Commodities

Petrobras: A paridade de preços do diesel não funciona no Brasil (e a culpa não é do Bolsonaro)

14 abr 2019, 14:39 - atualizado em 14 abr 2019, 17:01
O PPI funciona, mas aparentemente foi feito de forma descuidada (e continua assim)

Hoje é 14 de abril de 2019, um pouco menos de um ano após eu escrever aqui, neste mesmo espaço, sobre a crise causada pela greve dos caminhoneiros e acerca da decisão da Petrobras (PETR3; PETR4) desistir, pela primeira vez, de seguir à risca a política chamada PPI – Paridade de Preços Internacionais.

E, observando o que se passou de lá para cá, nada mudou. Ok, você pode dizer que temos um novo governo que parecia “mais alinhado ao mercado”. Mas isso não tem absolutamente nada a ver sobre os reais motivos que impedem esta ideia de acompanhar os preços internacionais aqui no Brasil.

Para quem dormiu no ponto nos últimos dias, a estatal anunciou um reajuste do diesel de 5,7% na quinta-feira (11), mas voltou atrás um dia depois por um temor de nova parada generalizada nas estradas. As ações despencaram aproximadamente 8%.

Volto a afirmar: esta política de preços é muito justa! Mas por que ela funciona em todos os países não aqui? Qual é a diferença?

Como em tudo – é preciso olhar os detalhes – que nem são tão pequenos assim no nosso caso. O Brasil, vale lembrar, por ser uma economia muito isolada do mundo sempre vai possuir alguma especificidade, que não é igual ao resto do mundo. O PPI funciona, mas aparentemente foi feito de forma descuidada (e continua assim):

A volatilidade do real é muito grande

O PPI funciona em outros países pois poucas moedas tem a mesma volatilidade do Real. Não é comum em grandes economias, mesmo subdesenvolvidas, terem variações de por exemplo -20% na moeda de uma forma tão frequente como no Brasil. Um dos motivos é o próprio isolamento da economia brasileira, mas isso é outra discussão.

Abaixo, você pode ver a variação implícita em moedas internacionais em um prazo de 52 semanas (1 ano). A volatilidade do real só é menor, basicamente, do que àquela vista pela Lira Turca, um país em extremo estresse financeiro.

Quando o PPI foi definido (2º semestre 2016), passávamos por uma volatilidade dos preços do petróleo (em dólar) e um real razoavelmente estável e até valorizando. Durante 2017 o real ficou extraordinariamente estável, e em níveis valorizados historicamente. Era só uma questão de tempo até o aumento da moeda.

Ou estavam contando com a sorte ou realmente ficaram temporariamente míopes em relação à variação da moeda. O fato é que um aumento de 20% na moeda, combinado com +10% ou 20% no petróleo traria efeitos combinados excessivos. Era só uma questão de tempo.

Agora a equação estourou mais uma vez. Só que a batata quente agora está nas mãos de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. A solução, contudo, também está nas mãos dos dois. A reforma da Previdência. com a consequente melhora das contas públicas, e uma maior abertura da economia seriam dois ótimos estabilizadores cambiais de longo prazo.

A logística alternativa ainda não se desenvolveu

O mercado de combustíveis no Brasil há muito tempo já é liberado, inclusive para importação. Entretanto a Petrobras ainda é quase monopolista. Até antes do PPI a estatal conseguia controlar os preços, mesmo em um ambiente competitivo, “sufocando” os competidores. E fazendo dumping nas regiões onde competição e importação aparecesse. O resultado foi desestímulo à competição e consequentemente atrofia da logística de competição à Petrobras.

Qual empresário investiria em um porto de importação de combustível e dutos / bases de distribuição se a Petrobras pode controlar os preços? Inclusive agora o subsídio à Petrobrás mais uma vez está desestimulando a competição. Quem contratou um navio de diesel dias atrás para trazer para o Brasil vai precisar devolver ou mudar a rota da carga. Ao chegar aqui o diesel à preços internacionais, terá que competir com o diesel subsidiado da Petrobrás. Será mais um empresário frustrado e desincentivo à competição para a Petro.

O PPI é puro, sem nenhum ajuste

Os países que aplicam o PPI reconhecem os riscos, e aplicam a política com pequenos ajustes. Mesmo que outros preços da economia também sigam naturalmente o PPI pelos seus importadores, em qualquer economia, o combustível é sempre mais sensível. Os consumidores acompanham seus preços na vírgula, compram semanalmente e o consideram como um indicador fundamental do seu bem-estar.

Nada foi feito para evitar esses riscos. Mesmo em países com PPI similares ao Brasil, os reguladores (seja equivalente à ANP ou CADE), tomaram medidas preventivas em relação ao possível aumento súbito de preços. Exemplos são, utilização dos estoques reguladores, hedge de moedas, publicação e publicidade de preços de todos os elos da cadeia para estimular competição e limitação / previsibilidade da frequência do aumento de preços. Lembrando que a limitação é necessária para o aumento pois essa é sempre feita de forma imediata – e a redução, sempre bem mais lenta (rocket feather effect).

A minha maior aposta é de que veremos no ano que vem, em um artigo muito parecido, mas com pequenos ajustes.

Fundador do Money Times | Editor
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
Twitter Linkedin
Fundador do Money Times. Antes, foi repórter de O Financista, Editor e colunista de Exame.com, repórter do Brasil Econômico, Invest News e InfoMoney.
Twitter Linkedin
Giro da Semana

Receba as principais notícias e recomendações de investimento diretamente no seu e-mail. Tudo 100% gratuito. Inscreva-se no botão abaixo:

*Ao clicar no botão você autoriza o Money Times a utilizar os dados fornecidos para encaminhar conteúdos informativos e publicitários.