Partido de Milei tem votação surpreendente em eleição ao Congresso e reforma libertária ganha fôlego
O partido do presidente argentino Javier Milei conquistou uma vitória nas eleições legislativas de meio de mandato, enquanto os eleitores lhe concederam um mandato para continuar avançando com sua radical reforma econômica, apesar do descontentamento generalizado com as duras medidas de austeridade.
Um alívio para Milei, cujos índices de aprovação haviam caído nas últimas semanas, o resultado também deve agradar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cuja administração havia sido criticada após conceder à Argentina um volumoso pacote de resgate financeiro.
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Analistas afirmaram que o desempenho, mais forte do que o esperado, pode refletir o medo de um novo colapso econômico caso o país abandonasse as políticas de austeridade de Milei que, embora tenham cortado subsídios dos quais muitos argentinos dependiam, conseguiram reduzir drasticamente a inflação.
“Os argentinos mostraram que não querem voltar ao modelo do fracasso”, declarou Milei triunfante diante de uma multidão de apoiadores em um hotel de Buenos Aires, após a divulgação dos resultados.
Mais do mesmo?
Gustavo Córdoba, diretor do instituto de pesquisas argentino Zuban Córdoba, disse estar surpreso com o desempenho de Milei e considerou que o resultado reflete a preocupação com a possibilidade de repetir as crises econômicas de governos anteriores.
“Muitas pessoas estavam dispostas a dar uma nova chance ao governo”, afirmou. “Veremos por quanto tempo a sociedade argentina continuará dando essa chance. Mas o triunfo é inquestionável, indiscutível”.
Córdoba afirmou que o governo de Milei parece ter assegurado o terço de cadeiras necessário na Câmara dos Deputados para impedir que futuros vetos presidenciais sejam derrubados pelo Congresso. Nos últimos meses, a oposição havia revertido vários vetos de Milei a projetos de gasto público que, segundo ele, ameaçavam o equilíbrio fiscal do país.
“O resultado é melhor do que até os apoiadores mais otimistas de Milei esperavam”, disse Marcelo García, diretor para as Américas da consultoria de risco Horizon Engage.
“Com esse resultado, Milei poderá defender com facilidade seus decretos e vetos no Congresso”, acrescentou García, observando que aliados terão mais incentivo para apoiar um presidente vitorioso.
De fato, em seu discurso de celebração, Milei sinalizou maior disposição para formar alianças, afirmando que “há dezenas de deputados e senadores de outros partidos com os quais podemos chegar a acordos básicos”.
Investidores estrangeiros têm se mostrado impressionados com a capacidade do governo de reduzir significativamente a inflação mensal, de 12,8% antes da posse de Milei para 2,1% no mês passado, ao mesmo tempo em que obteve superávit fiscal e implementou amplas medidas de desregulamentação.
Para apoiar Milei, o governo Trump ofereceu um pacote de resgate potencialmente avaliado em US$ 40 bilhões, incluindo um swap cambial de US$ 20 bilhões já assinado e uma proposta de fundo de investimento em dívida de US$ 20 bilhões.
A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário sobre o resultado das eleições de domingo.
Vitórias na capital e em todo o país
O partido do presidente, La Libertad Avanza, obteve 41,5% dos votos na província de Buenos Aires, contra 40,8% da coalizão peronista, segundo resultados oficiais. A província, historicamente um reduto político dos peronistas, registrou assim uma virada dramática e uma grande recuperação para Milei em relação às eleições legislativas de Buenos Aires em setembro.
Em nível nacional, o La Libertad Avanza conquistou 64 cadeiras na Câmara dos Deputados, contra 37 anteriormente, segundo dados do governo.
Metade da Câmara dos Deputados da Argentina (127 cadeiras) e um terço do Senado (24 cadeiras) foram renovados nas eleições de meio de mandato. O movimento de oposição peronista manteve a maior minoria em ambas as casas, superando em tamanho o partido relativamente novo de Milei.
Especialistas políticos haviam afirmado que conquistar mais de 35% dos votos já seria um bom resultado para o governo Milei.
Maria Laura Tagina, cientista política da Universidade Nacional de San Martín, disse que, embora a aprovação de Milei tenha sofrido com o desgaste provocado pelas medidas de austeridade e por escândalos de corrupção, é possível que eleitores desiludidos tenham optado por não votar. A participação eleitoral foi de cerca de 68%, o menor índice em mais de uma década, segundo a mídia local.
Milei afirmou que espera uma reforma ministerial após as eleições, que poderá incluir membros do partido de centro PRO, aliado frequente do governo no Congresso e liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri.
Títulos e ações devem subir nesta segunda-feira, com a abertura dos mercados, já que o resultado dá a Milei os votos e o capital político necessários para acelerar suas reformas.
Muitos analistas também previram uma desvalorização do peso, que, segundo eles, tem sido mantido artificialmente valorizado para conter a inflação.