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Polêmico artigo de CEO da Coinbase gera fúria na comunidade cripto

30 set 2020, 10:18 - atualizado em 30 set 2020, 10:18
A corretora Coinbase está oferecendo um pacote de desemprego para funcionários que não estão confortáveis com a postura do CEO. A fúria em relação ao artigo irá afetar uma possível IPO? (Imagem: Crypto Times)

A doutrina sobre ativismo corporativo de Brian Armstrong, diretor executivo da corretora Coinbase, pode ter causado intrigas, mas provavelmente não irá impedir o lançamento da empresa ao mercado público, segundo diversos profissionais no mercado de ofertas públicas iniciais (IPOs).

Em um artigo publicado no último domingo (27), Armstrong deu sua opinião de que ativismo e política não devem acontecer dentro da corretora sediada em São Francisco.

Armstrong expressou seu desejo que a Coinbase seja “focada consistentemente” em sua missão de criar um sistema financeiro aberto enquanto foca “minimamente” sobre “amplas questões sociais” e causas políticas.

A mensagem de Armstrong se alinhou à cacofonia de suporte e oposição do mundo cripto e além. Alguns parabenizaram o ex-executivo do Airbnb por tentar cultivar um ambiente ideologicamente inclusivo. Outros argumentaram que o tom do texto foi frio e insensível.

As reações de dois ex-funcionários ilustram a dicotomia. Dan Romero, ex-funcionário e ex-líder do comércio institucional da corretora, disse que era “inspirador” ver a empresa prosseguir “firmemente” em sua missão.

Por outro lado, Reuben Bramanathan, ex-gerente de produtos, disse que o foco limitado da empresa não deve impedir a corretora de “reconhecer a injustiça e desigualdade que afeta muitos usuários atuais e futuros da Coinbase”.

De qualquer forma, diversos ex-funcionários e executivos no mercado de criptoativos questionaram se a publicação controversa teria um impacto na futura IPO da empresa.

Fundada em 2012, a corretora americana Coinbase deseja fornecer acesso fácil e seguro a criptoativos, pois são o futuro do dinheiro e uma catálise para criar um sistema financeiro aberto em todo o mundo (Imagem: Crypto Times)

Em julho, a Reuters noticiou que a empresa esteve alinhando bancos e conselheiros para listar suas ações em uma bolsa de valores americana.

Enquanto isso, fontes próximas à empresa afirmam que pretende obter uma listagem direta, ou seja, é mais provável que seja listada na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE).

Uma listagem direta é uma mudança no processo de IPOs, pois permite que uma empresa contorne algumas complexidades de uma listagem tradicional — como um “road show” prolongado.

Geralmente, tal acordo funciona para uma empresa que já tem uma marca bem-estabelecida e não precisa da ajuda de banqueiros de investimento para promovê-la a investidores em Wall Street. É importante destacar que NYSE é uma investidora na Coinbase.

Independente de a Coinbase optar por uma IPO tradicional ou listagem direta, será que essa polêmica gerada pela publicação é grande o suficiente para dificultar o lançamento da IPO?

“Eu acho que depende muito de se continuará se ampliando ou a poeira baixar e as pessoas seguirem em frente”, disse Casper Johansen, fundador da empresa de consultoria em cripto The Spartan Group.

Ele acrescentou: “não acho que seja algo que um investidor institucional irá salientar ou impedir que compareça ao roadshow”.

Outro ex-banqueiro de investimentos, que falou sob a condição de anonimidade dada à natureza controversa do assunto, concordou que a polêmica do artigo não seria algo que estará no radar de um investidor.

“Quão problemático isso se tornará? Pode parecer insensibilidade minha, mas provavelmente não é algo tão grave”, disse um ex-banqueiro de investimentos.

“Se fosse uma questão ou preocupação sobre seus relatórios financeiros, fraqueza material nos controles internos, ou em relação a informações adequadas ao risco jurídico e à responsabilidade, então haveria sinais de alerta.”

Além do polêmico artigo, Armstrong está oferece um acordo de saída para funcionários que não se sentirem mais confortáveis com a missão da empresa (Imagem: Twitter/Brian Armstrong)

Ainda assim, pode significar que a Coinbase perca pelo menos uma grande oportunidade como uma empresa listada em bolsa: o mercado para investimentos ambientais, sociais e de governança (ESG).

Este mês, fundos ligados a ESGs, repletos de empresas que levam sustentabilidade e ativismo social a sério, bem como lucros, garantiram mais de US$ 250 bilhões conforme a pandemia da COVID-19 continua a abalar os mercados.

Em relação ao processo de listagem, diversos especialistas afirmam que considerações da ESG se tornaram algo mais importante durante o processo de roadshow.

Na verdade, alguns investidores podem considerar a postura da Coinbase de não atuar como uma agente pela mudança como uma negligência, disse um especialista, acrescentando que provavelmente se tornará um assunto debatido durante um roadshow da IPO — principalmente entre grandes empresas de investimento.

Recentemente, Larry Fink, CEO da BlackRock, disse que sustentabilidade, por exemplo, é uma “questão principal” para investidores e que seria uma consideração essencial para as decisões de investimento da empresa.

Em uma carta aberta em 2018, o executivo pediu que empresas focassem menos em lucro a curto prazo e que CEOs avaliassem os problemas que afetam a sociedade.

“A sociedade está cada vez mais recorrendo ao setor privado e pedindo que empresas respondam aos amplos desafios societários”, escreveu Fink.

A cereja do bolo foi um e-mail enviado por Armstrong aos funcionários do empresa, oferecendo um pacote para os que não desejarem mais trabalhar na empresa devido ao artigo recém-publicado.

Armstrong escreveu:

Se você quiser falar com o RH sobre esse pacote (não se comprometendo a aceitá-lo, mas para começar uma discussão), favor preencher o formulário e alguém entrará em contato com você em breve.

Sua conversa será confidencial com o RH a menos que você decida incluir seu gerente. Se você desejar continuar, o RH te fornecerá um acordo de separação e te guiar no seu último dia.

Assim, a Coinbase confirma sua postura de focar em sua missão cripto em vez do ativismo social, enfatizando sua missão apolítica.