Os últimos acontecimentos na batalha entre Netflix e Paramount pela Warner
A disputa pelos ativos mais valiosos da Warner Bros. Discovery ganhou novos e decisivos capítulo no início desta semana, reforçando a escalada de uma guerra que se arrasta desde 2024 e que pode redesenhar o mapa do streaming global. De um lado, a Netflix, que já saiu vencedora de um leilão competitivo e trabalha para fechar o maior negócio de mídia da história. Do outro, a Paramount Skydance, que tenta uma última cartada para não ficar fora do jogo.
A mais recente ofensiva veio da Paramount. O bilionário Larry Ellison, cofundador da Oracle, ofereceu uma garantia pessoal de US$ 40,4 bilhões para reforçar a proposta de US$ 108,4 bilhões em dinheiro feita pela Paramount Skydance pela Warner Bros Discovery.
O movimento, revelado em documento regulatório, busca dissipar as dúvidas do conselho da Warner sobre a solidez do financiamento — um dos pontos que pesaram para a empresa preferir, até aqui, a oferta concorrente da Netflix, que combina caixa e ações.
Apesar da garantia adicional, os termos econômicos não mudam: a Paramount mantém a oferta de US$ 30 por ação em dinheiro.
O mercado reagiu positivamente no curto prazo, com as ações da Warner subindo quase 4% no pré-mercado e os papéis da Paramount avançando cerca de 3%. Ainda assim, analistas veem o movimento como defensivo. Para Paolo Pescatore, da PP Foresight, a empresa “faz um último esforço para evitar ser deixada de lado”, mas a melhora na proposta pode não ser suficiente diante das vantagens estratégicas apresentadas pela rival.
Enquanto isso, a Netflix avança para fechar o cerco. A companhia refinanciou parte do empréstimo-ponte de US$ 59 bilhões contratado em dezembro para sustentar sua oferta pela Warner. Segundo os registros, a empresa garantiu uma linha de crédito rotativo de US$ 5 bilhões e dois empréstimos a prazo de US$ 10 bilhões cada, com pagamento diferido, deixando cerca de US$ 34 bilhões ainda a serem sindicados. Os recursos servirão para pagar a parcela em dinheiro do negócio, além de taxas, despesas e eventuais necessidades corporativas.
O reforço no financiamento é um sinal claro de “certeza de execução” — argumento central da Netflix para convencer o conselho da Warner. Embora a diretoria tenha reconhecido que a proposta da Paramount oferece um valor imediato mais alto, reiterou apoio ao acordo com a Netflix por enxergar benefícios estratégicos superiores, especialmente a combinação da maior plataforma global de streaming com uma biblioteca de conteúdo premium que inclui a HBO e a HBO Max.
A batalha é fruto direto da reconfiguração do setor nos últimos anos. Após a explosão de investimentos no streaming na pandemia e a posterior desaceleração do crescimento, os grandes grupos passaram a buscar escala, eficiência e conteúdo proprietário como diferenciais-chave.
A própria Warner anunciou, em meados de 2025, a cisão de sua unidade Global Networks, separando os ativos de streaming e estúdios — de maior crescimento — das redes legadas. A expectativa é que o acordo seja concluído após esse desmembramento, previsto para o terceiro trimestre de 2026.
No pano de fundo, o que está em jogo vai além de uma simples aquisição. O vencedor leva uma vantagem estratégica decisiva nas chamadas “guerras do streaming”, ao controlar uma das bibliotecas mais cobiçadas de Hollywood. Com a Netflix reforçando seu caixa e a Paramount apostando no peso financeiro e pessoal de Larry Ellison, a disputa entra em sua fase mais intensa — e tudo indica que o desfecho ainda pode reservar novos capítulos.
*Com Reuters