Saúde

Pacientes jovens explicam baixa mortalidade de vírus na Alemanha

24 mar 2020, 14:27 - atualizado em 24 mar 2020, 14:27
Pode haver muitas razões para a disparidade, mas todas se resumem a um ponto: o Covid-19 ainda não infectou pessoas idosas e mais vulneráveis da população da Alemanha (Imagem: Bloomberg)

O número de mortes provocadas pela pandemia de coronavírus dispara em grande parte da Europa, mas um país continua sendo uma anomalia.

Apesar de registrar mais de 25 mil contágios, o quinto maior número de casos no mundo, a taxa de mortalidade da Alemanha é de apenas 0,4%, segundo dados compilados pela Bloomberg de autoridades estaduais de saúde. Porém, na Itália, o epicentro do vírus, cerca de 9,5% das pessoas diagnosticadas com a doença morreram.

Pode haver muitas razões para a disparidade, mas todas se resumem a um ponto: o Covid-19 ainda não infectou pessoas idosas e mais vulneráveis da população da Alemanha com a mesma força. Autoridades testam e monitoram casos leves de forma agressiva, e mais de 80% dos testes confirmados são de pessoas com menos de 60 anos.

Na Itália, apesar de dados demográficos semelhantes, o quadro é muito diferente, já que o vírus atinge desproporcionalmente pessoas de mais idade.

Em conjunto, os dois países são uma lição objetiva do porquê autoridades de saúde pública do mundo todo têm fechado centros de idosos e pedido às famílias que não visitem pais ou avós idosos. Quando o vírus se espalha entre a população idosa, como mostra a Itália, isso pode sobrecarregar sistemas de saúde e aumentar a mortalidade geral.

Na Itália, 74% dos que testaram positivo têm mais de 50 anos. Na Alemanha, 82% dos casos são de pessoas com menos de 60 anos. A perspectiva de que o foco do surto mude para pessoas idosas também preocupa autoridades de saúde da Alemanha.

“Estamos apenas no início da epidemia”, disse Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch, autoridade de saúde pública da Alemanha.

Hospitais saturados

O vírus infectou mais de 350 mil pessoas e matou mais de 16 mil globalmente, desde que surgiu na China no fim do ano passado.

Cerca de 30% dessas mortes ocorreram na Itália, onde alguns hospitais estão saturados. Houve relatos de médicos obrigados a selecionar pacientes e racionar equipamentos para salvar aqueles com maior probabilidade de sobreviver.

Autoridades de saúde ainda não sabem exatamente como o vírus entrou na Itália, mas, quando entrou, se propagou facilmente entre a geração de alto risco.

Diferentemente da maioria de outras partes da Europa, adultos italianos estão em contato frequente com os pais. A “nonna” e o “nonno” cuidam dos filhos e almoçam com a família no domingo, e costumam morar na mesma cidade ou até mais perto.

Mais de 20% dos italianos entre 30 e 49 anos moram com os pais, segundo Christian Bayer e Moritz Kuhn, economistas da Universidade de Bonn.

A proporção é mais do que o dobro da taxa de alemães nessa faixa etária. Bayer e Moritz encontraram uma correlação entre gerações que vivem sob o mesmo teto e a mortalidade dos casos de coronavírus.

‘Rede social’

“Por que tantos idosos em alguns países se contagiam enquanto em outros países não?”, disse Bayer. “A rede social é uma explicação natural.”

Embora outros fatores estejam certamente influenciando as taxas de mortalidade, Bayer disse que sua análise parece se aplicar até agora na maior parte da Europa e nos Estados Unidos. Países onde a vida multigeracional é comum, como na Grécia, Bulgária, Polônia e Sérvia, devem agir rapidamente para proteger idosos, disse.

Na Alemanha, muitos dos primeiros casos ocorreram em pessoas jovens e saudáveis que haviam acabado de visitar estâncias de esqui onde o vírus circulava, geralmente no norte da Itália ou na vizinha Áustria.

A maioria dos casos ocorreu em pessoas entre 35 e 59 anos de idade. A idade média dos mortos pela doença era de 82 anos, disse na segunda-feira Wieler, do Instituto Robert Koch.

Graças a um “processo de teste muito agressivo” na Alemanha, mais casos leves provavelmente têm sido incluídos no número total, disse Michael Ryan, diretor do programa de emergência de saúde da OMS. Ryan estima que as taxas de mortalidade evoluirão nas próximas semanas, pois os pacientes morrem no hospital três a quatro semanas após o diagnóstico.

Autoridades italianas se opuseram à ideia de que a taxa de mortalidade do país se deve aos hospitais sobrecarregados com novos pacientes, especialmente em regiões mais afetadas, como a Lombardia. Áreas como Veneto, nos arredores de Veneza, fizeram mais testes e têm menores taxas de mortalidade.

Mortes na Itália

O chefe de emergência Angelo Borrelli disse na sexta-feira que o número de mortos na Itália pode refletir uma definição abrangente de mortes por coronavírus, já que qualquer pessoa que tenha resultado positivo é incluída, independentemente de outras patologias prévias. Mas o Instituto Koch da Alemanha diz que segue um procedimento semelhante.

“O risco real é a idade geriátrica e também doenças concorrentes, como pressão alta e diabetes”, disse Roberto Bernabei, professor de geriatria da Universidade Católica de Roma. “Isso leva a uma maior agressividade do vírus.”

Apenas 2,7% dos contágios confirmados na Alemanha ocorrem em pessoas com mais de 80 anos, informou o Instituto Koch na segunda-feira. Isso se compara a 18% dos casos na Itália.

Por enquanto, as crianças devem manter contato com os avós on-line, em vez de pessoalmente, disse a chanceler alemã Angela Merkel na semana passada. Ela sugeriu Skype, telefonemas e e-mails ou “talvez voltar a escrever cartas”.

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