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Paulo Gala: A economia do shopping center – para entender o Brasil dos últimos anos

25 jan 2021, 19:00 - atualizado em 22 jan 2021, 21:41
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Uma economia do shopping center não inova por definição. Projetos de varejo, real estate e afins não demandam inovação relevante (Imagem: Divulgação/Multiplan)

Uma das atividades que mais se expandiu no país dos últimos dez anos foi o varejo de shopping center, uma verdadeira paixão nacional, de preferência com dívida.

Dúzias e dúzias de shoppings foram abertos com suas respectivas n lojas em várias categorias (moda, eletrodomésticos, móveis, brinquedos, restaurantes, cabelereiros).

O consumo cresceu, o PIB aumentou e as dívidas também. Vamos agora dissecar o que ocorreu do ponto de vista macro: da ótica da oferta agregada o grosso do PIB gerado nos shopping centers do país foi de serviços não sofisticados: lojistas, garçons e cabelereiros.

Empregos de baixa qualificação e baixa produtividade. Os produtos vendidos foram todos fabricados na Ásia, principalmente China, causando grande déficit na balança comercial graças a sobrevalorização cambial. Da ótica da demanda o PIB cresceu então a partir de um boom de consumo.

Da ótica da oferta cresceu com a expansão de serviços de varejo não sofisticados, tudo isso financiado por crédito e elevados preços de commodities. Obviamente que essa combinação não leva ninguém a lugar  nenhum: mais shoppings e mais dívidas, sem aumento de produtividade.

Uma economia do shopping center não inova por definição. Projetos de varejo, real estate e afins não demandam inovação relevante, não existem economias de escala relevantes comparadas aos setores de manufaturas e serviços sofisticados (característica intrínseca dos setores).

Fica claro nessa análise a importância de entender o detalhe das atividades econômicas para explicar a dinâmica de produtividade e crescimento do país.

Vamos comparar o Brasil com Alemanha ou Coreia do Sul, no outro extremo, para efeitos didáticos. O motor da produção desses países dos últimos anos se concentrou em carros, eletrônicos, química e maquinaria sofisticada para o resto do mundo.

Com empresas e balanço de pagamentos fortemente superavitários. É claro que os alemães e coreanos vão ao shopping e restaurantes nos finais de semana, mas não é isso que move a economia alemã nem a coreana; e nem a chinesa, que aliás tenta “emular” o Brasil para consumir mais e não consegue. No momento o ajuste no Brasil desse modelo de economia do shopping center está em curso.

A forte desvalorização cambial e a contração de crédito impedem uma retomada do modelo antigo de compras de produtos importados com dívidas em shoppings e empurra o país para uma nova forma de geração de PIB, provavelmente muito mais dependente de produção de manufaturas e commodities processadas para o mercado doméstico e para exportação.

Com câmbio mais desvalorizado e restrição de crédito a economia brasileira voltará a recuperar aos poucos seus níveis de renda e de complexidade.

CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR
Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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Graduado em Economia pela FEA/USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi professor visitante nas Universidades de Cambridge UK em 2004 e Columbia NY em 2005. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. CEO/Economista da Fator Administração de Recursos FAR.
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