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Países saem de fundo por rigor de ESG para emergentes

18 out 2020, 14:03 - atualizado em 16 out 2020, 15:30
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No momento, os custos de juros soberanos normalmente não levam em consideração fatores como o compromisso de corte de emissões de carbono (Imagem: Agência Brasil/Marcello Casal Jr)

Um fundo de títulos de mercados emergentes de alto desempenho tem evitado investimentos na Rússia, China e Arábia Saudita, já que os três países pontuam muito baixo em suas classificações para riscos ambientais, sociais e de governança, ou ESG na sigla em inglês.

O fundo Candriam SRI Bond Emerging Markets, de US$ 1,5 bilhão, superou quase 90% dos pares nos últimos três anos e monitora fatores ESG. Os 25% de países nos últimos lugares do ranking do fundo entram na lista de excluídos, não importa o papel que desempenhem no mercado de títulos.

Essa abordagem pode ser um prenúncio dos desafios enfrentados pelos governos de países em desenvolvimento que dependem de capital estrangeiro.

No momento, os custos de juros soberanos normalmente não levam em consideração fatores como o compromisso de corte de emissões de carbono ou redução da corrupção, mas podem levar no futuro.

“Os investimentos ESG têm ganhado ritmo no espaço de dívida de mercados emergentes”, disse Magda Branet, vice-chefe de dívida de mercados emergentes da Candriam, em resposta por e-mail a perguntas.

“Claramente, os investidores buscarão cada vez mais compensação pelos riscos relacionados a ESG. Vão exigir prêmios de risco mais elevados de países que pontuam mal em seus critérios ou evitarão alguns emissores.”

O modelo da Candriam avalia como os países acessam e empregam capital natural, humano, social e econômico. Os regimes considerados não democráticos ou repressivos são eliminados, juntamente com aqueles com classificação de crédito inferior a B-, ou seis níveis abaixo do grau de investimento. As maiores posições do fundo em países estão do México, Indonésia e Chile.

Atualmente, o modelo exclui 33 mercados emergentes, ou cerca de 40% do índice JPMorgan EMBI Global Diversified, considerado referência para a maioria dos fundos de títulos soberanos de mercados emergentes, disse Branet durante webinar no início deste mês. O modelo é revisado regularmente, permitindo que países mal avaliados tenham chance de entrar na lista de investimentos caso melhorem.

“Boas práticas e políticas, especialmente sobre meio ambiente, podem ajudar um país a entrar na lista de investimentos”, disse Branet por e-mail.

Atualmente não há um padrão no setor para aplicar critérios ESG à dívida soberana, deixando a maioria dos gestores de fundos que desejam incorporá-lo dependentes de análises internas. Poucos fundos excluem os principais mercados emergentes devido às pontuações baixas.

Práticas de “greenwashing”, como o uso indevido de classificações ESG, dificultam a proteção de investidores por reguladores, embora legisladores comecem a trabalhar juntos para resolver isso, de acordo com Christine Kung, responsável por finanças sustentáveis da Comissão de Valores Mobiliários e Futuros de Hong Kong.

Bram Bos, um dos principais gestores de portfólio da NN Investment Partners BV, diz que as demandas dos investidores estão mudando e é possível que o ESG comece a ter um impacto sobre os custos de empréstimos. Governos e empresas que vendem títulos verdes e sociais – cujas emissões atingiram recordes este ano – já começam a perceber isso.

“No passado, havia um roadshow quando um governo emitia um título e tudo girava em torno dos fundamentos macroeconômicos”, disse Bos, cuja empresa administra 287 bilhões de euros (US$ 336 bilhões). “Hoje, com os títulos verdes e sociais, outros temas também estão sendo discutidos e isso dá aos investidores mais uma ferramenta para pressionar os governos.”

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