Por que Lula discursa antes de Donald Trump na Assembleia Geral da ONU?

A partir de amanhã (23), começa mais uma Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), evento anual que reúne líderes mundiais para debater temas globais. Como tradição, o Brasil deve ser o primeiro país a discursar, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falando às 10h, seguido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Mas por que o Brasil sempre abre os debates, mesmo diante de grandes potências?
Não existe uma explicação oficial definitiva, mas três principais teorias circulam para justificar essa ordem histórica.
1. O “prêmio de consolação”
Uma das hipóteses é que o Brasil ganhou o direito de abrir a Assembleia Geral como uma espécie de “compensação” por não integrar, de maneira fixa, o seleto Conselho de Segurança da ONU — órgão que tem cinco membros permanentes com poder de veto (Estados Unidos, França, Rússia, China e Reino Unido) e outros dez membros rotativos.
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Quando as cadeiras permanentes foram definidas em 1945, o Brasil foi barrado por líderes como Winston Churchill e Josef Stalin, apesar da sua influência regional. Para reconhecer sua participação e importância, foi concedida ao país a prerrogativa de abrir os debates da Assembleia Geral.
Vale dizer que o Brasil já participou por 11 vezes como membro rotativo no Conselho de Segurança, com sua mais recente participação em 2022 e 2023.
2. Brasil como país neutro entre EUA e União Soviética
No início da Guerra Fria, o Brasil foi visto como um país neutro entre os Estados Unidos e a União Soviética. Essa posição teria sido um fator para que o país ganhasse a missão de abrir as sessões, evitando tensões e simbolizando um terreno de diálogo inicial.
3. Brasil foi voluntário nos primeiros anos da ONU
A teoria mais aceita é que, nas primeiras Assembleias Gerais da ONU, nenhum país queria assumir o “dever” de abrir os debates. O Brasil, então, se voluntariou para essa tarefa em 1949, 1950 e 1951.
Em 1955, a organização oficializou essa prática, definindo que o Brasil sempre começaria os discursos.
“Em tempos muito antigos, quando ninguém queria falar primeiro, o Brasil sempre se oferecia para falar primeiro. E assim ganhou o direito de abrir a Assembleia Geral”, explicou Desmond Parker, chefe de protocolo da ONU, em entrevista à rádio norte-americana NPR em 2010.
O Brasil não abriu as oratórias apenas em 1983 e 1984, quando o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, tomou a frente.
Ordem dos oradores na Assembleia Geral da ONU
A lista tradicional de líderes na abertura da Assembleia Geral segue a seguinte ordem:
- Antonio Guterres, secretário-geral da ONU.
- Annalena Baerbock, presidente da Assembleia Geral e ex-ministra das Relações Exteriores da Alemanha.
- Brasil.
- Estados Unidos, país anfitrião.
Após esses discursos, os demais participantes falam conforme hierarquia, posição política e ordem de chegada.