Coluna do Fernando Luiz

Por que os fundos multimercados de baixo risco são porto seguro em cenário mundial de aversão

24 abr 2023, 14:48 - atualizado em 24 abr 2023, 14:48
Ibovespa, ações,
Volatilidade da bolsa, crise de crédito  e cenário internacional complexo tornam fundos multimercados de baixo risco mais atraentes aos investidores (Imagem: REUTERS/Amanda Perobelli)

Por Fernando Camargo Luiz*

A alocação em fundos do mercado monetário dos Estados Unidos nunca foi tão alta desde o início da pandemia da covid-19. E não é à toa.

Estes fundos se tornam aplicações populares em tempos de elevado risco e, no momento, estão oferecendo rendimentos mais atraentes do que a maioria das opções de gerenciamento de caixa. Entre elas, certificados de depósito (CDs), oferecidos pelos bancos. Ainda mais diante das últimas altas de juros pelo Federal Reserve.

Isso porque o cenário internacional está repleto de riscos. Desde o conflito entre a Rússia e a Ucrânia a uma recessão na maior economia do mundo.

Foi o que apontou a última ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed. O documento destacou que, apesar de alguns integrantes defenderem que já é hora de pausar as sucessivas altas de juros por causa da crise no sistema financeiro dos EUA, a opção foi por um novo aumento em março diante da inflação elevada e acima da meta.

As projeções da ata ainda dão conta de que 2023 será marcado por uma leve recessão dos EUA e que a crise no setor bancário regional deve resultar em crédito mais escasso, com impactos sobre a economia real, ainda que a magnitude do efeito seja incerta.

Os riscos

Dados do relatório da Emerging Portfolio Fund Research (EPFR Global) demonstram que, os fundos do mercado monetário dos EUA rastreados pelo EPFR absorveram mais de US$ 367 bilhões em março, em meio ao colapso do Silicon Valley Bank (SVB) que causou a queda do mercado de ações e colocou em xeque a segurança dos depósitos bancários. Na Europa, os investidores colocaram 17,7 bilhões de euros (US$ 19,35 bilhões) em fundos do mercado monetário denominados em euros no mês, segundo a Refinitiv Lipper, quando a crise do Credit Suisse abalou os mercados globais.

Todo este conservadorismo do mercado internacional demonstra um fato: há uma crise de confiança que torna muito mais complicado encontrar onde alocar os recursos no momento. Neste sentido, a preferência é por aplicações de baixo risco e elevada liquidez. No Brasil, as perspectivas não são diferentes.

As oportunidades

Com isso, os multimercados de baixo risco, também denominados de fundos de caixa, têm sido vistos como o porto seguro para os recursos que precisam de liquidez, como as reservas de emergência ou para a alocação de caixa momentâneo à espera do ponto de entrada em outros ativos como ações.

Tais tipos de fundo têm crescido diariamente em termos de patrimônio líquido, enquanto outras categorias vêm registrando resgates líquidos. Os fundos de caixa brasileiros têm uma composição diferente dos fundos do mercado monetário americano (MMF).

Enquanto lá, os MMFs investem em produtos de dívida de curto prazo altamente líquidos, como os emitidos por governos ou empresas com rating elevado; aqui o risco de crédito privado é eliminado. Isso ocorre mesmo quando se trata de grandes companhias que exibem baixíssimo risco.

Basta lembrar que a Americanas antes do escândalo exibia rating de crédito nacional AA+, o que significa “qualidade de crédito muito alta”. Daí fica fácil entender o porquê de o gestor abrir mão deste tipo de ativo.

Diante da volatilidade da bolsa, crise de crédito no Brasil e do cenário internacional complexo, isso sem falar da questão fiscal ainda controversa, os fundos multimercados de baixo risco, que exibem baixa volatilidade e liquidez praticamente imediata (D+2), têm registrado forte crescimento nestes três primeiros meses do ano.

A opção nos mercados

Dados da pesquisa SmartBrain demonstra que a alocação em produtos mais arrojados caiu. A SmartBrain processa diariamente mais de 340 mil extratos de investimentos, somando mais de R$ 250 bilhões de patrimônio analisados.

O levantamento traz ainda que, dentre os fundos multimercados favoritos dos mais ricos, na primeira posição está um fundo de caixa. Trata-se de uma opção com a finalidade de prover uma opção segura e previsível de investimento.

Além disso, tais aplicações oferecem retorno melhor do que as opções de mercado atuais, que travam o resgate dos cotistas por um prazo ou, quando possuem liquidez, não entregam o mesmo retorno. São, portanto, um porto seguro para os investidores e é por isso que a demanda tende a ser crescente.

Sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos
Com experiência de mais de 20 anos no mercado financeiro, Fernando Camargo Luiz é sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos. É engenheiro formado pelo Mackenzie, com especialização em Value Investing pela Columbia Business School e gestão pela Harvard Business School.
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Com experiência de mais de 20 anos no mercado financeiro, Fernando Camargo Luiz é sócio fundador e gestor da Trópico Investimentos. É engenheiro formado pelo Mackenzie, com especialização em Value Investing pela Columbia Business School e gestão pela Harvard Business School.
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