Brasil

Para entender a escravidão no Brasil: um giro oceânico no Atlântico Sul

16 dez 2018, 13:30 - atualizado em 14 dez 2018, 19:08
(Pixabay)

Por Paulo Gala

Um dos grandes equívocos dos historiadores brasileiros durante muito tempo foi ter estudado nossa historia sem um entendimento global do funcionamento do Atlântico Sul. Como recentemente mostram os gigantes da história brasileira, Fernando Novais e Luis Felipe de Alencastro, não dá para entender o Brasil de hoje sem entender como funcionou o complexo sul-atlântico dos séculos XVI e XVII. No coração do atlântico sul existe uma corrente, uma espécie de roldana, que conecta as costas brasileiras e africanas de maneira impressionante. Uma caravela solta no meio do atlântico tem grande chance de parar em Salvador se estiver mais a norte e em Luanda se estiver mais ao sul. Imagine uma engrenagem girando em sentido anti-horário no meio do Atlântico sul. É assim que funcionam nossas águas por aqui.

Para se ter uma idéia do que estou tentando dizer, no início dos 1600 Angola era muito mais próxima do Brasil do que o Pará, Para ir do Ceará até Salvador era mais rápido pegar um navio até Lisboa e depois voltar.  Na época o transporte mais rápido e relevante era por mar e não terra. As rotas de navegação eram fundamentais. Os navios faziam todo o serviço. E as correntes mandavam. Não tinha carro, trem ou avião, não é mesmo? A África era mais próxima do Brasil do que o norte-nordeste do próprio Brasil. A partir de Fernando de Noronha as correntes costeiras brasileiras se bifurcam. Uma sobe e a outra desce. A que desce se integra na engrenagem sul atlântica da a volta lá embaixo e vai parar em Angola! E de Angola sobe e volta para a Bahia.

A integração (ainda hoje) de Brasil e África é muito maior do que imaginamos. Algumas evidências maiores são a língua comum ou até o próprio nome da capital de Angola, São Paulo de Luanda! Em 1640 os holandeses invadiram o nordeste e depois Angola pois viram que uma economia não funcionava sem a outra. Os escravos africanos eram o oxigênio da economia brasileira. O Atlântico sul estava totalmente amarrado. E o que deu certo no Atlântico sul? Basicamente o Brasil. Que prosperou como um país de fato. O resto, junto com as outras colônias portuguesas, foi para o buraco. A retomada atual de Angola, por exemplo, está impregnada de investimentos brasileiros. Ou seja nosso papel e potencial no Atlântico Sul é imenso. Como foi durante vários séculos.

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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