Coluna do Edson Kawabata

Tarifas de Trump: Como ficam os investimentos estrangeiros diretos no Brasil?

01 maio 2025, 9:00 - atualizado em 27 abr 2025, 14:28
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A Organização Mundial do Comércio já estima uma queda nos fluxos comerciais internacionais em pelo menos 1% no ano. (Imagem: Getty Images)

Com as recentes medidas protecionistas do Governo Trump nos EUA, o mundo todo está em alerta para avaliar novos cenários de disputas tarifárias, o que deve afetar balanças comerciais e fluxos de capital. Neste cenário, o que esperar sobre investimentos estrangeiros diretos no Brasil neste ano?

De forma geral, o aumento generalizado de tarifas anunciado pelos EUA (entre 10 e 50% para mais de 180 países) deve resultar na elevação da taxa média de importação de 2,5% em 2024 para 16,5% em 2025, e as importações devem sofrer uma queda da ordem de US$ 800 bilhões (25% a menos no ano) nos EUA. E os efeitos também devem se manifestar numa queda do PIB anual do país em 0,7%, segundo a Tax Foundation.

Apesar das incertezas em relação a retaliações pelos demais países e resultados das negociações, a Organização Mundial do Comércio já estima uma queda nos fluxos comerciais internacionais em pelo menos 1% no ano.

E os efeitos não se limitam a importações e exportações. Entre os diversos desdobramentos, cogita-se também uma realocação dos fluxos de investimentos diretos entre os países. Por exemplo, o aumento das tarifas de importação para os EUA poderia levar empresas que tenham adotado estratégias de “nearshoring” e “offshoring” a realizar novos investimentos em solo norte-americano, para minimizar impactos das tarifas cross-border, um fenômeno de “reshoring”.

Num contexto global, segundo dados da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), o total de investimentos estrangeiros diretos somou US$ 1,4 trilhão em 2024, um crescimento de 11% frente ao ano anterior.

Porém, ao excluir valores das “economias conduítes” da Europa (países que servem como ponte para recursos e oferecem isenção fiscal ou baixa tributação para os capitais), houve uma queda de 8% em relação a 2023.

Os investimentos em economias em desenvolvimento tiveram uma queda de 2% em 2024, chegando a US$ 855 bilhões, sendo que na América do Sul caíram 16% no ano, totalizando US$ 117 bilhões.

De acordo com os relatórios de estatísticas do setor externo do Banco Central, os saldos de investimentos diretos no país (IDP) somaram US$ 71,1 bilhões, um crescimento de 13,8% em relação ao montante realizado em 2023. Desse montante, US$ 33,2 bilhões foram referentes a reinvestimento de lucros no país e US$ 11,0 bilhões em operações intercompanhia (como repasses de matriz estrangeira para filial brasileira). A entrada líquida em participação no capital foi de US$ 60,1 bilhões, crescimento anual de 13,7%.

Apesar da elevação de níveis de incerteza e volatilidade, amplificados pelas disputas tarifárias internacionais, o Banco Central projeta estabilidade dos investimentos estrangeiros no país em 2025, em patamar da ordem de US$ 70 bilhões (equivalente a 3,2% do PIB), diante de uma perspectiva de crescimento do PIB em 2,4% e da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) de 3,4% no ano.

Numa perspectiva mais ampla, o BNDES publicou no início deste ano um estudo especial sobre as perspectivas de investimentos no Brasil no quinquênio 2024-2028, abrangendo 22 setores da economia brasileira. Neste estudo, as perspectivas de investimentos para o quinquênio são de uma média anual de R$ 639,1 bilhões para o cenário-base (equivalente à expansão média de 4,2% a.a.) e de R$ 704,5 bilhões para o cenário otimista (com expansão de 6,1% a.a.).

No cenário-base, 53,9% dos investimentos esperados são de indústria e serviços (dos quais 31,8% em petróleo e gás, 24,9% em comércio 10,4% em extrativa mineral e 6,9% em bens de consumo) e 46,1% de infraestrutura (dos quais 43,4% em energia elétrica, 19,7% em rodovias, 12,3% em saneamento e 12,2% em telecomunicações).

Para fomentar estes investimentos, o Brasil já conta com políticas para expandir sua capacidade de produção, absorver novas tecnologias e aumentar a produtividade, como o Novo PAC, a Nova Indústria Brasil, o Plano de Transformação Ecológica e o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).

Além destas iniciativas, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) lançaram neste mês o programa Investe Mais Estados, voltado para diversificar o destino de investimentos estrangeiros no Brasil, preparando os estados brasileiros para atrair recursos para projetos focados em soluções sustentáveis, ampliando a participação fora das regiões Sudeste e Sul, que concentram mais de 80% das receitas brutas geradas por empresas estrangeiras instaladas no país.

Concluindo, mesmo diante de um cenário de incertezas e volatilidade, o Brasil ainda se mostra um país com potencial crescente para investimentos estrangeiros com retornos no longo prazo, principalmente em infraestrutura, energia renovável, tecnologia e agronegócio. Em particular, destaca-se o papel do Brasil na transição energética global, atraindo investimentos em energia solar, eólica e hidrogênio verde, reforçando a agenda de desenvolvimento sustentável.

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Edson Kawabata é Sócio-Diretor de Novos Negócios da Peers Consulting + Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão, com foco em M&A, estratégias de crescimento, experiência do cliente e excelência operacional. Por 12 anos, ocupou posições executivas em diferentes setores, como Diretor de Estratégia e Desenvolvimento no Grupo Pão de Açúcar, Diretor Sênior na Kantar, Diretor Geral no Machado Meyer e Chief Transformation Officer no Pátria Investimentos. É formado em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo ITA, pós-graduado em Direito Societário pela FGV, mestre em Empreendedorismo pela FEA-USP, MBA pela Cornell University, com certificação executiva em Estratégia e Inovação pelo MIT.
edson.kawabata@moneytimes.com.br
Edson Kawabata é Sócio-Diretor de Novos Negócios da Peers Consulting + Technology, consultoria especializada em negócios e tecnologia. Possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão, com foco em M&A, estratégias de crescimento, experiência do cliente e excelência operacional. Por 12 anos, ocupou posições executivas em diferentes setores, como Diretor de Estratégia e Desenvolvimento no Grupo Pão de Açúcar, Diretor Sênior na Kantar, Diretor Geral no Machado Meyer e Chief Transformation Officer no Pátria Investimentos. É formado em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo ITA, pós-graduado em Direito Societário pela FGV, mestre em Empreendedorismo pela FEA-USP, MBA pela Cornell University, com certificação executiva em Estratégia e Inovação pelo MIT.
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