Por meta fiscal, governo do Reino Unido descumpre promessa de campanha com mais impostos e crescimento menor
A ministra das Finanças do Reino Unido, Rachel Reeves, anunciou nesta quarta-feira (26) um grande orçamento com aumento de impostos que vai tirar mais dinheiro de trabalhadores, poupadores e investidores para lhe dar mais margem de manobra no cumprimento das metas de redução do déficit.
O órgão fiscal britânico reduziu suas previsões de crescimento econômico para os próximos anos, um revés para o primeiro-ministro Keir Starmer, que prometeu aos eleitores no ano passado que aceleraria a economia.
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Mas o Escritório de Responsabilidade Orçamentária (OBR) afirmou que o governo agora terá mais que o dobro da margem anterior para cumprir suas metas fiscais, algo observado de perto por investidores que analisam os riscos de endividamento britânico.
O OBR afirmou que os aumentos de impostos chegarão a 26,1 bilhões de libras (US$ 34,5 bilhões) por ano. Isso elevará a relação impostos/PIB do Reino Unido para 38,3% da produção econômica, um novo recorde no pós-guerra, embora ainda abaixo da média de 41% da zona do euro no ano passado.
No ano passado, Reeves ordenou aumentos de impostos de 40 bilhões de libras, os maiores desde os anos 1990, com a promeça na época que seria uma medida única.
“Sem dúvida, enfrentaremos oposição novamente. Mas ainda não vi um plano alternativo crível ou mais justo para os trabalhadores”, disse Reeves.
Previsões de crescimento cortadas
A remoção do limite de dois filhos para pagamentos assistenciais a famílias pobres é rejeitada pela maioria dos britânicos, segundo pesquisas de opinião, mas o anúncio foi recebido com aplausos por parlamentares do Partido Trabalhista.
Embora a próxima eleição nacional só deva ocorrer em 2029, a autoridade de Reeves e Starmer tem sido questionada dentro do partido de centro-esquerda.
O instituto de pesquisas Institute for Fiscal Studies destacou que o orçamento incluiu aumento de gastos no curto prazo, enquanto grande parte do esforço de elevar impostos ocorreria mais adiante.
“A contenção futura, logo antes da próxima eleição? Seria compreensível encarar isso com uma boa dose de ceticismo”, disse Helen Miller, diretora do IFS.
O OBR reduziu suas previsões de crescimento econômico, que agora vê com média de 1,5% ao longo do período de cinco anos, 0,3 ponto percentual mais lento do que esperava em março.
A revisão foi atribuída ao menor crescimento da produtividade, que o OBR afirmou refletir o fraco desempenho passado devido a fatores adversos, incluindo o Brexit.
Reeves prometeu provar que o órgão está errado. “Superamos as previsões este ano e vamos superá-las novamente”, afirmou.
Mas a avaliação do OBR sobre o orçamento e as perspectivas mostrou que o padrão de vida dos britânicos deverá crescer muito pouco nos próximos anos, prejudicado em parte pelos impostos mais altos.
Taxas de títulos públicos caem
Os rendimentos dos títulos públicos britânicos de 30 anos, sensíveis às preocupações sobre endividamento, caíram fortemente, quase 12 pontos-base no dia, seu maior recuo diário desde abril, sugerindo que investidores estavam amplamente confortáveis com o plano orçamentário.
A libra esterlina subiu frente ao dólar americano e ao euro.
O OBR afirmou que a margem fiscal, o valor de gastos extras ou cortes de impostos possível mantendo o cumprimento das regras fiscais, ficou em quase 21,7 bilhões de libras em quatro anos.
Em março, o OBR projetava apenas 9,9 bilhões de libras de margem, que foi consumida pelas perspectivas econômicas mais fracas, custos de empréstimos mais altos do que o esperado e a reversão do governo sobre a reforma do bem-estar em julho.
Ian Stewart, economista-chefe da Deloitte, afirmou que a previsão do OBR de crescimento mais rápido dos salários — e, portanto, de receitas maiores com impostos — “salvou” Reeves.
“No entanto, os anúncios de hoje provavelmente terão impacto de longo prazo sobre o crescimento, já que a chanceler está aumentando 26 bilhões de libras por ano em impostos”, disse Stewart.
O OBR afirmou que uma prorrogação de três anos no congelamento dos limites de tributação de renda, originalmente introduzido pelo governo Conservador anterior, arrecadaria 8 bilhões de libras extras no ano fiscal de 2029/30.
A generosidade dos incentivos às pensões foi reduzida, com cobranças de seguridade social sobre contribuições de pensões com salário-sacrifício rendendo quase 5 bilhões de libras.
O aumento das taxas sobre dividendos, propriedades e renda de poupança arrecadaria 2,1 bilhões de libras, disse o OBR, enquanto o chamado “imposto sobre mansões”, para casas avaliadas em mais de 2 milhões de libras, deve gerar 0,4 bilhão em 2029/30.
Reeves manteve o congelamento da taxa sobre combustíveis, mas introduziu uma nova cobrança por quilometragem para carros elétricos.
Apesar dos aumentos, David Zahn, chefe de renda fixa europeia na Franklin Templeton, que administra US$ 1,5 trilhão em ativos, disse esperar que Reeves tenha de aumentar impostos novamente no próximo ano.
“É uma oportunidade perdida, e ela simplesmente decidiu empurrar o problema para frente”, afirmou.
Gastos em alta, crescimento em baixa
Os gastos públicos deverão crescer todos os anos devido às medidas do orçamento, chegando a 11 bilhões de libras extras em 2029/30, principalmente para financiar medidas de bem-estar social.
Um instituto especializado em redução da pobreza elogiou o fim do limite de dois filhos, juntamente com ações para reduzir contas de energia e o aumento do salário mínimo anunciado na terça-feira.
“Mas ainda há mais a fazer”, disse Alfie Stirling, diretor de análise e políticas da Fundação Joseph Rowntree. “Os custos de moradia e contas ainda são muito altos, nossa rede de proteção é frágil demais, e o custo para trabalhadores que cuidam de seus entes queridos é grande demais”.