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Para os não convertidos, Liga do Araguaia mostra que se faz dinheiro com boi e meio ambiente

29 jul 2021, 12:42 - atualizado em 29 jul 2021, 12:42
Liga do Araguaia
Boi do Araguaia tem projetos de sustentabilidade para curto, médio e longo prazos (crédito: Liga do Araguaia)

Para aqueles que ainda não acreditam em Deus, a analogia com o mundo real que o coordenador executivo da Liga do Araguaia faz para a catequese dos pecuaristas não convertidos ao sistema de produção sustentável, já começa a apresentar números.

Conserve a floresta além da reserva legal e vai ganhar por isso. Produza um boi unindo os requisitos de qualidade com redução de emissões de CO² e vai ganhar por isso.

Esses são dois dos projetos desse agrupamento de produtores do Médio Araguaia do Mato Grosso, que tentam mudar o paradigma de que produzir com responsabilidade social e ambiental não é “frescura”.

Hoje já são 62 produtores, somando 150 mil hectares de pastagens, que participam como querem, escolhendo quaisquer dos projetos oferecidos em parcerias com empresas, instituições (Embrapa Gado de Corte, por exemplo) e ongs.

Se ainda não é um convertido 100%, “para quem eu não preciso explicar que Deus existe”, como brinca José Carlos Pedreira, a Liga do Araguaia vai direto ao bolso, como aqueles dois programas do início deste texto.

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) conseguiu verba da Holanda e Noruega e vai pagar algo como R$ 300 por hectare de floresta conservada acima do exigido pelo Código Florestal. É o Conserv Araguaia que está selecionando os participantes.

O outro é o Rebanho Araguaia em parceria com a Friboi, da JBS (JBSS3). A companhia subsidia a implantação de um projeto de gestão para os fazendeiros entregarem os animais com indicadores de qualidade e produtividade superiores baseados na sustentabilidade.

Em três ciclos de três anos, até completar 30 propriedades – e com matéria-prima garantida -, a JBS deverá devolver na forma de prêmio sobre a @ aquilo que ganhar na comercialização diferenciada, explica Pedreira.

Seis projetos depois e outros em desenvolvimento, essa história começou há seis anos com 10 “convertidos”, em torno dos ideais da família Penido, do Grupo Roncador.

A Liga não é uma entidade, mas criou o Instituto Agroambiental Araguaia em janeiro para facilitar a gestão dos acordos e parcerias, do qual Pedreira também é o coordenador.

Engajamento

Como a região engloba 2,5 milhões de hectares, a maior parte assentada em áreas muito úmidas para a agricultura, a ampliação do alcance da Liga do Araguaia tem muito chão, diante da vocação tradicional da pecuária a pasto – e ainda mais a de cria.

E o engajamento de mais produtores é visto como natural, diante dos mandatos mercadológicos para uma “pecuária sustentável na prática”, como reza o slogan da Liga repetido pelo coordenador executivo, que deixou a consultoria de 25 anos em ESG (Ambiental, Social e de Governança, em português) para tocar mais profissionalmente esse grupo.

O que vai fazendo a diferença é que nada é compulsório para os membros, como também não se espere que a Liga saia confrontando os resistentes, menos ainda fazendo coro às críticas ao desmatamento e por aí afora.

Vida que segue.

Se cada um adotar um projeto que seja, já está de bom tamanho.

O bom dessa história, lembra José Carlos Pedreira, é que até projetos de retornos mais distantes e de custos mais altos de implantação vão ganhando adeptos.

Quer comercializar crédito de carbono no futuro? Vários já estão no projeto em parceria com a DOW Brasil.

Quer assegurar a vida das onças em harmonia com o gado, ao custo de algumas perdas de cabeça, tem também. Duas propriedades já estão nessa com o Instituto Onça Pintada, uma delas inclusive que já perdeu mil animais.

Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
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