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Petrobras (PETR4): Petróleo a US$ 65 pode ‘secar’ caixa de empresa (e dividendos)?

24 abr 2025, 18:45 - atualizado em 24 abr 2025, 18:45
petrobras petr4 dividendos
Em relação aos dividendos, não tem jeito. É provável que a Petrobras seja obrigada a pagar menos proventos (Wilson Melo / Agência Petrobras)

Tudo parecia bem com a Petrobras (PETR4) em 2025. A ação caminhava para renovar máximas, a administração tinha confiança de que entregaria bons resultados e, o mercado, claro, estava animado com seus dividendos pomposos. 

Porém, a política tarifária de Donald Trump, que jogou o mundo em mar de incertezas, pegou em cheio o petróleo, que viu o valor recuar para o patamar de US$ 60, o menor desde 2021, período em que se vivia uma pandemia. 

Além do perigo da economia crescer menos em 2025, outro fator contribuiu para jogar os preços para abaixo: a Opep, cartel de países produtores de petróleo, resolveu que era hora de aumentar a produção. 

Resumo da ópera: no ano, a commodity acumula queda de 12%. Um recuo acentuada em um curto espaço de tempo. Espelhando o desempenho, a ação da Petrobras desaba 17%, a R$ 30, mínimas de dois anos.

Petrobras: Caixa vai secar?

Com o preço do petróleo, a empresa com certeza lucrará menos. A questão é saber até que ponto a petroleira aguenta ‘desaforos’.

De maneira geral, analistas que conversaram com o Money Times afirmam que a Petrobras está preparada para absorver os impactos da queda da commodity.

Ilan Arbetman, na Ativa Investimentos, diz que a petroleira se destacou por ter custos de produção baixos, o que deixa a companhia com custos extremamente competitivos.

“Toda a empresa sente essa queda do petróleo, mas a estrutura robusta de produção, o know-how, a expertise, faz com que a Petrobras possa se blindar mais do processo”.

Ainda segundo Arbetman, quanto mais baixo o preço, maior diligência a companhia terá que ter.

“Digamos que o petróleo caia mais. Pode ser que a companhia, assim como todas, tenha que rever a estrutura produtiva, fechar campos que possa ter um lifting cost mais alto, como campos de águas rasas ou de terras”.

Com o patamar de US$ 65, a geração de caixa da Petrobras seria de em torno de 5%, o que, segundo João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, é gerenciável diante da atual estrutura de capital da companhia. 

“A Petrobras possui uma posição financeira sólida, com liquidez confortável até aqui tem apresentado nos últimos 8 anos boa gestão no que se refere a investimentos e distribuição de dividendos”.

Você me deixou mal-acostumado

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, estima que o breakeven da Petrobras é entre US$ 25 e US$ 30 o barril. Portanto, para ele, esse patamar ainda está mais do que saudável para a companhia. 

  • Glossário: No contexto de empresas de petróleo, breakeven (ou ponto de equilíbrio) é o preço do barril de petróleo necessário para que uma empresa ou um projeto específico cubra seus custos totais, ou seja, não tenha lucro nem prejuízo.

“Ficamos um pouco mal-acostumado nos últimos anos com patamares bem mais altos depois da questão da invasão da Rússia”.

Mas essa disparada dos preços, lembra, também se tornou problemático para a companhia por conta da questão política. Na gestão Bolsonaro, CEOs caíram por conta da gasolina, que chegou a quase R$ 7.

“Se o preço é muito baixo, é claro que testa o breakeven. Mas se o preço é muito alto, tem um custo político tão elevado para o governante em exercício que a companhia se sente pressionada a não repassar tudo para a população. E isso é mal visto pelos olhos dos investidores”.

E os dividendos da Petrobras?

Em relação aos dividendos, não tem jeito.

É provável que a Petrobras seja obrigada a pagar menos proventos. 

Arbetman, da Ativa, considera como ‘possível’ a redução dos dividendos regulares, já que a geração de caixa vai cair, enquanto a empresa irá aumentar os investimentos.

No caso dos proventos extraordinários, a fórmula é complexa, já que a estatal olha o horizonte maior.

“Normalmente, ela define isso no âmbito de realização do novo planejamento estratégico, então talvez seja até um pouquinho cedo para falar dos próximos extraordinários. Mas podemos falar sim que o Brent mais baixo também pode limitar a margem de manobra que a empresa tem para pagar os extraordinários”.

Mesmo assim, o analista diz que a companhia entregará dividendos decentes para esse ano. “ A coisa ia ficar um pouquinho mais complicada se o Brent caísse mais, se ele baixasse ali do patamar de 60, aí, sim, teríamos complicações maiores”.

Gustavo Cruz lembra que a empresa tem se destacado nos últimos anos por um repasse de dividendos muito acima dos brasileiros e de seus pares internacionais. 

“Então, diante disso, não é que ela vai deixar de ser interessante. Ela ainda vai ser bem interessante em termos de pagamento de dividendos, só vai ficar algo mais razoável, mais normalizado”

A expectativa de analistas é que os dividendos da Petrobras, com os preços atuais do barril (entre US$ 65 e US$ 75), fiquem entre R$ 4,5 e R$ 5,5 de dividendos por ação, ainda um patamar atrativo.

“Embora haja potencial ajuste nos dividendos, a companhia segue atrativa do ponto de vista de retorno ao acionista, dentro de uma política responsável e ancorada na sustentabilidade do seu caixa”, afirma Abdouni.

Em relatório dessa semana, o UBS BB reconhece as incertezas ao redor da Petrobras, em meio ao cenário de queda das ações e do petróleo.

No entanto, os rendimentos da companhia permanecem altos, o que sustenta a recomendação de compra, mas com um corte no preço-alvo, que passa de R$ 49 para R$ 46.

Os analistas Matheus Enfeldt, Tasso Vasconcellos e Victor Modanese permanecem com uma visão positiva em relação à estatal, tendo em vista que o dividend yield (retorno de dividendos) segue atrativo e em torno de 13%, após um recuo de cerca de 20% nos preços das ações.

Inclusive, quando se trata do capex da Petrobras, o UBS BB classifica o debate como importante, com muito para acontecer e uma ampla gama de expectativas sobre o tópico.

Os analistas estavam mais pessimistas, com uma faixa de estimativas dos investidores para 2025 de US$ 13 bilhões a US$ 16 bilhões. Agora, o banco espera um investimento em capital de US$ 14,8 bilhões.

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Editor-assistente
Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
renan.dantas@moneytimes.com.br
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Formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, cobre mercados desde 2018. Ficou entre os jornalistas +Admirados da Imprensa de Economia e Finanças das edições de 2022, 2023 e 2024. É editor-assistente do Money Times. Antes, atuou na assessoria de imprensa do Ministério Público do Trabalho e como repórter do portal Suno Notícias, da Suno Research.
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