Ibovespa chegou ao teto? O que explica a cautela dessa gestora com US$ 2,5 bi na carteira
O ano de 2025 levava a crer que o Ibovespa (IBOV) passaria, mais uma vez, em branco. Com os juros no maior patamar em décadas, a 15% ao ano, e o dólar acima de R$ 6, era difícil acreditar que a bolsa teria um ano tão melhor do que em 2024.
Porém, a sinalização de cortes de juros nos Estados Unidos deu a senha para que o investidor estrangeiro apostasse com força no índice. No acumulado de 2025, R$ 31,5 bilhões foram aportados.
Mesmo assim, a disparada não foi suficiente para convencer os estrategistas do Mirabaud, banco suíço centenário que mantém fundos no Brasil que somam US$ 2,5 bilhões sob gestão.
Em entrevista ao Money Times, Pedro Vianna, diretor de distribuição da gestora, afirma que a casa até elevou a exposição em renda variável neste ano, mas vê a posição mais tática do que estrutural.
“Vemos ciclos, e não tendências, na bolsa brasileira. Se Warren Buffett fosse brasileiro, provavelmente não teria acumulado o patrimônio que construiu nos EUA. Aqui, os ciclos de alta e baixa são muito mais intensos. Por isso, preferimos atuar taticamente”.
Segundo o estrategista, não dá para afirmar que “o Brasil está se organizando, as empresas vão crescer e entregar números melhores, e por isso a bolsa está subindo”.
“O que estamos vendo é um movimento global, impulsionado por rotação setorial iniciada com as decisões do governo Trump e pela desvalorização do dólar, que favoreceu outros mercados emergentes”.
Ele lembra que outros países da região viram suas bolsas dispararem. No México, a alta é de 25%, enquanto a da Colômbia sobe 40%, segundo dados do Investing. Em dólar, o Ibovespa também acumula ganhos de 40%.
2026: dá para esperar mais?
Mesmo com casas mais otimistas projetando novas altas para 2026 — caso do Morgan Stanley, que enxerga o IBOV em 200 mil pontos —, a gestora suíça mantém uma tese mais cautelosa.
Sem reformas estruturais e um cenário fiscal mais sólido, o índice não terá fôlego para continuar subindo, acredita o Mirabaud. “Não é trivial imaginar uma segunda pernada de alta sem que o país faça minimamente o dever de casa”, destaca o gestor.
Há ainda outro componente que deve entrar no radar dos investidores: as eleições presidenciais de 2026.
Alguns analistas veem a vitória de um candidato mais alinhado ao mercado como um belo gatilho. O desafio é estimar as chances desse candidato vencer.
“É difícil prever qualquer cenário em eleição presidencial no Brasil. O país já viu de tudo — de queda de avião a facada —, o que torna qualquer previsão extremamente desafiadora”.
Vianna complementa: “Preferimos adotar uma postura mais conservadora e pragmática”.
Renda fixa ainda brilha
A renda fixa segue sendo o carro-chefe da gestora em meio a juros persistentemente altos. Para a casa, mesmo que os juros comecem a cair, a queda não será acentuada. “Ainda há riscos destacados pelo BC nas últimas atas”.
Nesse campo, o gestor cita as NTN-Bs, títulos atrelados à inflação:
“Os juros reais seguem muito elevados, em torno de 8% ao ano, dependendo do prazo. Ao longo de 2025, aumentamos a exposição em vértices de até quatro anos. Agora, começamos a alongar um pouco esses vencimentos, acreditando que uma eventual queda de juros pode nos beneficiar com duration maior”.
Isso não elimina, por outro lado, a atratividade dos títulos pós-fixados, já que a gestora não vê juros abaixo de dois dígitos.
“A famosa linha d’água do investidor brasileiro — 1% ao mês — deve ficar abaixo disso, mas ainda projetamos algo próximo de 10% ao ano. Para cair além disso, seria necessária uma virada muito relevante na política econômica e fiscal”.
Empresas de tecnologia: sem medo da correção
O recente terremoto que atingiu as big techs também não abalou a visão da gestora para as empresas, que estão entre as principais apostas da casa.
Entre 29 de outubro e 20 de novembro, as sete magníficas (Big Techs) chegaram a perder US$ 1,75 trilhão em valor de mercado — o equivalente a duas B3 (B3SA3) —, segundo levantamento da consultoria Elos Ayta.
Parte dessa queda decorre da especulação sobre uma possível bolha, já que as ações negociam a múltiplos elevados, enquanto os investimentos em inteligência artificial crescem a cada trimestre.
“Os múltiplos estão mais altos, sim, mas ainda vemos espaço para expansão tecnológica, novas aplicações e ganho de escala. Por isso, não vemos um processo de bolha neste momento”.
Para Vianna, apesar de alguns paralelos com a bolha da internet de 2000, não se trata do mesmo ambiente.
“Hoje as empresas são maiores, têm muito caixa e conseguem suportar ciclos adversos. E, ao contrário da bolha ponto.com, o crescimento projetado tem se concretizado. A geração de caixa é a grande diferença”.