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Pix Saque e Pix Troco: quem ganha com os novos recursos do Pix?

16 set 2021, 15:02 - atualizado em 16 set 2021, 15:02
Pix
No mercado há menos de um ano, o Pix tornou-se em pouco tempo um dos meios de pagamento mais utilizados no país (Imagem: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Muitas expectativas foram criadas quando o Banco Central anunciou o surgimento do sistema de pagamentos instantâneos gratuito Pix, mas nem mesmo os mais otimistas poderiam prever a rapidez com que a ferramenta seria adotada no dia a dia dos brasileiros.

No mercado há menos de um ano, o Pix tornou-se em pouco tempo um dos meios de pagamento mais utilizados no país. A última pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria com o Sebrae, revela que o sistema já figura no segundo lugar de preferência, perdendo apenas para o dinheiro. De acordo com o levantamento, o Pix é usado por 70% dos brasileiros.

A quantidade de transações Pix liquidados no SPI (Sistema de Pagamentos Instantâneos) atingiu volume próximo a 815,2 milhões só no último mês, segundo o monitoramento realizado pelo Banco Central. Em valores, R$ 458 bilhões foram movimentados via Pix em agosto.

Outra informação computada pelo Banco Central é o número de usuários que já fizeram ou receberam pelo menos um Pix. A quantidade acumulada de pessoas físicas já chega a quase 97,8 milhões.

Os dados não mentem: o Pix ganhou a confiança dos brasileiros. E a perspectiva é de que tenha mais tração com as duas novas funcionalidades esperadas para o fim do ano, o Pix Saque e o Pix Troco.

De acordo com o sócio fundador e CEO da empresa que desenvolve soluções para o mercado financeiro Matera, Carlos Netto (também conhecido como TK), os novos recursos vão possibilitar a transição do dinheiro em papel para o dinheiro digital.

“O Pix Saque e o Pix Troco são as duas faces da moeda, duas variações. Eles têm um impacto gigante na transformação do mundo com papel para um mundo sem papel”, disse o executivo, em conversa com o Money Times. TK participou dos grupos de decisões no Banco Central na época em que o Pix estava em fase de desenvolvimento.

Soluções para os problemas

No início de setembro, o Banco Central informou que vai implementar o Pix Saque e o Pix Troco em 29 de novembro. Ambos os recursos vão ter limite máximo de transação durante o dia e à noite.

O Pix Saque e o Pix Troco chegam poucos meses após a liberação do Pix Cobrança, que nasceu como uma alternativa aos boletos, podendo ser usado por empreendedores, lojistas e prestadores de serviços.

Com o Pix Cobrança, qualquer empreendedor pode emitir um QR Code personalizado que realiza cobranças automáticas ou com data futura.

As novas funcionalidades do Pix chegam para resolver um problema de escassez, disse Carlos Netto (TK), CEO da Matera (Imagem: Divulgação)

O Pix Saque será disponibilizado a todos os clientes que queiram sacar dinheiro. O saque poderá ser realizado em qualquer um dos pontos que ofertar o serviço, como estabelecimentos comerciais e redes de ATMs compartilhados e participantes do Pix.

O Pix Troco segue uma dinâmica semelhante. A diferença é que o saque de recursos em espécie pode ser realizado durante o pagamento de uma compra ao estabelecimento. Nesse caso, o Pix é feito pelo valor total (compra + saque).

Segundo TK, as novas funcionalidades do Pix chegam para resolver um problema de escassez. O executivo destacou que faltam pontos de saque no país e, por isso, a tendência das pessoas é converter rapidamente o saldo que possuem na conta em dinheiro vivo.

A ideia do Pix Saque e do Pix Troco é trazer mais abundância ao mercado, acabar com essa escassez.

“Parece que o Bacen [Banco Central] está querendo dar vida para o dinheiro, mas não é: ele está querendo deixar o dinheiro abundante. Com abundância e baixo custo do saque, a pessoa não vai sacar tudo. Vai deixar o dinheiro na conta dela e vai sacar quando precisar”, explicou TK.

Outro problema atual que o Pix Saque e o Pix Troco podem ajudar a mitigar é a pegada de carbono. Com lojista e consumidor desenvolvendo uma relação de troca mais direta, não haverá mais tanta necessidade de, por exemplo, usar o carro-forte.

“Você fala: eu tenho um problema, preciso de dinheiro. O lojista fala: eu tenho um problema, preciso depositar meu dinheiro. Pronto, nosso problema está acabado”, afirmou o CEO da Matera.

É verdade que o Pix não é blindado. Crimes como sequestros relâmpagos cresceram após o lançamento do sistema, o que fez com que o Banco Central anunciasse novas regras de segurança – dentre elas o limite de R$ 1 mil para operações entre pessoas físicas das 20h às 6h.

Com o Pix Saque e o Pix Troco, lojista e consumidor vão ter que aprender a lidar com o processo de educação das pessoas.

“É questão de aprendizado. A gente vai ter que ter o tempo de aprender com o Pix”, comentou TK. O executivo disse que há riscos, mas, no fim, os benefícios falam mais alto.

“Vejo muito mais uma mitigação de riscos para a loja, para as pessoas que não têm que ir mais ao caixa eletrônico para sacar o dinheiro inteiro. E mais: tudo indica que, com isso, todo mundo vai começar a aceitar Pix”, completou.

Mais autonomia

Outra vantagem das novas funcionalidades do Pix é a autonomia que oferece ao lojista. A intenção do Banco Central não é obrigar o dono de um negócio a ter dinheiro, mas criar um meio de “se livrar” do dinheiro em papel.

O lojista pode criar suas próprios regras para o saque, inclusive estipular o valor e o valor das cédulas que quer trocar.

“Ele pode começar a colocar regrinhas para o saque, que privilegia as cédulas das quais ele quer se livrar”, disse TK. “O Bacen foi muito bem intencionado nisso aí de não criar um problema para os lojistas, mas uma solução”.

Inclusive, a autonomia é uma característica que marca o Pix desde o seu nascimento. Segundo TK, o Banco Central segue tentando manter uma linha amarela, sendo o provedor da rede, e não um player.

“Ele não vai muito além disso, justamente para deixar o setor privado inovar, disputar e brigar em cima dessa rede para oferecer coisas melhores à sociedade. Se ele começa a competir com os players, não é mais uma rede – virou um negócio do Banco Central”, afirmou.

As possibilidades de inovação são amplas, e até os bancos podem sair vencendo com isso. Sabendo como usar o Pix a seu favor, qualquer instituição financeira consegue aumentar a receita.

“O Pix não é uma ameaça por si só. Ele é uma ameaça no sentido de forçar a inovação, forçar as pessoas a pensarem diferente. Quem conseguir chegar no Pix de um jeito, de inovar e fazer diferente, vai ganhar – seja bancão, seja banquinho. O Pix é um habilitador”, defendeu o CEO da Matera.

Pix Offline?

Uma funcionalidade offline do Pix será lançado em breve, de acordo com o BC (Imagem: Unsplash/@jonasleupe)

Na opinião de TK, existe ainda muita coisa que o Banco Central pode fazer para expandir o Pix.

No fim de junho, Roberto Campos Neto, presidente da instituição, disse que uma funcionalidade offline do sistema seria lançada “muito em breve”.

Na ocasião, Campos Neto disse que existem três tecnologias nesse campo, sendo a predileta – e a mais segura – por aproximação. A funcionalidade seria realizada por um cartão que, aproximado a um celular, permitiria transferência de dinheiro online para offline no cartão.

Além do Pix Cobrança e a iminente chegada do Pix Saque e do Pix Troco, já existe, por exemplo, a modalidade facultativa do Pix Agendado.

Enfim, as oportunidades parecem infinitas.

Nesse ritmo de evolução, TK acredita que não deve demorar muito para o Pix ultrapassar outros produtos do mercado.

“Ele vai ocupar o espaço do cartão de crédito. Vai ser uma rede mais barata que permite a quem dá crédito ser melhor rentabilizado. Há até um interesse de quem toma o risco de crédito, que é o agente básico principal de uma cadeia. Se esse cara começar a usar o Pix para transferir o crédito dele, e ele ganhar mais dinheiro com isso, isso faz uma briga feia com o cartão” afirmou.

TK arrisca um período de três anos para o Pix sair na frente e se tornar o meio de pagamento mais usado no país.

Editora-assistente
Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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Formada em Jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atua como editora-assistente do Money Times há pouco mais de três anos cobrindo ações, finanças e investimentos. Antes do Money Times, era colaboradora na revista de Arquitetura, Urbanismo, Construção e Design de interiores Casa & Mercado.
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