Pandemia leva expatriados a voltarem para casa
Pegue uma pandemia, combine com uma recessão global e acrescente uma pitada de nacionalismo reprimido. Para profissionais estrangeiros qualificados, é um coquetel cada vez mais amargo.
Em potências financeiras como Cingapura, centros de tecnologia como EUA e grandes produtores de petróleo como Kuwait, a vida se tornou muito mais difícil para trabalhadores estrangeiros que, até recentemente, eram cortejados por sua especialização.
Critérios mais rígidos para vistos, menos empregos e pressão governamental sobre empresas para contratarem localmente obrigam muitos a voltarem para casa.
“Há uma certa rejeição da população local em relação aos expatriados”, disse William Harvey, professor da Universidade de Exeter que estuda gestão de talentos e migração. “É mais fácil despedir pessoas que não são do país.”
Mohamed Faizer é um dos muitos que passou pela experiência. Em março, o cidadão de Hong Kong era responsável por segurança da Jazeera Airways, do Kuwait, e sua carreira avançava. Então a Covid chegou, e Faizer perdeu o emprego na onda de cortes de custos que se seguiu. Neste ano, a companhia aérea teve que reduzir a força de trabalho, dispensando expatriados e cidadãos do Kuwait.
“Tudo estava indo tão bem e eu estava feliz”, disse Faizer. “Infelizmente, a Covid-19 mudou tudo.”
Agora, ele está em Hong Kong buscando emprego enquanto a esposa e filhos permanecem no Golfo. “Não posso trazê-los sem nada”, disse Faizer.
Não há dados globais atualizados sobre o movimento de expatriados, mas números de países individuais são impressionantes.
Cerca de 100 indianos se registram todos os dias em voos para casa que partem de Cingapura, disse o Alto Comissariado da Índia à imprensa local em setembro.
Em uma reversão histórica, a Nova Zelândia – cujos cidadãos mais saem do que voltam para casa – registrou 33.200 residentes retornando do exterior entre abril e setembro deste ano, de acordo com estatísticas oficiais. E no ano até abril de 2020, mais cidadãos irlandeses voltaram ao país do que em qualquer momento desde 2007, mostram os números do governo.
Parte desse movimento, claro, é voluntário. A pandemia obrigou muitos a confrontarem se estar tão longe de amigos e familiares é realmente o que desejam.
Países como a Austrália, líder internacional na contenção do vírus, testemunharam uma onda de repatriados que decidiram priorizar o estilo de vida em vez da carreira.
O vírus, entretanto, acelerou tendências que se acumulavam antes da pandemia em questões como oportunidade, moradia e infraestrutura para residentes locais e estrangeiros.