmo com todos os fatores adversos e desafios no âmbito local e global acima elencados;
  • Demanda firme do mercado de capitais: Assim, diante da conjuntura internacional mais volátil e incerta, nos parece que, ao menos, o apetite de investidores para o agronegócio e seus “produtos financeiros” distribuídos no mercado de capitais não diminuiu – apesar de ter se tornado mais seletivo -, muito pelo contrário, como prova disso, temos as novas emissões de quotas de Fiagros e até de CDCA – Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio e CRA – Certificados de Recebíveis do Agronegócio, em valores que envolvem bilhões de reais, confirmando o apetite do mercado (e do investidor) por mais (e mais diversos) papéis do setor;
  • Importância das vendas de produtos à China e outros países: tendencia de aumento das negociações diretas de produtos agropecuários com China e outros países, como Turquia, Vietnã, Japão, dentre outros, com pedidos mais consistentes, além de expectativas de aumento relevante do PIB do setor para esse ano, refletem uma consistência na demanda das commodities no tempo, aumentando as certezas quando se tem por horizonte o médio/longo prazos no agronegócio. Isso também por conta do “Tarifaço” do governo norte-americano e as oportunidades de curto e médio prazos de intensificação dos negócios Brasil e China por conta desse fator; e
  • Disposição do BC em se manter firme na Política Monetária: o Banco Central do Brasil continua a sinalizar firme em relação à sua posição de independência institucional, defendendo a moeda em detrimento das questões fiscais conjunturais enfrentadas pelo Governo Federal, o que, apesar de no curto prazo representar a manutenção das taxas em patamares altos, tendem a reduzir expectativas inflacionárias no médio e longo prazos, mantendo o câmbio em patamares ainda racionais, ajudando a previsibilidade mais a longo prazo e diminuindo um pouco a volatilidade atual que pode ensejar problemas maiores de execução de contratos já firmados.

Ademais, nunca é demais lembrar que a resiliência do produtor rural no Brasil, o empreendedorismo de quem atua na Cadeia Ampla do Agronegócio, as novas tecnologias para o setor – que deram mostras na Agrishow de que se tornarão muito em breve escaláveis – além do nosso clima, dos marcos regulatórios estáveis e a importância do Brasil para o mercado global e a sustentabilidade do planeta, sinalizam que a próxima safra pode vir com recuperação maior de preços e manutenção dos patamares de alta produtividade, mesmo com alguns fatores conjunturais adversos que ainda temos enfrentado no setor. Sigamos adiante.

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André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
andre.passos@moneytimes.com.br
André Ricardo Passos de Souza, é sócio-fundador do PSAA - Passos e Sticca Advogados Associados -, com MBA em Finanças e Mercado de Capitais pela MP Consultoria/Banco BBM, LLM em Direito do Mercado Financeiro e de Capitais pelo IBMEC, bacharel em direito pela UERJ. Professor nos programas de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Conselheiro Fiscal da Beneficência Portuguesa de São Paulo.