Por que a JHSF (JHSF3) quer vender o seu valor de mercado em ímoveis?

A JHSF (JHSF3) surpreendeu o mercado ao anunciar a venda de um conjunto de imóveis avaliado em R$ 4,6 bilhões, valor que supera sua própria capitalização na Bolsa, de R$ 3,8 bilhões no fechamento da última terça-feira (16).
A decisão levanta uma questão-chave: por que uma empresa decide negociar ativos equivalentes – ou até superiores – ao que os investidores estão dispostos a pagar por todas as suas ações em mercado?
A operação será estruturada por meio da criação de um veículo de investimento, possivelmente um fundo imobiliário.
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Independentemente do formato, trata-se da maior oferta já feita para o setor da construção, segundo a própria companhia.
O negócio já conta com garantias firmes de colocação pelos bancos, o que significa que os recursos devem entrar no caixa da JHSF ainda neste ano, caso todas as condições precedentes sejam cumpridas.
A oferta deve ser lançada oficialmente nas próximas semanas, e a expectativa é que seja concluída ainda neste ano, conforme apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Reprecificação implícita
Na prática, a transação indica que os ativos da JHSF valem mais do que o mercado enxerga hoje.
A empresa está mostrando que pode destravar valor ao separar parte de seu portfólio de incorporação e atrair investidores que buscam retorno na valorização de imóveis ao longo do tempo.
O pacote inclui projetos residenciais de alto padrão, como o Reserva Cidade Jardim (em construção na Marginal Tietê), o São Paulo Surf Club, lotes do Complexo Boa Vista em Porto Feliz (SP) e áreas da Fazenda Santa Helena, em Bragança Paulista (SP).
Ficaram de fora os ativos de renda recorrente – como shoppings, hotéis, aeroporto e restaurantes – que continuam sendo fontes estáveis de receita para o grupo.
Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, a empresa cogitou fazer um desmembramento (spin off, no jargão) de algum dos negócios, mas recuou por acreditar que as ações teriam pouca movimentação em bolsa. A opção foi criar um veículo próprio.
Oportunidade financeira
Se a venda for concluída até dezembro, a JHSF terá uma forte injeção de liquidez registrada no balanço do quarto trimestre.
No fim de junho, a empresa tinha dívida líquida de R$ 1,6 bilhão, equivalente a 1,8 vez o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Com os R$ 4,6 bilhões, entrará em 2026 com mais caixa do que dívidas, em um cenário de alavancagem mais confortável.
Segundo a própria companhia, o movimento deve proporcionar uma estrutura de capital mais moderna, permitindo que futuros projetos de incorporação sejam conduzidos de forma conjunta com investidores, via veículos específicos.
O que vem pela frente
Além de reduzir dívidas, a JHSF pretende usar os recursos para acelerar empreendimentos estratégicos, como o Boa Vista Village Town Center, que terá grifes como Gucci e Chloé;
- o Shops Faria Lima, centro comercial em uma das regiões mais nobres de São Paulo;
- a revitalização da Usina São Paulo, às margens do Rio Pinheiros;
- e a expansão do Aeroporto Catarina e do Catarina Outlet, em São Roque (SP).
Ao vender imóveis no mesmo patamar de seu valor de mercado, a JHSF envia um recado direto: suas ações podem estar subavaliadas.
O descompasso entre preço de tela e valor intrínseco dos ativos pode abrir espaço para uma reprecificação, caso os investidores passem a enxergar o potencial de geração de caixa embutido nesses projetos.