Por que a Aneel quer cortar a geração renovável mesmo com energia de sobra
O setor elétrico brasileiro enfrenta agora uma daquelas ironias que só aparecem em sistemas complexos. Depois de anos lidando com escassez hídrica, térmicas caras e risco de apagão, o país se depara com um problema oposto: energia renovável em excesso.
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E isso já virou tema regulatório. Na semana passada, a Aneel aprovou um plano emergencial apresentado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para autorizar cortes obrigatórios de geração em determinadas usinas renováveis. O foco inicial está nas chamadas usinas Tipo III — PCHs, usinas a biomassa e outras centrais conectadas às redes de distribuição que não estão sob despacho direto do ONS.
O diagnóstico é claro. A solução, nem tanto.
O Brasil vem gerando momentos de superoferta de energia limpa, mais do que o sistema consegue absorver com segurança.
A energia que chega na hora errada
O equilíbrio do sistema elétrico depende de que a oferta acompanhe a demanda. Para isso, o ONS precisa ajustar a geração conforme o consumo oscila ao longo do dia.
Mas a combinação de expansão acelerada da eólica e da solar, especialmente no Nordeste, com o crescimento da micro e minigeração distribuída (MMGD), criou uma situação inédita: períodos em que a carga líquida cai tanto que o operador perde margem para controlar frequência e tensão, parâmetros essenciais para evitar blecautes.
Os alertas mais graves ocorreram em 4 de maio e 10 de agosto, quando a operação do SIN ficou próxima do limite. Em termos práticos, era vento demais, sol demais e consumo de menos — simultaneamente.
O resultado tem sido um movimento diário do ONS para desligar usinas e evitar instabilidade.
O plano emergencial da Aneel
Diante do risco, a Aneel autorizou o ONS a coordenar cortes de geração nas usinas Tipo III sempre que houver ameaça à segurança operativa.
A dinâmica será assim:
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Aviso prévio de 7 a 2 dias às distribuidoras sobre possível acionamento do plano;
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Distribuidoras devem notificar todas as usinas Tipo III sob suas áreas;
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Se o risco for confirmado, a geração será reduzida temporariamente;
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Após cada acionamento, o ONS precisará enviar um relatório técnico em até 30 dias detalhando as condições e o impacto da medida.
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As distribuidoras terão 20 dias para elaborar suas próprias Instruções de Operação, definindo como irão proceder quando receberem a ordem de corte.
A razão estrutural para isso é simples: ao contrário de grandes hidrelétricas e térmicas, as usinas Tipo III não são despachadas centralizadamente, dificultando o controle do ONS em momentos críticos.
Quem está na primeira lista
A primeira fase do plano inclui 12 distribuidoras que concentram cerca de 80% da potência instalada de usinas Tipo III no país:
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Copel D
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Elektro
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Celesc
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Equatorial GO
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Energisa MS
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Coelba
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RGE
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EDP ES
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Neoenergia PE
Outras empresas poderão ser incluídas caso o problema se amplie.