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Petrobras prevê vender fatia na Braskem até início de 2021, diz CEO

25 maio 2020, 12:45 - atualizado em 25 maio 2020, 14:05
Braskem
De saída: para vender sua parte, Petrobras espera que Braskem migre para o Novo Mercado da Bolsa (Imagem: Divulgação/Braskem/Julio Bittencourt)

A Petrobras (PETR3; PETR4) pretende se desfazer de toda sua participação na petroquímica Braskem (BRKM6) por meio de operação no mercado de capitais, reiterou nesta segunda-feira o presidente da petroleira estatal, Roberto Castello Branco, ao projetar que o negócio poderia ocorrer até o começo do ano que vem.

“Acreditamos que seja viável até o final do ano, se não, no início do ano que vem, vender essa participação”, disse o executivo, ao participar de transmissão ao vivo da Genial Investimentos.

O caminho para viabilizar o desinvestimento passa pela migração da Braskem ao Novo Mercado da bolsa B3, com conversão de todas ações da empresa em ordinárias, o que já é alvo de conversas entre a Petrobras e a Odebrecht, sócia da estatal na petroquímica e detentora de 50,1% da ações com direito a voto.

“Não há sentido nenhum em a Petrobras ser sócia da Braskem. Primeiro, a Petrobras não é fundo de investimento. Nós não operamos a Braskem, temos apenas participação acionária”, apontou Castello, ao justificar o desinvestimento.

A petroleira tem buscado nos últimos anos vender diversos ativos para reduzir dívidas e focar a atuação na exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas.

Revisão do Portfólio

Agora, em meio aos impactos da pandemia de coronavírus, que reduziu brutalmente a demanda por combustíveis, derrubando os preços do petróleo no mercado internacional, a Petrobras também passou a conduzir uma reavaliação de sua carteira de projetos.

“Estamos fazendo uma revisão completa do portfólio de projetos, uma espécie de ‘stress-test’. Para ver quais podem ser executados, outros que podem ser, mas dependerão de reestruturação, e aqueles que vão ser postergados ou até cancelados definitivamente”, explicou Castello.

Esse trabalho envolve uma avaliação do risco e retorno dos projetos e dos investimentos necessários, de forma que a companhia possa financiá-los sem se alavancar “demasiadamente” como no passado, acrescentou o executivo.

Ele destacou, no entanto, que o campo de Búzios, no pré-sal, o qual a companhia prevê investir bilhões de dólares nos próximos anos, não deve ser afetado por essas revisões.

“Esse ativo é resistente a preços muito baixos, é o que se chama de ativo de classe mundial. Grandes reservas, baixo risco, custo de extração próximo a 3 dólares/barril… e é o maior campo de petróleo offshore já descoberto no mundo. Esse certamente vale a pena, minha expectativa é de que ele vai passar pelo ‘stress-test’ facilmente”.

A empresa registrou no primeiro trimestre um histórico prejuízo líquido de 48,5 bilhões de reais, após grande baixa contábil devido a uma revisão das premissas de longo prazo para o petróleo Brent.

Intervenções

Ao comentar possíveis consequências da atual pandemia do novo coronavírus, o presidente da Petrobras destacou que uma recessão profunda decorrente da doença e de medidas de isolamento adotadas para combatê-la poderiam gerar importantes mudanças políticas.

Segundo ele, um movimento como esse “favorece grupos políticos estatistas”, que defendem maior intervenção do Estado na economia.

Castello Branco, formado pela Universidade de Chicago, define-se como de pensamento econômico amplamente liberal, assim como o ministro da Economia, Paulo Guedes, que passou pela mesma escola norte-americana.

Roberto Castelo Branco
Segundo Castello Branco, um movimento como esse “favorece grupos políticos estatistas”, que defendem maior intervenção do Estado na economia (Imagem: REUTERS/Sergio Moraes)

“As pessoas, diante da crise, querem que um grande pai as ajude, e aí é importante a sociedade não ceder à tentação do populismo”, afirmou.

A fala do executivo vem em momento em que analistas mantêm alguma preocupação quanto a impactos da crise econômica sobre as políticas da Petrobras para precificação de combustíveis.

Em 13 de maio, após o presidente Jair Bolsonaro ter criticado um aumento de 12% na gasolina pela estatal, analistas do UBS classificaram a política de preços como “principal risco” para a companhia.

“Nós vimos comentários similares antes (de Bolsonaro) e investidores sabem o custo que isso pode causar para a companhia”, escreveram em relatório.

Durante a transmissão ao vivo, o presidente da Petrobras não foi questionado sobre a recente fala de Bolsonaro ou sobre pressões em sua política de preços.

Mas ele defendeu que, antes dos aumentos mais recentes, a companhia vinha reduzindo fortemente os preços nas refinarias diante da queda do petróleo no mercado internacional, em movimento que não foi acompanhado pelos postos.

“Com relação aos postos de gasolina, não há nada que a Petrobras possa fazer… está fora do nosso escopo, não somos agência de regulação. Isso é papel do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Petrobras é só uma empresa”, disse.

Depois do ciclo de reduções de preço, a Petrobras anunciou três reajustes seguidos para a gasolina, com alta de 38% apenas em maio. A companhia também anunciou a primeira alta do ano para o diesel, de 8%.

Atualizada às 14h04)