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Pedro Serra: BR Distribuidora – há muito mais por vir

08 jul 2021, 18:53 - atualizado em 08 jul 2021, 18:53
BR Distribuidora
Os resultados mais flagrantes desta mudança estão na redução de R$ 1 bilhão de despesas em 2020 frente a 2019 e justamente no Ebitda/m3 (Imagem: Reprodução/ Youtube BR Distribuidora)

Os dados da BR Distribuidora (BRDT3) do 1T21, quando a companhia registrou Ebitda por metro cúbico de R$127, valor superior ao alcançado pelas concorrentes Ultrapar (UGPA3), R$105/m3, e Raizen, R$112/m3, nos leva a crer que a BR de hoje é diferente daquela que foi para a bolsa em 2017, quando a Petrobras (PETR3;PETR4) mantinha 71,25% de seu capital.

Entretanto, o olhar de linha de chegada não se aplica a este caso, que conforme demonstrado pelo follow-on realizado pela Petrobras para alienar as ações que ainda possui da distribuidora, ainda suscita, por parte do mercado, um sentimento que as mudanças estão apenas começando.

Uma vez que estes excelentes resultados foram conquistados antes mesmo da chegada do recém empossado CEO, Wilson Ferreira Junior, que assumiu o cargo apenas na última quinzena de março, a pergunta que o mercado se faz agora é: até onde a nova BR pode chegar?

O passado e o futuro da BR Distribuidora

Antes de falar do futuro, vale traçar um breve cenário da companhia nos últimos tempos. O alcance de margens mais competitivas dialoga diretamente com a proposta direcionada de geração de valor que se instalou na companhia ao se tornar uma Corporation, após a 1ª alienação de ações realizadas pela Petrobras em 2019.

Perdendo anualmente rentabilidade, market share e competividade, a BR rotacionou de forma magistral sua cultura, gerindo de forma diferenciada sua relação com fornecedores, estoques, logística e relação com colaboradores, demostrando ao mercado não apenas o caráter transformacional do processo que estava em curso como na valorização da marca que seu êxito proporcionaria.

Os resultados mais flagrantes desta mudança estão na redução de R$ 1 bilhão de despesas em 2020 frente a 2019 e justamente no Ebitda/m3, que saiu da casa de R$ 66/m3 durante os três anos antes da saída da Petrobras para R$ 96/m3 em 2020 e conforme citamos, R$ 127/m3 no 1T21.

As mudanças também resultaram na dinamização da base de ativos da companhia, que se desfez da Stratura (empresa do ramo de pavimentação), de sua participação em usinas de geração térmica e da CDGN, que atua na logística de gás natural comprimido.

A parte financeira também foi revisitada. No início de 2020, a duration média da dívida da companhia era de apenas um ano e foi estendida para mais de três anos e meio.

Além disso, a BR Distribuidora elevou sua banda de alavancagem máxima em duas vezes e meia, o que permitirá maior conforto no planejamento da expansão pretendida pela companhia e que, conforme alguns movimentos realizados nos últimos meses mostraram, já começou.

A companhia também fincou pé no mercado livre de energia, por meio da aquisição de 70% a Targus.

Adicionalmente, a BR deve iniciar em setembro uma promissora parceria com as Lojas Americanas (LAME4), que pode dobrar o valor do serviço de conveniência, além de estar negociando com a Golar a criação de uma joint-venture para atuar na distribuição de GNL em cidades não atendidas por gasodutos.

Ao aprofundar a relação da companhia com novos mercados, como o elétrico, o varejo e o promissor mercado de gás, a companhia demonstra que deseja ser cada vez menos dependente da sua atuação na rede de postos, o que não significa, no entanto, que este deixará de ser rentável e seu carro-chefe.

Petrobras
Com término do vínculo formal com a Petrobras, a relação da companhia com a maior petrolífera do país se dará de forma mais inteligente (Imagem: REUTERS/Diego Vara)

Mercado confiante

Entender os mercados onde se atua é condição primordial para o avanço de uma corporação moderna, engajada e aspirante a voos mais altos, como a BR.

Com término do vínculo formal com a Petrobras, a relação da companhia com a maior petrolífera do país se dará de forma mais inteligente.

Além da marca exibida nos postos, a dona da maior capacidade de tancagem do Brasil poderá se valer de maiores poderes de barganha na costura de contratos mais vantajosos para si. Embora a banda de alavancagem esteja mais dilatada, acho improvável que, como Ultrapar e Raizen, a BR tentará uma aquisição de uma refinaria.

Ainda assim, mesmo sem uma usina de refino, a companhia ainda pode se beneficiar do processo de abertura do midstream no país ou negociar melhores condições na importação de combustível, melhorando a rentabilidade de sua operação e ampliando a já notória capilaridade.

Finalizando, mesmo imersa em um cenário tão positivo, a BR Distribuidoras tem grandes desafios pela frente.

A concorrência com fortes players, como Cosan (CSAN3) e Shell; a atuação dos bandeiras brancas ( postos não filiados à nenhuma distribuidora conhecida do mercado); o processo de transição energética; a compra da CBios; a proposta de reformulação das diretrizes do setor de distribuição no país e a própria forma como se dará a relação com a Petrobras daqui para frente, são questões que devem ser enfrentadas pela companhia, e o resultado do follow-on mostrou, não faltar confiança por parte do mercado quanto à qualidade do trabalho que vem sendo feito até agora e do quanto a nova gestão pode agregar. Nada como tomar a estrada rumo a um destino que tem tudo para se mostrar memorável.

Gerente de Research da Ativa Investimentos
Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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Pedro Serra é gerente de Research da Ativa Investimentos e tem mais de dez anos de experiência no mercado financeiro, com passagens pela Petros e Fundação Real Grandeza. É formado em Economia pela Universidade Candido Mendes, tem MBA pelo Ibmec e possui certificação CNPI.
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