Opinião: Mesmo com a queda dos juros, os FIDCs seguirão atraentes
Os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) vêm ganhando espaço de forma consistente no portfólio dos investidores brasileiros em um ambiente marcado por juros elevados. Mas seu apelo não se restringe ao cenário atual: mesmo com a perspectiva de redução da taxa básica de juros, esses fundos tendem a manter sua relevância graças à relação favorável entre risco e retorno.
A estrutura dos FIDCs permite a aquisição e gestão de diferentes tipos de recebíveis, desde dívidas empresariais até carteiras de crédito consignado público ou privado. Essa composição diversificada contribui para a diluição do risco, enquanto os retornos frequentemente superam o CDI — um diferencial importante frente a outras categorias de fundos.
Nos últimos cinco anos, as cotas seniores dos FIDCs entregaram, em média, uma rentabilidade em torno de CDI + 3% ao ano. Essa diferença de desempenho tem atraído investidores que desejam retornos acima da taxa DI sem se expor à volatilidade típica da renda variável. Em um ambiente de juros altos, essa combinação se torna ainda mais competitiva.
A captação líquida dos FIDCs nos 12 meses encerrados em agosto alcançou R$ 122,17 bilhões — quase três vezes o volume captado pelos fundos de renda fixa, que somaram R$ 42,68 bilhões. O movimento indica uma migração de recursos de multimercados e fundos tradicionais para os FIDCs.
Projeções reforçam essa tendência: a participação da renda fixa no patrimônio total da indústria de fundos deve cair de 48%, em 2016, para 23,1%, em 2030, enquanto os FIDCs devem saltar de 2,5% para 17,4%.
Mas o que acontece quando os juros caem? Os FIDCs perdem atratividade? A resposta é não. Embora a redução da Selic possa afetar a rentabilidade nominal desses fundos, há fatores compensatórios.
O menor custo de capital melhora a saúde financeira das empresas — especialmente das mais endividadas —, reduzindo a inadimplência e fortalecendo o risco de crédito dos recebíveis. Com carteiras mais robustas, os fundos têm espaço para ampliar o volume de operações e buscar retornos percentualmente mais altos em relação à taxa básica, superando com folga os fundos tradicionais de renda fixa.
Outro elemento que impulsiona a expansão dos FIDCs é a democratização do acesso. Antes restritos a investidores qualificados, esses fundos passaram a ser ofertados a um público mais amplo após a Resolução CVM 175. Hoje, é possível investir a partir de R$ 1 mil. O impacto foi imediato: o número de investidores saltou de 34,1 mil em dezembro de 2021 para 327.706 em setembro deste ano — um impressionante crescimento de 1.042%.
As projeções indicam que o mercado deve contar com mais de 10.000 FIDCs até 2030 — quase quatro vezes os 3.003 existentes no fim de 2024. O patrimônio líquido também deve ultrapassar R$ 3 trilhões nos próximos cinco anos. Esses números mostram que os FIDCs não apenas ampliam sua participação no sistema financeiro, como também têm potencial para ocupar papel central na alocação de recursos dos investidores.
A combinação de retornos superiores ao CDI com riscos bem delimitados tem sido determinante para essa expansão. Mesmo com a tendência de queda dos juros, os fundamentos que sustentam os FIDCs permanecem sólidos: carteiras mais diversificadas, fundos cada vez melhor estruturados, maior subordinação e uma base crescente de investidores.
O cenário atual é favorável, mas o horizonte de médio e longo prazo também aponta para a consolidação dos FIDCs como peça fundamental na estrutura de crédito do país. A evolução regulatória, a mudança no perfil dos investidores e a performance consistente reforçam essa trajetória. Em um mercado em transformação, os FIDCs se destacam como uma alternativa capaz de combinar retorno e segurança — com potencial de protagonismo mesmo em diferentes ciclos econômicos.