PDG (PDGR3): do império imobiliário à luta pela sobrevivência na B3
É comum comparar grandes empresas a impérios. Seus ciclos de ascensão e queda, a influência sobre mercados e a força de lideranças capazes de definir destinos lembram os reinos que marcaram a história. Sob esse olhar, poucas companhias brasileiras viveram uma trajetória tão bizantina quanto a PDG Realty (PDGR3).
Quem observa o valor atual do papel — R$ 0,01 — pode não se lembrar de que, em 2010, a PDG dominava o mercado imobiliário brasileiro e era tratada como a “queridinha” dos investidores na bolsa.
Hoje, a imagem é oposta. A companhia se tornou símbolo de turbulência: uma recuperação judicial conturbada, agrupamentos de ações recorrentes, desvalorização contínua e até uma proposta de aquisição falsa. A PDG é, em suma, a penny stock que insiste em prometer um retorno ao playground da gente grande na B3.
- CONFIRA: Está em dúvida sobre onde aplicar o seu dinheiro? O Money Times mostra os ativos favoritos das principais instituições financeiras do país; acesse gratuitamente
Um início promissor da PDG
Fundada em 2003, a PDG Realty se destacou por um crescimento explosivo, sustentado por aquisições e pela consolidação como uma das maiores referências do mercado imobiliário nacional. O avanço culminou em resultados recordes, pouco antes de a crise setorial e gerencial de 2012 mudar o rumo da empresa.
A companhia abriu capital em janeiro de 2007 e, por um tempo, manteve desempenho robusto — reflexo direto da capacidade de execução e da estratégia agressiva de expansão.
O modelo de negócios ia além da incorporação residencial tradicional. Embora semelhante ao de concorrentes como Rossi, Cyrela e Gafisa, a PDG se diferenciava ao adquirir participações em empresas menores, oferecendo capital e expertise em uma relação de ganha-ganha.
Da expansão à crise
O ano de 2012 marcou o ponto de inflexão. O esfriamento do mercado imobiliário e a dificuldade da liderança em adaptar a gestão ao novo cenário econômico deram início à derrocada.
O endividamento que sustentara o crescimento se transformou em uma bola de neve. Em 2017, com cerca de R$ 7,9 bilhões em dívidas, a PDG entrou em recuperação judicial, envolvendo mais de 500 Sociedades de Propósito Específico (SPEs).
O plano de recuperação foi aprovado em 2018 e aditado em 2020, com novos prazos e condições de pagamento. Em 2021, a Justiça considerou o processo encerrado, reconhecendo o cumprimento das obrigações.
Mas o fim da recuperação não significou uma virada. O mercado seguiu desconfiado, e a ação continuou desabando — um lembrete de que o fundo do poço ainda podia ter porão.
- VEJA MAIS: O que os balanços do 3T25 revelam sobre o rumo da bolsa brasileira e quais ações podem surpreender nos próximos meses – confira as análises do BTG Pactual
A rotina de instabilidade da PDGR3
Desde então, a PDG Realty luta para se manter de pé. Suas ações perderam quase todo o valor desde a estreia na B3, e a companhia já realizou quatro grupamentos (2018, 2023, 2024 e 2025) para atender às regras da bolsa — todos sem sucesso em manter, no longo prazo, o preço acima de R$ 1,00.
A desvalorização vem acompanhada de reestruturação de dívidas, queima de caixa e sucessivos aumentos de capital.
Em fevereiro de 2025, a empresa protagonizou mais um episódio controverso: divulgou um Fato Relevante informando ter recebido uma oferta não vinculante de compra pela Sun Hung Kai Properties (SHKP), de Hong Kong. A notícia fez as ações dobrarem de preço em poucas horas — de R$ 0,01 para R$ 0,02.
Pouco depois, a própria SHKP negou qualquer envolvimento, e a informação foi desmentida pela imprensa. O caso levou a CVM a abrir investigação sobre possível manipulação de mercado.
Resultados ainda no vermelho
Atualmente, a PDG mantém oito canteiros de obras paralisados desde a recuperação judicial. A retomada dos lançamentos esbarra na escassez de crédito e na desconfiança dos consumidores com a marca.
Nos últimos anos, foram apenas dois lançamentos. Em 2024, a companhia registrou vendas líquidas de R$ 116 milhões e prejuízo de R$ 410 milhões, segundo dados até setembro.
No segundo trimestre de 2025, o prejuízo somou R$ 82,3 milhões, aumento de 20% sobre a perda de um ano antes. A receita líquida cresceu 8%, para R$ 29,3 milhões, enquanto o custo dos bens e serviços vendidos caiu 41%, para R$ 19,7 milhões. Mesmo assim, o resultado financeiro negativo chegou a R$ 78,8 milhões, alta anual de 86,2%.
Em outubro, a PDG anunciou um novo grupamento de ações na proporção de 200 para 1 e aprovou um aumento de capital de R$ 345,29 milhões — tentativa de reduzir o endividamento e ajustar a estrutura de capital.
Sem novos empreendimentos à vista e com mais um grupamento no horizonte, a trajetória bizantina da companhia segue sem desfecho.