Para onde vão os preços da soja no Brasil e CBOT após o acordo entre EUA e China?

Os Estados Unidos e a China anunciaram na segunda-feira (12) um acordo para mutuamente reduzir tarifas comerciais. A medida é apontada como um sinal de que o gigante asiático pode comprar mais soja dos norte-americanos.
O movimento fez com que o indiciador Cepea/Esalq base Paranaguá — um indicador de preço do agronegócio, especialmente relacionado a produtos exportados pelo porto de Paranaguá — da soja subisse 0,67% na segunda, para R$ 133,42 — apenas para recuar 0,36% na terça e ficar em R$ 132,94.
Desde segunda, o contrato julho da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) avançou 2,31%, em torno de US$ 10,77 por bushel.
Rafael Silveira, analista da Safras & Mercado, explica que o recente acordo alivia as tensões comerciais entre os dois países e abre espaço para que os compradores chineses avancem e antecipem as compras da nova safra norte-americana, que deve começar a entrar no mercado a partir de outubro/novembro.
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“Com a janela de 90 dias e a manutenção de tarifas de 10% sobre produtos americanos, é natural e esperado que a China busque garantir volumes significativos da nova safra, o que pode reduzir a pressão adicional anteriormente projetada sobre a soja brasileira. Caso esse movimento de fato se concretize, poderemos observar prêmios menores sendo negociados no final do ano, tanto em função da sazonalidade quanto de um possível recuo nos volumes destinados ao embarque”.
Silveira explica que os preços na CBOT operam em alta impulsionados pela estimativa de redução significativa de área plantada, conforme apontado pelo último relatório do USDA. O relatório projeta uma produção de 118,1 milhões de toneladas, porém essa estimativa depende de uma produtividade elevada, de 52,5 bushels por acre — o que torna o clima um fator crítico a ser monitorado.
“Se houver uma retomada ‘normalizada’ das exportações para a China, aliada a um aumento no esmagamento interno, qualquer perda de produtividade poderá afetar diretamente os estoques americanos. Isso justifica a sensibilidade positiva da bolsa ao clima neste momento”.
Na avaliação de Thais Italiani, gerente de Inteligência de Mercado da Hedgepoint Global Markets, o acordo entre os EUA e a China para redução das tarifas nos próximos 90 dias alivia parcialmente o sentimento de aversão ao risco presente na CBOT nas últimas semanas.
Contudo, em termos de impactos no mercado físico em si, Italiani vê pouco espaço para pressão nos prêmios brasileiros, uma vez que o Brasil continua sendo a origem mais segura para compradores chineses originarem soja.
“Fundamentalmente, o cenário é de um balanço de oferta e demanda mais apertado nos EUA, como mostrado pelo USDA na segunda, com a safra 25/26 sendo projetada com apenas 6,7% de razão estoque/uso, o que historicamente corresponderia a um nível para o contrato de novembro na CBOT próximo de US$ 12 por bushel. Todavia, não vemos este movimento — soja em novembro ainda abaixo de US$ 11 por bushel — pois o tom ainda é de incertezas entre os EUA e seu principal comprador no mercado internacional, a China”.