Internacional

Orçamento único da Índia em 100 anos enfrenta problemas com segunda onda do vírus

16 maio 2021, 15:11 - atualizado em 16 maio 2021, 15:11
Coronavirus
Com muitas partes do país sob diversos níveis de lockdowns, grande parte do crescimento projetado em torno do qual o orçamento foi construído agora está envolta em incertezas (Imagem: REUTERS/Niharika Kulkarni)

O orçamento anual da Índia foi elogiado por muitos em fevereiro e alimentou esperanças de que resultaria em uma forte revitalização da economia, mas agora há temores de que a promessa possa cair por terra porque ele não levou em conta a segunda onda de infecções por Covid-19.

O orçamento buscava reviver a terceira maior economia da Ásia por meio de investimentos em infraestrutura e saúde, apoiando-se em uma agressiva estratégia de privatização e uma robusta coleta de impostos –com base em um crescimento projetado de 10,5%– para financiar os gastos no ano fiscal.

A ministra das Finanças, Nirmala Sitharaman, disse que a Índia não veria um orçamento como aquele em “100 anos”.

Na época, uma maciça campanha de vacinação contra a Covid-19 e uma retomada na demanda do consumidor e investimentos haviam colocado a economia nos trilhos para se recuperar de sua queda mais profunda sob registro.

O país do sul da Ásia está lutando contra o segundo maior total de casos de coronavírus do mundo, atrás dos Estados Unidos, com 300 mil novas infecções registradas e cerca de 4 mil mortes por dia.

Com muitas partes do país sob diversos níveis de lockdowns, grande parte do crescimento projetado em torno do qual o orçamento foi construído agora está envolta em incertezas.

A extensão de crise está fazendo até com que investidores questionem se, após anos de acumulação de dívidas, a Índia, a qual se esperava que se tornasse uma potência econômica, ainda merece o seu status de grau de investimento.

No começo desta semana, a agência Moody’s disse que a segunda onda na Índia desacelerá a recuperação econômica em curto prazo e pode pesar nas dinâmicas de crescimento em longo prazo. Ela ainda cortou sua projeção para o PIB do país de 13,7% para 9,3%.

Embora o governo afirme que é cedo demais para revisar seus próprios números, em conversas privadas autoridades admitem que o crescimento será muito mais moderado do que se antecipava, se as medidas de distanciamento social continuarem.

Logo da Moody's na torre 7 do World Trade Center 02/08/2011
No começo desta semana, a agência Moody’s disse que a segunda onda na Índia desacelerá a recuperação econômica em curto prazo e pode pesar nas dinâmicas de crescimento em longo prazo (Imagem: REUTERS / Mike Segar)

Além de separar 350 bilhões de rúpias (4,78 bilhões de dólares) no orçamento para os custos da vacinação, o governo não especificou fundos para contingências decorrentes de uma segunda onda e agora terá que cortar despesas, disseram autoridades.

O Ministério das Finanças da Índia não respondeu ao pedido por comentários.

Atrasos em privatizações

A crise sanitária também atingiu gravemente a burocracia indiana, com muitas autoridades importantes infectadas por coronavírus, atrasando decisões sobre privatizações, entre outras reformas propostas.

Duas autoridades de alto escalão disseram que a privatização de ativos como a refinaria de petróleo Bharat Petroleum Corp e a transportadora nacional Air India, que estavam com processos avançados, agora pode ser empurrada para o começo de 2022 –cerca de três meses depois do planejado.

“A sala de dados virtual da BPCL foi aberta para as propostas iniciais, mas, por causa do lockdown, a verificação física de ativos é improvável no momento”, disse uma das autoridades.

India
A crise sanitária também atingiu gravemente a burocracia indiana, com muitas autoridades importantes infectadas por coronavírus (Imagem: REUTERS/Niharika Kulkarni)

Os atrasos afetarão uma série de outros planos de privatização, que incluem dois bancos e empresas de seguros e energia, que estão no centro das reformas propostas pelo orçamento e que são chave para arrecadar o alvo de 24 bilhões de dólares com privatizações e venda de ativos, disseram autoridades.

A crise também deve atrasar a listagem da maior seguradora da Índia, a Life Insurance Corp, que poderia gerar entre 8-10 bilhões de dólares, afirmaram.

Outra autoridade disse que os lockdowns começariam a afetar a coleta de impostos em junho, potencialmente reduzindo as receitas em 15%-20% em relação ao que era estimado para o trimestre.

Com a meta de déficit fiscal projetada em 6,8% do PIB e um programa crescente de empréstimos, atrasos na privatização e as possíveis quedas em arrecadação de impostos já estão levando a cortes em gastos que estavam programados pelo governo, disseram duas autoridades.

“Estamos vendo (a possibilidade) de apertar o botão de pausa em alguns dos nossos gastos não prioritários”, disse uma das autoridades.

O governo está renovando seu foco em medidas de alívio e gastos mais altos em necessidades imediatas na Saúde, como fábricas de oxigênio e centros temporários de Covid-19, disse uma das autoridades, acrescentando que os planos do governo de aliviar o preço dos combustíveis cortando alguns impostos também foram adiados.

Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.