Opinião: Que lições este ano deixa para o próximo?
Se fosse preciso resumir 2025 em um único tema, certamente seria Inteligência Artificial. Não pela ausência de outros temas relevantes, já que o ano foi repleto de incertezas econômicas e geopolíticas, mas pelo impacto que o tema de IA teve sobre a economia e, principalmente, sobre os mercados financeiros.
O otimismo em relação aos avanços tecnológicos é o ponto de partida para 2026, que se inicia sob o importante questionamento: até que ponto as expectativas atuais são justificáveis?
Desde o início do ano, chamou a atenção a grande volatilidade da política econômica dos EUA. Temas importantes como política imigratória e deportações, tarifas comerciais, aumento do gasto público e conflitos geopolíticos foram fontes relevantes de incerteza. Esse ambiente, no entanto, não foi negativo para o apetite por risco ao longo do ano, particularmente por dois motivos.
O primeiro é que o custo esperado da política econômica norte-americana não apareceu na velocidade e intensidade esperadas. A avaliação era que as restrições de mão de obra, combinadas com fechamento comercial e estímulos fiscais, resultariam em um quadro de maior inflação, juros mais elevados e crescimento menor, eventualmente configurando um quadro de estagflação.
Mas não foi o que aconteceu até aqui. A inflação se mantém relativamente estável, ainda que em um nível elevado, o Fed deu início ao ciclo de corte de juros, e o ritmo de crescimento tem se mantido próximo de 2%.
O segundo motivo foi o crescimento do setor de tecnologia. Resultados corporativos muito expressivos e um ritmo de investimento anual superior a 1% do PIB norte-americano têm sustentado as projeções mais otimistas para o setor e colaborado para as estimativas de impacto sobre a produtividade da economia como um todo nos próximos anos.
No Brasil, este ambiente internacional positivo trouxe relativa tranquilidade. A fraqueza do dólar globalmente, associada ao forte retorno da moeda brasileira por conta dos juros elevados, manteve o real em trajetória de apreciação ao longo do ano.
A gradual desaceleração econômica e a consolidação do processo desinflacionário também têm permitido ao mercado antecipar cortes de juros no próximo ano. Neste contexto, o crescente problema fiscal tem ficado em segundo plano, e as incertezas eleitorais ainda parecem distantes para afetar os preços dos ativos de modo significativo.
Agora, essas duas principais razões para o bom desempenho dos mercados neste ano trazem lições importantes para 2026, pois devem continuar sendo os principais temas para os mercados. Há um relativo consenso de que o impacto das tarifas norte-americanas deverá aparecer na primeira metade do ano. Embora haja muita dúvida sobre a duração e intensidade desse impacto, o risco é que uma pressão inflacionária mais relevante reduza o espaço para cortes de juros, prejudicando o ritmo da atividade econômica.
Ainda neste tema, teremos a definição da suprema corte americana sobre o IEEPA, base legal para a aplicação da maior parte das tarifas comerciais. Caso a votação seja contrária à aplicação sobre esse instrumento, haverá um grande período de instabilidade até que o governo norte-americano aplique as tarifas novamente por meio de outros mecanismos.
Quanto ao otimismo com IA, o próximo ano será um grande teste. Há elevada dispersão nas avaliações de analistas sobre os impactos da IA a médio e longo prazo, e o mercado tem calibrado as precificações das ações do setor em grande medida em função dos números correntes. A tensão com a divulgação de cada resultado das empresas do setor já tem sido notada neste ano, mas deve se intensificar no ano que vem.
Para o Brasil, este cenário global não será necessariamente ruim, mas o risco de um ambiente mais negativo é relevante. E 2025 não foi um ano em que aproveitamos o bom momento internacional para reduzir os riscos locais. Pelo contrário: a dívida pública segue com crescimento acelerado, contas externas estão menos robustas e um desempenho econômico segue muito sustentado por estímulos que precisarão ser reduzidos significativamente nos próximos anos.
Soma-se a isso um ano de uma eleição presidencial disputada e na qual tanto governo quanto oposição, se eleitos, terão limitado capital político e grande dificuldade de implementar o ajuste necessário, que será tanto maior quanto mais desafiador se mostrar a conjuntura internacional.
O que deveríamos aprender com 2025 é que anos como este, em que condições particularmente favoráveis reduzem o peso de escolhas ruins de política econômica, não costumam se repetir.