Economia

Política fiscal será decisiva para sucesso do próximo ciclo de cortes da Selic, avalia Solange Srour, do UBS WM

14 ago 2025, 16:16 - atualizado em 14 ago 2025, 16:16
selic juros copom banco central
(Imagem: iStock)

O sucesso do próximo ciclo de cortes da taxa Selic dependerá de uma política fiscal que não atue em sentido contrário, especialmente em um ano eleitoral. A avaliação é de Solange Srour, chefe de macroeconomia para o Brasil, e de Débora Nogueira, economista do UBS Wealth Management.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

“A política fiscal no ano eleitoral será decisiva para o que acontecerá com o desvio da inflação no próximo ciclo de flexibilização da Selic.”

As economistas apontam que a inflação esperada para 18 meses está 1,6 ponto percentual (p.p.) acima da meta de 3%, de acordo com dados do Banco Central (BC). Mantidas as condições atuais, esse desvio recuaria para 1,3 p.p. em dezembro e 1,2 p.p. em março.

“Nossa sensibilidade é que esse desvio caia um pouco, mas não muito até lá”, afirmam.

O desvio, segundo Srour e Nogueira, é relevante, mas não impediu cortes em ciclos anteriores, que começaram com diferenças semelhantes: Alexandre Tombini (2011) iniciou com 1,0 p.p., Ilan Goldfajn (2016) com 1,2 p.p. e Roberto Campos Neto (2023) com 1,1 p.p.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

No entanto, os episódios de 2011 e 2023 fracassaram em ancorar expectativas e trazer a inflação para perto da meta, exigindo novo aperto monetário. “Todos ocorreram em um ambiente externo favorável, com dólar fraco frente a emergentes e valorização do real entre 10% e 12% em 12 meses”, lembram.

A diferença do ciclo liderado por Goldfajn foi a combinação de corte de juros com um ajuste fiscal “efetivo”, que reduziu cerca de 1,5 p.p. das despesas primárias em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2011 e 2023, por outro lado, o afrouxamento monetário ocorreu em meio a expansão fiscal, que manteve a economia aquecida e dificultou a queda da inflação.

Perspectiva mais benigna para o IPCA

As economistas do UBS afirmam que a desinflação de bens e alimentos mais intensa que o esperado sustenta um cenário mais favorável para a inflação em 2025.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O grupo de alimentação e bebidas, por exemplo, recuou pela segunda leitura consecutiva, com variações de -0,18% em junho e -0,27% em julho.

Embora o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 12 meses ainda esteja em 5,2% — abaixo do pico de 5,5% em abril —, as expectativas para o próximo ano já recuaram. As projeções do Boletim Focus caíram para 5% e tendem a avançar para a faixa de 4,5% a 4,8%.

Essa moderação começa a afetar prazos mais longos: a expectativa para 2026 recuou 0,14 p.p. desde o pico e, para 2027, a queda média de 0,13 p.p. sugere que a mediana também deve ceder nas próximas semanas.

O modelo do BC projetou, na reunião de julho, inflação de 3,6% para o horizonte relevante. Com a rolagem das projeções e queda adicional nas expectativas, o número pode cair para 3,3% ou 3,2% entre dezembro e março — patamar já classificado por diretores como “ao redor da meta”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Apesar da melhora, as economistas ponderam que dificilmente as expectativas estarão plenamente ancoradas nos próximos meses.

Ainda assim, o ambiente externo segue favorável, com dólar enfraquecido — possivelmente reforçado pelo início da flexibilização do banco central dos Estados Unidos no fim do ano — e juros domésticos elevados, o que sustenta a valorização do real e contribui para a continuidade da desinflação.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Compartilhar

Editora-assistente
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
giovana.leal@moneytimes.com.br
Editora-assistente no Money Times e graduada em Jornalismo pela Unesp - Universidade Estadual Paulista. Atua na área de macroeconomia, finanças e investimentos desde 2021.
Leia mais sobre: