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Pequim seguirá “suavizando” a economia, mas tem pouco a fazer para segurar o yuan, diz especialista em China

20 set 2022, 12:58 - atualizado em 20 set 2022, 13:25
Covid-19 Xangai, China
Consumo interno chinês ainda está débil com os casos de covid sendo combatidos com paralisações

Como qualquer outra moeda do planeta, não há muito para conter a queda do yuan frente ao dólar enquanto a divisa americana se mantiver forte internacionalmente. O iene do Japão é um exemplo.

O dinheiro chinês deverá seguir desvalorizado, negociado acima dos US$ 7 com a nova rodada de aumento de juros nos Estados Unidos aguardada para amanhã, caso o Federal Reserve (Fed) confirme mais 75 pontos base de juros, porque o dólar ainda é o principal refúgio.

Mas, de largada, é preciso relativizar o impacto negativo do indicador cambial sobre as importações do país, pelo potencial de encarecimento das commodities agrícolas e carnes, da mesma forma que se relativiza a expectativa de Pequim vir a fazer grandes movimentos para conter a depreciação do yuan.

Mesmo para uma economia ainda muito dependente das exportações, daí que a moeda local em queda é benéfica, a economista do Bradesco Asset, Fabiana D’Atri, não acredita que “[o governo] vá usar o yuan como fator de estímulo econômico”.

Suaviza a liquidez da economia, soltando um pouco mais os juros e empréstimos, para evitar uma depreciação mais severa, sem perder o controle fiscal e monitorando as condições do setor de infraestrutura – este, sim, a pedra no sapato da economia.

Especialista em China, e representante do Bradesco (BBDC3) no Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), entende que o enfraquecimento da economia chinesa está dentro de um ciclo que a esta altura o governo de Xi Jinping está aceitando, de certa forma, e vai capitalizando pequenos ganhos enquanto vários cenários se cristalizam.

Em agosto alguns indicadores foram mais positivos. Mas sobre uma base deprimida e com “variação na margem ainda desfavorável”.

De contraponto, segue o impacto sobre a demanda do consumo pelo combate aos surtos de covid, que se arrastam desde o 1º trimestre.

PIB em 3%

Além das preocupações com o setor imobiliário, que exigem de Pequim cuidar mais da saúde das empresas – a incorporadora Evergrande entrou em cena novamente, como em 2021, sobre as condições preocupantes de sua solvência -, do que estimular vendas, apesar da âncora que representa para a retomada da economia, destaca a economista.

O Produto Interno Bruto (PIB) do país, portanto, está em linha fechar em 3% de alta em 2022, contra a expectativa de 5%, como anunciada pelo governo chinês em 2021.

E, agora, já se olha para 2023, a partir do Congresso do Partido Comunista em outubro. Junto com o inédito terceiro mandato de Xi Jinping deverá ser anunciada a meta para a economia.

Como lembra D’Atri, do Bradesco Asset e do CEBC, é sempre uma direção importante a ser apontada, um Norte para os agentes econômicos.

Porém, de novo: ao contrário do que se presenciou antes, o PIB planejado pelas autoridades não vingou este ano e os instrumentos de controle foram superados pelos “movimentos de desaceleração” destacados pela economista e não há, pelo menos até agora, expectativa de reversão imediata.

Importações

Pontuando o foco das importações chinesas, que mais interessam ao Brasil, há questões conjunturais locais que não estão necessariamente ligadas diretamente à desaceleração da economia.

A soja já vem desde o começo do ano com aquisições mais controladas, desde que os preços alcançaram valores muito altos internacionalmente com a queda da safra brasileira. Ainda que as margens de esmagamento no país tenham caído, o que pode ser reflexo de uma demanda menor nas granjas, segundo o analista Marlos Corrêa, pouco se conhece dos estoques chineses, diz Fabiana D’Atri.

Da expectativa de importações globais de 100 milhões de toneladas para 2022, vista pelo USDA em janeiro, a China deverá fechar em 90 milhões/t. No primeiro semestre, o Brasil exportou 35 milhões/t, 12% a menos sobre igual período, e os números de agosto mostraram nova e acentuada redução.

O país asiático sabe manobrar como nenhum outro suas necessidades de compras. Tanto que, agora, com a safra americana saindo, a brasileira começando a ser plantada em boas condições e a oferta argentina oxigenada pelo apoio cambial do governo, os chineses estão voltando mesmo com o yuan negociado acima de US$ 7, também chama atenção Corrêa, CEO da InSoy Comoodities, do Paraná.

Em relação às carnes bovinas, informações circularam no Brasil, a partir de algumas consultorias como a Agrifatto, publicada aqui, de que a desvalorização da divisa do país a China estava forçando a renegociação para baixo dos preços. Nenhum frigorífico consultado quis responder o questionamento, o que joga as expectativas para o balanço mensal de exportações da Secex em termos de faturamento.

Os chineses costumam se preparar com altos estoques, formados no segundo semestre, para o período do Ano Novo Lunar (fevereiro), e os números de exportações não deram sinais de fraquejamento até agosto. Nesse mês, o país puxou novamente os embarques brasileiros, ficando com 131,8 mil toneladas, mais da metade de tudo o que o Brasil exportou.

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Repórter no Agro Times
Jornalista de muitas redações nacionais e internacionais, sempre em economia, após um improvável debut em ‘cultura e variedades’, no final dos anos de 1970, está estacionado no agronegócio há certo tempo e, no Money Times, desde 2019.
giovanni.lorenzon@moneytimes.com.br
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