Coluna do João Piccioni

Por que vale estar otimista com a economia americana agora

07 fev 2024, 9:24 - atualizado em 07 fev 2024, 9:32
PL das Fake News, big techs
(Imagem: Unsplash/Szabo Viktor)

Muita água já passou por baixo da ponte este ano, e ainda estamos na segunda semana de fevereiro. Até o momento, os ativos de risco caminharam dentro do esperado. O pulso de liquidez nos mercados segurou o aumento das taxas de juros e a renda variável nos EUA continuou em rota ascendente.

Os países emergentes têm sido preteridos neste começo de ano. Em parte, porque a leitura do cenário macroeconômico aponta para uma resiliência incomum da economia americana, que deve sustentar o dólar em níveis mais elevados. Em parte, porque a liquidez tende a caminhar para onde as taxas de crescimento ainda são elevadas ou para onde os lucros vão superar as estimativas de mercado. E o caminho, mais uma vez, parece bem claro: as empresas de tecnologia se manterão alguns palmos à frente nessa corrida.

Assim como na última década, as empresas na fronteira da tecnologia conseguiram abrir novos horizontes de investimento. O suporte para o desenvolvimento da indústria da inteligência artificial tem se mostrado clara. Os números divulgados pelas Big Techs na semana passada deram uma boa sinalização do tamanho dos investimentos que precisam ser feitos na infraestrutura básica, servidores, endpoints, etc. Diferentemente do boom da internet na década de 90, a potência do salto exponencial deste momento é maior, dada a facilidade de disseminação do conhecimento atual. Com isso, todo o aparato projetado para atender as demandas da década passada precisará ser revisto.

Com a inserção da Inteligência Artificial no dia a dia das pessoas, os servidores precisarão rodar a pleno vapor, comandando treinamentos maciços dos modelos de LLM e as inferências dos dados gerados. Além do suprimento de GPUs, as plataformas precisarão cada vez mais do investimento em infraestrutura física – energia, comunicações, espaços físicos – e em novos tipos de serviços, voltados para mitigação dos riscos operacionais.  Neste primeiro momento, as Big Techs saem na frente, por disporem de bolsos profundos, excelente capacidade técnica e amplo alcance dos seus produtos. O segundo passo, entretanto, deverá ser daquelas empresas que conseguirem navegar bem nesse novo ambiente e serem capazes de lançar produtos inovadores, tanto para o varejo quanto no mundo do B2B.

Particularmente, estou animado. E não só com o segmento de tecnologia. O desenho macroeconômico, por ora, vai se desenrolando conforme nosso cenário, divulgado no Outlook 2024. É verdade que a economia americana vai se mostrando bem mais firme do que o esperado, o que deve postergar o início do ciclo de afrouxamento monetário. Mas por outro lado, acumula um maior grau de confiabilidade de que a economia ainda será capaz de gerar lucros em excesso aos acionistas. Se o processo desinflacionário seguir em curso, as chances dos “goldilocks” aumentam substancialmente e o caminho para os ativos de risco ficará livre.

Minha leitura é que lá fora, os investidores vão se cansar desse discurso de precaução de Jerome Powell e vão passar a olhar mais para o status da economia americana e para os resultados das empresas. Por ora, diante do que foi visto nessa temporada de resultados, as expectativas microeconômicas se mostram bastante positivas. Os riscos de cauda vão aos poucos caminhando para as pontas e ficando cada vez menos prováveis, reduzindo a volatilidade das ações e “trazendo” mais investidores para os ativos de risco que, por sua vez, se digladiam por um espectro cada vez menor de excelentes empresas negociadas por preços razoáveis. 

Aliás, este é um dos motivos pelos quais as ações das grandes companhias sobem lá fora: há muito dinheiro disponível para poucos excelentes negócios. No passado, essa dinâmica era diferente pois os recursos eram escassos e o número de boas empresas era elevado, o que inibia a existência de prêmios muito elevados. A exceção veio no estouro da bolha da Nasdaq em 2001-02, mas essa história vou guardar para outro dia.

Por aqui, iniciou-se a temporada de resultados. Para variar, BTG Pactual e o Banco Itaú entregaram excelentes números. De fato, são a nata do mundo corporativo brasileiro e seus trabalhos sólidos em 2023 foram coroados com as fortes altas das ações. O lado macroeconômico é que ainda incomoda os investidores locais, que não se sentem à vontade para comprar Bolsa brasileira. Do meu ponto de vista, este sentimento vai mudar e a hora agora é de aproveitar as ofertas enquanto elas ainda estão na tela. Muito em breve esse desconto excessivo vai sumir do mapa. É questão de tempo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Como andam os mercados em fevereiro e os ajustes nas carteiras

O mês de fevereiro começou positivo para as bolsas lá de fora. Os primeiros pregões levaram o S&P 500 para os 4.950 pontos, enquanto o Nasdaq avançou quase 3%. O bom desempenho das ações do Meta, que avançaram mais de 20% após a divulgação de resultados, e da Amazon foram suficientes para despertar o espírito animal dos investidores. A tomada de risco, aos poucos, vai ficando mais clara para os investidores.

Por aqui, o Ibovespa não conseguiu engrenar e permanece abaixo dos 130 mil pontos. Entretanto, as ações da Petrobras têm sido o destaque, com valorização de 13% até ontem. A gestão de Jean Paul Prates tem surpreendido positivamente os investidores, que veem na empresa uma das melhores formas para se expor ao mercado de petróleo no momento. Eu concordo com essa visão e, por isso, ao longo dos últimos pregões, aumentamos a participação da estatal no Empiricus Deep Value Brasil FIA. A questão é que o governo precisa de uma Petrobras eficiente e rentável se quiser fazer com que suas políticas públicas tenham a mínima chance de dar certo. A margem de tolerância para erros, dessa vez, é muito apertada.

Em termos de gestão, ainda carregamos um nível razoável de caixa nos fundos de renda variável. Em especial nos fundos focados nos mercados internacionais, os ganhos dos últimos três meses foram substanciais e, apesar de otimista com o cenário, seria razoável esperarmos algum tipo de realização de lucros. Tenho comigo que a janela de oportunidades para realocarmos esses recursos vão aparecer em breve, ao final da temporada de resultados, que vai coincidir com a próxima reunião do Federal Reserve. Até lá vamos aproveitar os bons ventos e continuar a busca por novas teses de investimento nos fundos.

Forte abraço,

João Piccioni

PS1. Nesta quarta (7), divulgaremos a segunda carta trimestral do fundo Empiricus Tech Select FIA. Para recebê-la em seu e-mail, inscreva-se ao final desta página. Nessa carta, abordaremos um pouco da história da tecnologia, questões envolvendo a Inteligência Artificial, as decisões de gestão e breves comentários sobre as teses de investimentos presentes na Carteira. Não deixe de ler!

joao.piccioni@moneytimes.com.br