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Opinião: IPO na hora certa

19 out 2017, 15:20 - atualizado em 05 nov 2017, 13:53

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Por Paulo Funchal, líder da área de Transações da Grant Thornton Brasil

Questionamentos não faltam quando o assunto é abertura de capital. A empresa precisa estar preparada, mas isso não basta: os administradores devem também avaliar qual o momento mais adequado, pois o interesse e o preço das ações serão determinados pelo ânimo dos investidores.

A avaliação de um cenário para abertura não é uma tarefa trivial, já que desde o início da preparação da empresa até ao dia efetivo da oferta inicial de ações podem decorrer até três anos. A montagem de cenários, partindo da situação econômica atual e de seus potenciais desdobramentos, é o alicerce de uma estratégia para a abertura de capital — condições favoráveis atraem mais investidores e amplificam as chances de se maximizar a demanda pelas ações da empresa, implicando um preço mais alto.

A tarefa é complexa, já que o Brasil nos últimos anos passou pela maior recessão de sua história. No início do ano, tínhamos a percepção de que o país superaria a recessão ainda no primeiro semestre, mas a retomada foi postergada por causa da instabilidade política. Hoje a expectativa de melhora para os próximos anos já se mostra menos incerta. O cenário do mercado de capitais externo também deve ser avaliado, já que a conjuntura de liquidez internacional e a procura por melhores retornos serão relevantes.

A expectativa de queda da taxa Selic é um grande impulsionador do mercado de capitais, pois tende a levar os investidores a migrar para ativos mais arriscados. Do ponto de vista do mercado externo, ainda existe um quadro de grande liquidez e de juros extremamente baixos — mais um ponto favorável ao mercado de ações.

Assim, o componente cenário econômico abre algumas janelas de oportunidades. Mas isso não dispensa a necessidade de as empresas saberem se estão preparadas para encarar uma abertura de capital. Um IPO (oferta pública inicial de ações) mal projetado, além de não resultar nos benefícios esperados, pode criar uma projeção negativa para a empresa. É essencial que a organização verifique se está pronta para passar de ter “um dono” para ter investidores.

Mesmo que o atual proprietário continue com o controle depois do IPO, a empresa deverá estar preparada para atender as regras de um ambiente de investidores. Isso envolve um processo formal de governança corporativa, que deve atender os requisitos legais e regulatórios. No planejamento de um IPO são enfrentados alguns desafios, entre eles:

– reestruturação dos procedimentos internos, para se fazer frente à regulamentação de uma empresa de capital aberto;

– absorção de uma cultura de empresa aberta;

– implementação de uma estrutura sólida de governança corporativa, com grande foco em compliance e gestão de riscos;

– preparação para auditoria externa;

– treinamento dos executivos para se comunicarem com o mercado;

– criação da cultura de planejamento estratégico.

As vantagens da abertura de capital, no entanto, são proporcionais a esses desafios. Podem ser citados benefícios como maior exposição da marca para o mercado, inclusive no cenário internacional; melhor percepção da operação pelos agentes financeiros, com potencial redução dos custos de financiamento; abertura de oportunidade para uso do mercado de capitais para lançamento de dívida; chance para captações de equity, por meio de aumento de capital;valuation constante feito pelo mercado, evidenciando a qualidade da estratégia da organização; melhor avaliação de risco da empresa; e oportunidade de utilização das ações como moeda de troca em projetos de M&A.

Não há dúvida de que um projeto bem estruturado é uma ferramenta valiosa para um crescimento rápido e saudável. A abertura de capital deve ser encarada como um dos principais projetos estratégicos da organização, com alinhamento entre melhoria de procedimentos internos e avaliação prospectiva do melhor momento para sua execução.

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